Capítulo 11 - A fazenda

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Acordei exasperada. Ao olhar pela janela, constatei que o sol nascia. Levantei-me e risquei mais um dia no calendário. Era uma segunda-feira do mês de julho. Fui ao banheiro lavar o rosto, escovar os dentes e tirar o curativo. Ao olhar a ferida, me assustei com o quanto ela estava melhor. A pomada era realmente boa... Vesti-me e fui ao quarto de Nathan para aplicar a pomada e enfaixar.

Ao sair do seu quarto, paralisei por um momento, olhando para o local onde estivemos ontem. A simples memória fez meus pelos eriçarem. Alisei meu braço e sacudi a cabeça para retirar aquela imagem e sensação de minha pele.

Tomei a chave antiga em minhas mãos e fui até o quarto secreto. Uma volta apenas e eu escutei o clique de abertura da fechadura. Respirei fundo e entrei. Tomei um susto ao ver que a senhora já me esperava lá dentro, sentada em seu banco e com o livro antigo em mãos. Percebendo minha presença, ela guardou o mesmo em seu pedestal e me cumprimentou com um gesto de cabeça. A mesma postura sóbria e imponente de ontem.

– Bom dia, pequena. Bem, como prometido, estou aqui. O que você quer saber?

Seus olhos e sorriso no canto da boca me traziam uma personalidade mais desafiadora e poderosa. Definitivamente alguém que eu não queria ter como inimiga.

– Aliat foi real, certo? – Ela riu da minha pergunta. Podia até ouvir um "sua bobinha" no vibrar do riso.

– Aline me contou da conversa de ontem. – Ela segurou minhas mãos nas suas. – A pior coisa que pode acontecer a um povo é esquecer seu passado. E isso aconteceu com Rheyk. Aliat existiu, mas foi brutalmente assassinada por Victor, por causa do desejo dele pela Coroa. Após sua morte, o reino inteiro caiu em depressão. Afinal, como rainha, era dela a energia vital que mantinha aquele universo.

– Essa história está nesse livro?

– Não só. – Ela ajeitou o óculo, olhos pensativos imersos em um passado. – Estou envolvida com Rheyk há mais tempo do que imagina. Ouvi várias fábulas e aprendi a diferenciar mitos de verdades. Quer um exemplo? É verdade que Victor mandou queimar tudo público que contasse a história dela, que desse esperança ao povo, reduzindo-a a uma lenda contada ao redor da fogueira. Sem rosto, sem identidade... Uma mera ilusão. Porém, não acredito que tenha se desfeito realmente de tudo que a pertencia. O vestido que você usava ontem... Era seda. Nobre. E naquele castelo... De quem mais seria?

Percebi que em frente ao seu banco tinha a manta de Victor, com a qual ele me cobrira ontem. Era de cor musgo e tinha um brasão dourado e preto em formato de uma ave. Fui até o objeto e o tomei em minhas mãos. Aproveitei e lhe devolvi a chave.

Pole cashomeron o topínir capon arb pole aliat pole henny ahim copetiko.

As palavras gravadas na chave atravessaram minha boca involuntariamente, ditas em uma cadência e sonoridade não familiares para mim. Senti como se a voz sequer fosse minha, marcada por um sotaque pesado com um R mais anasalado e um N estalado. Em choque, pus os dedos sobre os lábios.

– Perfeito! Nunca escutei um novato falar com tanta maestria a língua Rheykfordiana. Sabe o que isso significa, pequena? – Seus olhos monitoravam cada expressão corporal minha, insatisfeitos ao captar o meu negar. – "A Senhora da Luz é a aliança entre a vida e a morte".

Fui invadida pela memória do rompante de fúria de Victor, dizendo que Aliat tinha planejado tudo, repetindo as últimas palavras, dizendo que eu era uma peça na jogada dela. O que ele poderia estar querendo dizer com isso? 

– Há anos, existem rumores que A Senhora da Luz voltará para vingar o estrago que o o Senhor das Trevas causou a Rheyk.

– Mortos não voltam. – Meu tom seco deixava clara a incredulidade. Ou até pior, meu medo do que essa volta pudesse significar.

Os Segredos de Rheyk - VERSÃO BETAOnde histórias criam vida. Descubra agora