CAPÍTULO 19

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Pov Valentina

Ouvir a voz de Luiza e dizer a ela como me sentia era tudo o que eu precisava. Já que não faço a menor ideia de como esse dia vai terminar. Marquei um encontro com Charles no cemitério onde meus pais estão enterrados. Ao invés de fugir e me esconder decidi que preciso acertar as contas com ele. Me sento de frente as lápides deles e espero, e espero, e espero por algumas horas.

— O que foi que você fez, Valentina? — Charles questiona com um tom irritado. Ele está bravo porque matei Bernardo. O que o impediu de receber a metade do pagamento, além de espalhar uma fama ruim, de que um dos seus associados errou o alvo.

Me levanto calmamente e me viro ficando frente a frente com ele.

— Foi mal, eu cometi um engano. — Digo e dou de ombros, o que claramente o deixa ainda mais nervoso.

— Você cometeu um engano ainda maior quando escolheu não fugir. Grave erro. — Ele afirma com convicção.

— Fugir? Para onde eu iria? Onde você não me encontraria? Sou uma mulher realista Senhor Bianchi, sei que não me deixaria simplesmente viver em paz. Até Nick você contratou para me matar.

— O segundo melhor, para a minha melhor. Deveria se sentir lisonjeada.

— E você deveria saber que ele não me mataria.

— Outro grande erro, vou me encarregar pessoalmente para que ele saiba disso. Para que ele saiba que esse sentimentalismo barato foi o que causou a morte de vocês dois. Você por um desejo de vingança estúpido e ele por ser leal a outra pessoa e não a mim.

O homem apenas levanta a mão direita e uma luz vermelha surge em meu peito. Estou na mira de um de meus colegas. E nem tremo com isso.

— Dessa vez, não vai tentar me ameaçar? Não vai tentar me levar com você para o outro lado? — Charles questiona desconfiado.

— Não estou armada — respondo e estou sendo sincera. — Não preciso disso, você vai para o inferno logo, logo. — Levanto a minha mão direita e faço sinal com dedo apontando para o peito de Charles. Três luzes surgem no lugar em que apontei.

— O que é isso? — o homem reage confuso, sorrio com a cena.

— Todos sabem o que fez. — A luz do meu peito some e surge nele também. — Todos sabem agora que na realidade, não somos seus associados, somos prisioneiros matando cegamente por um homem que não pensa duas vezes antes de transformar pessoas que sim, foram leais a você. Em alvos. Ninguém gostou de saber disso.

— Está blefando comigo. — Charles parece inquieto, é a primeira vez que o vejo assim em todos esses anos.

— Acabou pra você Charles. Acabou, não vai sair daqui com vida. — Chego bem perto dele, para sussurrar em seu ouvido. — E quer saber o mais triste? Ninguém vai chorar a sua morte. Ninguém vai reclamar o seu corpo. O seu dinheiro não vai importar e será enterrado como indigente. Não haverá uma flor sequer em seu túmulo.

Dou um passo para trás e o observo forçar um sorriso. Para mostrar que isso não o atinge. Que ele não se importa.

— Sabe Valentina, no fundo eu tinha uma intuição sobre você e foi por isso que eu te chamei de anjo da morte aliás, não por ser boa no que faz. E sim, porque eu sabia que você seria a responsável pela minha morte. Eu soube no momento em que olhei no fundo dos olhos daquela menina, órfã e perdida. Eu sabia que não ia esquecer ou deixar tudo para lá. Então posso dizer que estou conformado com o meu destino. Conformado com o meu fim, eu não temo e nunca temi a morte.

— Bom pra você — sou ríspida.

— Espero que você também esteja conformada com o seu fim doce anjo.

Ouço um ruído alto e sinto uma dor forte na barriga, como se algo tivesse me atingido. Charles atirou em mim. Ele estava com uma arma dentro do bolso do seu sobretudo preto. Levo a minha mão direita até o local para tentar conter o sangramento. O homem também é alvejado por tiros e cai no chão.

— Valentina, Valentina. — Ouço Nick gritar o meu nome, enquanto corre em minha direção. Não consigo falar nada. A dor é insuportável, o sangue não para de jorrar do meu corpo. Quase sem forças consigo segurar em sua mão, olhar em seus olhos. Ele me ajuda a deitar no chão, a grama está molhada. — Fica comigo Valentina, não feche os olhos. Não feche os olhos. — Ele repete desesperado.

Sinto o metalizado gosto de sangue em minha boca. Solto a mão de Nick.

— Fica comigo Valentina, não feche os olhos.

"Estou tentando mais não consigo, é mais forte do que eu". Penso e de repente a dor parece desaparecer então abraço a escuridão, fechando os meus olhos.

— Valentina, ei Valentina. — A voz familiar faz uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Abro os olhos e lá está ele.

— Pai? — Sorrio ao vê-lo, apesar de me sentir confusa. Ele está exatamente igual a última vez que o vi. Minhas mãos tremem ao tocar seu rosto, ao sentir a sua barba desgrenhada por fazer. — Parece que não se passou um dia sequer, desde que nos vimos.

Ele ainda é um lindo homem branco, alto, de olhos castanhos e forte. Está usando a sua camiseta favorita de basebol e um boné.

— Vamos querida, a sua mãe já vai servir o jantar. — Ele fala com um tom sério. O momento das refeições sempre foi importante para mamãe, ela não gosta de atrasos e gosta de reunir a gente a mesa, para sempre comermos juntos.

Olho em volta e percebo que estou em uma fazenda. O céu está estranho, nublado.

— A mamãe está aqui? — pergunto emocionada.

— Sim, está lá dentro e vai brigar com a gente se não formos agora. — Ele segura em minha mão e tenta me puxar. Mas não consigo sair do lugar. — Amanhã você volta para montar o tempestade.

Ouço um relinchado de cavalo e me viro imediatamente.

— Tempestade. — Consigo tocar em sua crina, tão macia, tão cheirosa.

— Você não vem? — papai insiste.

— Valentina — Ouço a voz de Nick distante chamar meu nome.

— Já estou indo — Respondo e me viro para vê-lo, mas ele sumiu, a fazenda sumiu e então o tempestade some também.

— Valentina...

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