CAPÍTULO 4

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Pov Luiza

"Será que eu enlouqueci?" me pergunto em pensamento.

Enquanto involuntariamente encaro a mulher desconhecida do bar, bebendo outro drink. Não consigo dizer o motivo que me levou a chamá-la para se sentar em uma das mesas da parte menos iluminada do bar do Joe. Não consigo dizer o motivo que me leva a estar tão próxima dela a ponto de poder ouvir a sua respiração quando ficamos em silêncio. Também não consigo dizer por que vez ou outra me pego olhando praticamente secando os seus lábios.

— Não vai beber? — Ela pergunta sorrindo. Me tirando do transe em que eu me encontrava. — Já chegou ao seu limite?

— Não. Eu só estou começando. — Respondo e volto a minha atenção para o meu terceiro copo de whisky totalmente cheio. E bebo um novo gole.

— Posso perguntar algo? — a mulher pergunta, porém não espera a minha resposta. Apenas segue falando. — Sei que disse que essa noite poderíamos ser quem quiséssemos, já que não nos conhecemos. Você não me pergunta sobre a minha vida real e eu não te pergunto sobre a sua vida real. Mas a curiosidade está sendo maior que eu. Você é atriz?

— O quê? — Instantaneamente reajo. E solto uma risada espontânea.

— Você é uma atriz famosa? — Ela repete a pergunta. — Porque eu tenho a impressão que já te vi em um filme no cinema.

— Não, não sou atriz. — Respondo. Ela sorri meio sem graça. Sem desviar os seus olhos de mim.

— Bom deve ser apenas loucura da minha cabeça. — Ela fala.

— Acho que não na verdade dizem que eu tenho um rosto muito comum. Então poderia ser alguém parecido comigo. — Digo e bebo outro gole.

— Comum? — Ela se aproxima ainda mais, leva a mão ao meu cabelo e o coloca gentilmente atrás da minha orelha. — Olhos como esses? Uma boca como essa? Eu acho que não. Não a nada de comum em você. — Sussurra em meu ouvido.

Sinto um arrepio percorrer meu corpo todo.

— Posso fazer uma pergunta? — Tento quebrar o clima. — Já que você descumpriu o nosso combinado. Eu também tenho esse direito.

Ela se afasta um pouco. Sem desviar os olhos de mim. Nem mesmo para beber a sua bebida.

— Claro. — A mulher responde.

— O que trouxe você para Nova York? Passeio? Trabalho? Romance? — tento satisfazer minimamente a minha curiosidade. Sem ultrapassar muito os limites que estabelecemos.

A verdade é que estou gostando muito de beber com uma mulher desconhecida, de ser uma mulher desconhecida para ela.

— Trabalho. — Ela responde, porém sua expressão não é tão animada.

— Não gosta do que faz? — Sigo questionando.

— Na verdade não. — Ela desvia o olhar pela primeira vez em muito tempo. E bebe o restante do seu drink. — Mas quer saber de uma coisa boa? — Balanço a cabeça respondendo de forma positiva. — Essa é a minha última vez. Meu último trabalho nessa área.

— Então veio ao bar para comemorar isso? — Pergunto. Sem a intenção de ouvir uma resposta. Apenas para constatar um fato. — Não parecia muito animada.

— Não vim comemorar. Não estava com vontade disso. Na realidade os planos para noite eram beber, beber e beber mais um pouco. Sozinha com meus pensamentos. Até que você apareceu. — Ela fala e coloca a mão em minha coxa embaixo da mesa. — Então meus planos mudaram.

— E quais são os seus planos agora? — Pergunto, encarando-a.

— Depende. — Ela morde o lábio inferior.

Em outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora