Capítulo 10 - Doce Manifestação

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Um súbito aperto tomou meu peito e retorceu meu estômago. Como eu poderia falar das atitudes de Victor sem levantar suspeitas para mim? Afinal, mesmo com seus rompantes de fúria, a maior parte da nossa interação foi conduzida por um homem que transbordava charme, o mesmo homem por quem eu desenvolvi uma estranha conexão. E, claro, o mesmo vilão que me ofertou uma aliança, com a condição de me dar o que eu mais queria, ir para casa.

Respirei fundo. Precisava de um tempo para organizar as informações que entregaria para as meninas agora. A nossa relação era muito recente para que eu esperasse que elas confiassem dessa forma em mim, que, apesar de cativada pela áurea de Victor, jamais me aliaria a ele.

– Eu preciso fazer um curativo, antes que aumentem as chances de infecção.

Como se pudesse me ouvir, Nathan saiu do seu quarto, trazendo o kit de primeiros socorros. Droga! Aline agradeceu, pegou a caixa e começou a retirar o pano sujo que Honesh usou para fazer o curativo.

– Então, nos conte, Enny. – Ela falou, exigente.

– Tudo bem. – Minha mente funcionava rapidamente, me dando algo que eu podia entregar e que seria útil. – Pessoal, acho que há outra joia. Victor comentou que Aliat roubou o "coração" e o queria de volta. Acho que posso o encontrar usando o anel, só não sei como.

– Quem é Aliat? – Luna perguntou já na soleira da porta. A toalha laranja com desenho infantil enrolada em seus cabelos.

Angel e Tracy se olharam e foram tomar banho.

– Aliat Garfi foi a última rainha que Rheyk teve antes de... Victor. – Nathan se apoiava na mesa, olhando para Luna com um semblante sério. – Quer dizer... Ela é meio que uma lenda. Algumas versões dizem que ela vendeu Rheyk e seus dons para Victor. Outras falam que ele conseguiu roubar os poderes dela e a matou. Ela é meio que a historinha de ninar das crianças de Rheyk. Uma fábula.

– Se Victor a culpou, ela realmente existiu. – Aline chegou à conclusão.

Por agora, ela já estava passando a pomada que Honesh a dera sobre os pontos e desenrolando a gaze para fazer o curativo. Impressionei com o quanto ela tinha aptidão para tal ato. 

– Talvez. – Nathan falou, pensativo. – Ou talvez seja só uma cortina de fumaça para nos...

– Ela existiu. – Apesar do sussurro, minha fala fez todos presentes se virarem para me encarar. Continuei mais alto: – Eu a vi em meus sonhos. É como se ela fosse uma sombra na minha mente, diversas vezes já escutei sua voz...

Jane estava de volta do banho, junto com Angel, e Aline foi para o quarto de Tia Lúcia para se limpar. As duas amigas que chegavam olharam confusas, por terem pego a história pela metade. Luna se adiantou e deu um breve resumo.

– Como isso seria possível? – Nathan questionou, incrédulo. – Ela está morta há 200 anos, no mínimo! Não existe um quadro, desenho, livro... Nada sobre Aliat além do boca a boca.

– Óbvio que deve ser o anel, cabeção! – Luna empurrou sutilmente a cabeça de Nathan com a ponta dos dedos. – Se ele atravessou dimensões, cria poderes em uma terráquea e é o grande interesse de Victor, deve ser moleza para essa joia ter uma conexão mágica com um espírito. Não acha?

– Luna está certa. – Angel interrompeu a resposta de Nathan. – Enny, você disse acha que há outra joia, o coração. Foi isso mesmo que ele falou isso?

– Mais ou menos. – Respondi, minhas mãos começando a suar com a memória daquele café-da-manhã com Victor. O medo e curiosidade em proporções iguais. – Quando perguntei se era outra joia, ele mudou a postura, o que me leva a pensar que não estou errada. Victor repetia que queria que o entregasse o coração. Ele pensava que eu o tinha também ou queria usar a mim e ao anel para rastrear. Não sei... Mas quis me punir ao notar que eu não fazia ideia de onde estava ou o que Aliat era, quem era, na verdade. Se não fosse por Thomas, não sei o que teria acontecido comigo.

Os Segredos de Rheyk - VERSÃO BETAOnde histórias criam vida. Descubra agora