CAPÍTULO 11

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Pov Valentina

Eu deveria estar fugindo agora. Se decidi não realizar esse trabalho deveria já ter ido embora daqui. A essa altura Charles já colocou um alvo em minhas costas, o assassino ou assassina só deve estar esperando que eu conclua esse trabalho. Então que merda eu ainda estou fazendo em Nova York? Por que estou em uma academia de boxe, batendo em um saco de pancadas ao invés de estar mudando o meu visual para parecer com a foto do meu passaporte falso? Se eu estivesse bem, lúcida, já devia estar navegando para algum país frio e úmido, do jeito que eu sei Charles odeia. Duvido que o homem gaste recursos e dinheiro em uma caçada sem fim. Aposto que depois de dois meses ele já esqueceria da minha existência. É claro que se eu for embora nunca vou poder voltar de fato, nunca vou poder me vigar da morte dos meus pais. E eu odeio isso. Odeio saber que ele vai sair disso impune. Odeio que seu império e poder só vão crescer cada dia mais.

— Argh — Exclamo em tom alto e dou um soco ainda mais forte no saco a minha frente, o que chama atenção de algumas pessoas que também estão treinando no lugar.

— Assim vai se machucar princesa. — Um homem fala e eu volto a minha atenção para ele. Encarando-o de cima a baixo.

O homem tem braços bem grandes e canelas finas, está usando uma regata cinza com a frase "FORTE COMO O HULK" na frente, uma bermuda preta e tênis.

— Por que não cuida do seu treino, PRÍNCIPE? — Digo em um tom ríspido e irônico. Tão grosseira que até eu me assusto. — Sei bem o que estou fazendo.

— Se você diz. — Ele dá de ombros e se afasta.

Tudo o que quero é aliviar a minha raiva, tudo o que eu preciso é gastar as minhas energias. Preciso fazer algo para tirar Luiza da minha cabeça. Não a ver mais seria de grande ajuda, mas deixei a minha arma na casa dela. A minha arma pessoal, com as minhas digitais nela. Como eu pude esquecê-la assim. "Idiota" dou um soco forte no saco a minha frente. "Você se transformou numa idiota" outro soco. "Nunca fui tão descuidada em toda a minha carreira" outro soco. "Aquela mulher só pode ser uma bruxa, mexeu com a minha cabeça, mexeu com o meu coração. E vamos ser sinceros toda aquela beleza só pode ser algum tipo de magia". Sinto a minha mão doer e o meu braço também.

Mas continuo socando até a dor se tornar maior do que os meus pensamentos.

— Chega garota. — Um homem mais velho se aproxima e segura o saco me impedindo de continuar. — Vai se machucar.

Dou um passo para trás. Estico o meu braço até ele estralar.

— Eu estou bem. — Digo e me afasto. Caminho até o vestiário feminino. "Talvez, um pouco louca, mais bem"

Noto que o local está vazio. Essa academia é unissex mais por aqui tem claramente mais homens que mulheres, o que é um saco. O vestiário é minúsculo. Tudo o que tem aqui é um chuveiro, um espelho pequeno e seis armários numerados. As paredes são cinzas, o chão vermelho e a tranca da porta está quebrada. Só decidi ficar porque o lugar tinha luvas e sacos de pancadas o suficiente. Além de cobrar apenas 5 dólares por hora. E quando eu sair daqui ninguém vai se lembrar de mim. Para todos os presentes eu provavelmente sou apenas uma mulher inexperiente e raivosa. O que está longe de ser verdade, costumo treinar em uma academia de verdade. Só não costumo me machucar. Alongo o meu braço e tento esticar os meus dedos que estão bem vermelhos. Estive desatenta demais e sim, cometi alguns erros no treino. Se eles acreditarem que eu sou inexperiente nem posso reclamar. Por motivos óbvios não vou tomar banho nem me trocar aqui. O hotel onde eu estou é horrível, mas a trinca na porta funciona. Pego a minha bolsa de dentro da porta número 5. Pago pelas duas horas que fiquei aqui e vou embora.

São quase dez da manhã e as ruas estão incrivelmente movimentadas. Decidi não pedir um táxi, ou um carro de aluguel para evitar mais estresse do já tenho. Caminhar deveria ajudar a melhorar o humor. Talvez, isso só funcione em caminhadas em áreas florestais. Lugares cujo ar seja fresco. O que não é o caso aqui. Abro e fecho a mão para movimentar os meus dedos e não deixar que isso se torne algum tipo de lesão grave. Paro em frente a uma loja de cosméticos cuja vitrine me chama atenção. E pelo vidro vejo um homem me observando do outro lado da rua. Ele me parece familiar, porém posso afirmar com certeza que não é nenhum dos meus "colegas de firma". Acredito que conheço todos os assassinos de Charles.

Em outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora