CAPÍTULO 1

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Pov Valentina

Eu seria qualquer outra pessoa se pudesse e eu faria qualquer outra coisa se eu não tivesse sido preparada a minha vida toda para fazer isso, para ser assim. Eu queria não ser uma boa lutadora, queria nunca ter segurado uma arma em minhas mãos e nunca ter descoberto o quão fácil é se desligar do remorso de apertar o gatilho acabando com a vida de alguém. Queria não ter uma lista de mortos em minha conta. Eu realmente queria...

— Eu poderia ter sido professora, astronauta, bailarina, atriz e até jogadora de tênis. Mas ao invés disso sou uma assassina de aluguel. Muito bem paga pelo meu trabalho, não posso reclamar disso. Porém eu gostaria de ser qualquer outra coisa, pai. Por que me treinou para ser ruim? Eu queria ter sido boa. — Despejo todos os meus sentimentos em palavras enquanto algumas lágrimas escorrem pelo rosto. Encaro a lápide dele. Meu pai, meu grande herói e meu maior vilão.

— A linha entre o bem e o mal é extremamente tênue meu doce anjo da morte.

Me viro rapidamente ao ouvir a voz tão familiar do meu poderoso chefe. Futuro ex-chefe, se depender de mim. Charles Bianchi, é um homem alto, magro que utiliza um corte de cabelo curto e grisalho desde que o conheci. Não faço a mínima ideia de quantos anos ele realmente tem, porém, aposto que já está na casa dos sessenta. Sua figura é elegante e sombria ao mesmo tempo, ele está sempre vestindo terno com cores escuras e nunca anda armado, diferente dos seus “funcionários”.

Assim que o vejo retiro a minha arma da cintura e a seguro em minha mão direita firmemente. Esperando que ele faça qualquer coisa para atirar.

— Por que está aqui? —  Questiono em um tom baixo para não chamar a atenção do guarda do cemitério ou de qualquer pessoa que ainda possa estar por aqui, apesar do horário já avançado. —  Não deveria estar aqui.

— Vim visitar um velho amigo e sua esposa, assim como você. Até trouxe flores. — O homem fala e eu noto duas rosas vermelhas em sua mão.

Ele se aproxima de mim a passos lentos sem parecer temer a arma em minha mão. Apesar de notar que estou segurando-a, ainda apontada para baixo. Charles passa por mim e se baixa colocando uma flor em cada lápide e fazendo o sinal da cruz. Parece começar a rezar em seu idioma natal, o italiano. Sinto o meu sangue ferver por dentro. Uma raiva tão forte que eu nunca havia experimentado antes, em nenhum dos meus 31 anos de vida.

— Não, Não. —  Repito e finalmente levanto a minha mão apontando a arma bem para o seu rosto.— Você não tem o direito de rezar por eles, você os colocou aí.

Ele se levanta devagar e segue tão frio como sempre foi. Não teme a arma em minha mão. Não teme o meu dedo no gatilho. Nem a fúria que sabe que eu sinto agora. Charles é o homem mais arrogante que eu conheço, incapaz de implorar pela sua vida. Incapaz de se desculpar ou dizer que sente muito por tudo o que fez. Ele apenas acredita que ninguém nunca terá coragem suficiente para matá-lo. Ao invés de dizer algo para me fazer baixar a arma, ele solta uma risada seca e forçada. Como se não sentisse que sua vida está em minhas mãos agora. Apenas um tiro, só um tiro e fim.

— Eu não tive escolha querida. Faz parte dos negócios e o seu pai sabia disso. — Ele fala friamente. —  Assim como você também sabe disso. E cá entre nós, sabemos que você não vai atirar em mim.

Sua convicção me deixa com ainda mais raiva.

— Sua vida está nas minhas mãos agora e você não parece se importar. Me conhece por tempo suficiente para saber que eu nunca erro os meus alvos. Então saiba que você vai morrer hoje Senhor Bianchi. —  Respondo à altura com a mesma frieza dele. Minhas mãos nunca estiveram tão firmes em minha arma e não sinto nenhum tipo de hesitação. Uma bala na cabeça, ou um tiro direto no coração é só o que eu preciso decidir.

Em outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora