CAPÍTULO 15

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Pov Valentina

Levei quase duas horas para voltar ao hotel, esperando pelo trem e depois de táxi da estação até esse bairro. E andando até aqui. Vindo de carro com Luiza teria sido mais rápido, porém como eu explicaria isso para Nick caso ele visse algo.

Quando entro no quarto sou surpreendida, Nick me joga na parede e coloca o seu braço esquerdo no meu pescoço, apertando um pouco. O suficiente para que eu não consiga me mexer sem que minha traqueia seja esmagada.

— Que merda você está fazendo? — Falo com dificuldade.

— Eu que deveria te perguntar isso, te vi hoje mais cedo passeando de carro com o seu alvo e te segui até Jersey. Então me fala Valentina, o que está aprontando? — Ele é rude. Como quase nunca é. Ao menos não comigo.

— Está aqui a trabalho não está Nick? Não para me ajudar, eu sou seu alvo. Deveria ter desconfiado desde o princípio.

— Deixou Charles muito irritado, irritado o suficiente para ele querer te dar uma morte dolorosa e lenta.

— Então você aceitou porque gosta de mim? — Questiono.

— Aceitei porque jamais te deixaria sofrer. — Seu tom é sincero. — O que você fez Valentina?

— Tentei matá-lo. — Digo sem remorso algum, como se isso não fosse nada. Afinal, não é mesmo. Eu mataria Charles agora se ele tivesse ao meu alcance.

— O quê?

— Ele matou meus pais Nick, o que acha que eu deveria fazer? — Uma lágrima escorre pelo meu rosto, uma lágrima cheia de raiva.

Nick me solta e eu me sento no chão ali mesmo. Tossindo um pouco e recuperando o meu ar. Ele se senta também ao meu lado. Incrédulo.

— O que você faria? — Pergunto quando já estou recuperada.

O homem fica em silêncio por alguns minutos, provavelmente pensando. Tentando acreditar no que acabei de dizer. Afinal, Charles é um líder ganancioso, mas que promete a cada um dos seus "funcionários" proteção e gratidão por cada trabalho executado. Esse é quase o seu discurso de apresentação, antes de nos entregar o nosso primeiro alvo.

— Como descobriu isso? — Ele pergunta. Permaneço olhando para frente, porém sinto seu olhar sobre mim.

— Lembra do Marcelo? O polonês?

Ele já estava na organização quando entramos. Antes de se tornar um assassino de aluguel ele costumava participar de assaltos a bancos, ameaçando suas vítimas com facas. Marcelo sempre gostou de contar suas histórias e mostrar para todas suas cicatrizes com orgulho.

— É claro.

— Ele morreu, semana passada. Parece que tinha câncer nos ossos, o tratamento seria difícil então ele decidiu que não valia a pena. E tirou a própria vida. — Respiro fundo, me lembrando exatamente do meu último encontro com o homem de 58 anos. — Ele me procurou dois dias antes de fazer isso e me contou que ele... — minha voz falha. Respiro fundo. — Foi ele quem matou meus pais, a mando de Charles.

— Por quê? Por que Charles faria isso?

— Você não entende? Esse não é um trabalho normal em que você pode sair, pedir demissão e ir embora. Para Charles somos ameaças quando decidimos fazer isso. Ameaças ao seu império. Porque sabemos de muita coisa, sabemos sobre o seu dinheiro, sabemos sobre os seus clientes. Somos evidência e testemunhas de crimes Nick. Por isso Charles encomendou a morte deles. Meu pai sabia demais e a minha mãe morreu por precaução, ele não sabia o que meu pai havia dito a ela, então não podia deixar ela viva. Eu sobrevivi porque acredite se quiser Marcelo teve um momento de humanidade e decidiu me poupar. Charles acreditava que eu não era uma ameaça e teve ainda mais certeza quando o procurei para me tornar uma assassina de aluguel. Eu estive trabalhando esses anos todos para o homem que eu queria matar, então sim, ameacei acabar com a vida daquele monstro covarde. — Conto absolutamente tudo, como um desabafo. É bom tirar a venda dos olhos de Nick e fazê-lo enxergar quem é Charles de verdade. — E teria feito isso se ele estivesse sozinho naquele cemitério.

— Caramba Valentina, deveria ter me contado isso assim que descobriu.

— E o que você poderia fazer? — Questiono sem esperar uma resposta. — Eu aceitei esse trabalho para ganhar tempo de planejar uma fuga, sempre soube que Charles mandaria alguém atrás de mim, só não esperava que fosse ser você.

— Eu me ofereci para o trabalho. — Ele fala e eu o encaro arqueando naturalmente a minha sobrancelha. — Você já sabe os meus motivos.

— Eu sei. — Dou uma pequena risada para evitar um clima e aproveito para usar um pouco do meu humor duvidoso. — Aliás, como você faria?

— Como eu faria? — O homem me encara confuso.

— Como me mataria? — Questiono.

Nick revira os olhos como quem diz que não vai responder essa pergunta. O que me faz rir um pouco mais.

— Sobre o seu plano, onde Luiza Adams se encaixa nele?

— O que quer dizer?

— Eu vi vocês passeando como amigas. Aceitou o trabalho para ter tempo para desaparecer, isso eu entendi. E ao que me parece não vai matá-la. Só não entendo vocês andando por aí juntas.

— Eu conheci a Luiza antes de saber que ela era o alvo, conheci intimamente se é que me entende. — Um flash da primeira vez que nos vimos passa pelos meus olhos, o que me faz involuntariamente sorrir. — Eu gosto dela. E sei que mesmo que eu não faça o trabalho, Charles vai mandar outra pessoa para machucá-la, então eu tenho um plano, nós temos um plano, para garantir a sua sobrevivência.

— Você gosta dela? Uau, acho que é a primeira vez que te escuto falar assim de alguém. — Ele me zoa. — É o seu primeiro amor? Isso é muito legal.

— Cala a boca. — Falo, ele ri sem tirar os olhos de mim. — Cala a boca.

Espero Nick parar com o seu momento de zoação. Afinal, já zuei com ele sempre que tive a chance.

— Vai me ajudar com o plano? — pergunto dessa vez seriamente.

Nick segura a minha mão.

— Com isso e com o que mais precisar Valentina. Sempre.

Em outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora