CAPÍTULO 17

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Pov Luiza

— Valentina — a chamo antes que ela saia do quarto. E ela volta a sua atenção para mim. — Por favor não erre.

— Não se preocupe querida, eu nunca erro um alvo. NUNCA. — Sua confiança absoluta me acalma por hora. Mas ainda fica um frio no fundo da minha barriga.

Respiro fundo, passo o dia todo respirando fundo aliás. Agindo em modo automático com todas as pessoas. Conversando sem dar realmente alguma atenção para qualquer assunto. Pois a minha mente só está focada em uma coisa. No final desse dia, para todos eu estarei morta.

— Como estou? — Pergunto para Igor assim que entro na sala e o vejo sentado no sofá me esperando.

— Lindíssima. — Ele responde. E se levanta.

— Linda de morrer. — Brinco.

Estou usando um vestido preto, tomara que caia, com um discreto decote em V, que bate na altura dos meus joelhos. Cabelos bem lisos, sem nenhum fio fora do lugar, partido no meio. Uma maquiagem discreta e batom vermelho em minha boca. Minhas unhas das mãos foram pintadas com esmalte vinho. Argolas de ouro na orelha, minha aliança no dedo. E um bracelete fino de prata no pulso. Nada no pescoço, escolhi deixar o mesmo nu. Escolhi usar preto para poder colocar a bolsa de sangue por baixo do vestido, o tecido escuro vai impedir que ela seja notada por outros.

— Ainda dá tempo de desistir dessa maluquice. — O homem fala com um tom desesperado, se aproxima de mim e segura em minhas mãos. — Por favor Lu, por favor.

Seus olhos ficam vermelhos. "Igor vai mesmo chorar? Eu nunca vi isso acontecer em toda a minha vida, esse homem sempre foi uma rocha para mim". Sinto um nó na garganta por vê-lo desse jeito.

— Obrigada, obrigada por cuidar de mim, por se preocupar. — Lágrimas escorrem pelo meu rosto, ainda bem que a maquiagem é a prova d'água. — Você fez muito mais do que as suas obrigações de trabalho. Você foi como um irmão para mim, o irmão que eu perdi jovem demais.

Ele me abraça apertado. Me acolhendo, exatamente como fez no enterro dos meus pais. E eu consigo sentir a mesma coisa que aquela garotinha sentiu, a sensação de não estar sozinha.

— Foi uma honra, querida. Sou um homem de sorte. Seu pai um dia me pediu para cuidar de você, cuidar do seu tesouro mais precioso, da sua maior riqueza... — sua voz falha por causa da emoção.

Nos soltamos do abraço e eu o encaro.

— E você fez isso muito bem, missão cumprida. — Falo e seco as lágrimas do rosto dele com as minhas mãos.

— É a irmã que eu nunca tive. Então eu que agradeço por cada ano, por cada momento. Não quero te deixar ir. Não assim.

— Eu sei, eu sei. — Balanço a cabeça. Respiro fundo, enxugo as minhas lágrimas. — Mas agora é tarde para voltar atrás. Então chega de lágrimas e despedidas. Vamos logo, eu estou pronta para isso Igor. Eu estou pronta. — Afirmo.

"Eu com certeza não estou pronta, internamente, mais vou fingir que estou até acreditar".

*****

Igor combinou com Lisa para pegarmos Bernardo na sede da campanha e irmos juntos ao evento, que vai começar em trinta minutos, às seis da tarde. Devemos chegar lá, como o maravilhoso casal que estampa as revistas.

— Igor. — Chamo a sua atenção assim que estacionamos na porta do prédio. Ele se vira e me encara. — Eu sei que está com raiva, eu também estou, mais não pode deixar isso transparecer.

— Não se preocupe, Luiza. Eu não vou. Só vou socá-lo em meus pensamentos, eu juro. — O homem sorri sorrateiramente para mim. O que me faz soltar uma gargalhada. Desce do carro e se posiciona para abrir a porta do carro para Bernardo.

Em outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora