CAPÍTULO 10

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Pov Luiza

Meu marido quer me matar e eu dormi com a minha futura assassina. "Que loucura, essa merda daria um filme, a grande questão é como esse filme terminaria?" Como será que na vida real essa história vai terminar. Passei quase a noite toda em claro, pensando e pensando. Sentindo um misto de sentimentos que iam da raiva a tristeza, da tristeza a decepção. E de repente de volta para a raiva de novo. Já faz bastante tempo que eu percebi que ele não era mais o homem por quem me "apaixonei", mais nem nos meus piores pensamentos seria capaz de imaginar que ele faria algo assim. Nem nas nossas brigas ou conversas intensas pude ver em seus olhos o tamanho do seu ódio por mim. Afinal, só pode ser isso não é mesmo? Apenas alguém com muito ódio faria isso. Encomendar a minha morte. Desejar que a minha vida acabe de maneira covarde e cruel. Queria que isso tudo fosse um pesadelo. Queria acordar agora mesmo. Só não queria acreditar, só não queria que fosse verdade.

Bernardo ainda está na nossa casa dos Hamptons, confirmei isso logo cedo com uma ligação para lá. Então me vesti sobriamente com uma calça jeans, tênis e um sobretudo preto. Prendi meus cabelos em um coque e passei muita maquiagem para cobrir as olheiras por tem passado a noite acordada. Nos pés, uma sandália de salto preta. E sem muitas joias, além das pequenas pérolas em minhas orelhas e da pesada aliança de ouro no meu dedo. Preciso confrontá-lo, preciso olhar nos olhos dele e perguntar "Por que?". Vou de helicóptero até lá, rápido o suficiente para chegar a tempo do café da manhã.

Igor designou alguém da equipe de segurança para ser meu motorista e me proteger enquanto está fora vigiando aquela mulher. Carlos é o nome dele de acordo com o que está escrito em seu crachá.

— Bom dia Senhora. — O homem fala em um tom sério e abre a porta do carro para que eu entre.

— Bom dia, vamos até o heliporto na décima quinta avenida. De lá vamos voar para os hamptons, vou ficar apenas algumas horas e depois retornaremos para cá.

Explico assim que o homem entra no carro, coloca o cinto e segura no volante.

— Certo senhora. — Ele responde e saímos.

"Odeio que me chamem de senhora" faz com que eu me sinta uma velha de sessenta anos. Mas é um tratamento respeitoso dado a mim por muitas pessoas. Escuto essa palavra desde que fiz vinte anos, na época revirava os olhos e dizia "Apenas Luiza por favor". Agora apenas ignoro o meu incômodo, Luiza é usado só por pessoas próximas e conhecidas. No carro troco mensagens com Igor para perguntar como as coisas estão indo, ele me responde dizendo que a mulher está hospedada em um hotel bem precário em uma área perigosa da cidade e que não saiu de lá desde que entrou ontem à noite. Finalizo a conversa agradecendo ao homem por tudo. O que provavelmente foi uma péssima ideia, isso vai deixá-lo ainda mais preocupado.

Enquanto voamos tento pensar no que dizer, no que fazer, mas quando chego em casa minha mente vira uma tela branca e eu mal consigo dizer uma palavra nem para Lucy que me recebe na porta com toda atenção e carinho de sempre. Ela diz que o café está sendo servido e que Bernardo já deve estar descendo para comer. Então vou até a sala de jantar e me sento na cadeira da ponta da enorme mesa. Bebo um gole de suco de laranja e tento comer um pedaço de bolo, mas o garfo simplesmente paralisa no ar quando eu escuto a voz dele.

— Oi querida, não sabia que tinha voltado para cá. — Bernardo fala em um tom aparentemente animado. Respiro fundo para conseguir reagir.

— Vim, porque precisamos conversar. — Falo e coloco o garfo de volta em cima do prato, antes de levá-lo a minha boca. E aponto para a cadeira a minha direita como um pedido ou uma ordem para que o homem se sente ali.

Ele obedece e eu o observo agir naturalmente, colocando o guardanapo sobre o colo para não sujar o seu terno azul, perfeitamente esticado. Pede que o sirvam café, recusa o açúcar ou adoçante como quase sempre. As vezes ele até aceita, o que faz com que essa pergunta sempre seja feita. Pega uma torrada na mesa e coloca em seu prato. Pede que sirvam os seus ovos mexidos com queijo.

— Sobre o que quer falar? É algo muito importante. Ou é sobre o aquilo que discutimos ontem. — O homem pergunta sem tirar os olhos da quantidade de ovo que está sendo servida. — Está ótimo obrigado. — Ele fala assim que percebe que está satisfeito.

— Podem sair. — Eu falo levando o meu olhar para as duas funcionárias presentes ali. — Podemos nos servir a partir daqui.

Quando ficamos sozinho volto a encará-lo e observo comer sem nenhuma preocupação. Ele parece tão inofensivo olhando daqui. "Como esse homem foi capaz de contratar alguém para me matar?"

— Se é sobre ontem, eu pensei muito e tenho uma resposta para você. — Ele fala após beber o último gole de café que tinha em sua xícara.

— Diga.

— Eu quero, eu quero realmente ser pai daquele garoto. Quero como poucas coisas que quero na vida. — Ele coloca a sua mão sobre a minha e me olha nos olhos pela primeira vez hoje. O que faz com que eu não acredite em nenhuma palavra. Tudo o que ele diz soa como um discurso para a sua campanha.

— Não acho que seja uma boa ideia. — Puxo a minha mão. — Porque eu quero o divórcio.

— Como é? O que disse?

— Eu quero o divórcio. — Levo a minha mão até ele. E faço a melhor atuação possível, só para ver a sua reação. — Eu tentei, nós tentamos. Mas temos que admitir que isso não está mais funcionando. O nosso casamento acabou, e eu quero seguir em frente.

— Está apaixonada por outra pessoa? — Ele me encara com uma afeição séria.

— Não é sobre isso e você sabe.

— Tudo bem. Eu só peço que continue me apoiando até o fim das eleições.

— Eu sempre vou apoiar você. — Digo "Isso era uma verdade até um dia atrás, apesar de tudo".

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Até que ele abre um pequeno sorriso.

— Sinto muito. — Ele diz em um tom que parece sincero e a forma com que ele me olha me causa um arrepio. — Não queria que acabasse assim.

Seu telefone toca e o homem se levanta da mesa. Me dá um beijo na testa.

— Preciso ir.

E sai andando dali. Eu poderia tê-lo colocado contra a parede. Poderia questionar. Mas não foi preciso. Essa simples conversa bastou para que eu pudesse enxergar com clareza. "Merda Bernardo, merda". Pego o meu telefone e ligo para Igor.

L: Leve-a até o meu apartamento, em meia hora estarei lá. — Falo assim que о homem atende.

I: Vai me contar o que está acontecendo? — Igor questiona.

L: Você vai saber, assim que chegar lá.

Então desligo sem dar mais instruções.

Em outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora