Capítulo 13 - Origens

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– Quem te destruiu, pitoco? – Angel tinha os olhos arregalados ao abrir a porta alguns minutos após eu lhe mandar uma mensagem avisando que tinha chegado. 

Ela me deu espaço para entrar e, silenciosamente, fomos até seu quarto. O apartamento dela era metade do tamanho daquele que Tia Lúcia tinha, mas continha o dobro de mobília e o triplo de cores, usando uma paleta mais quente do que a casa da minha benfeitora. Assim que Angel fechou a porta do quarto, ela me deu autorização para falar.

– Aliat e Victor estão me destruindo. Sonhei por quatro horas. Nem falo que descansei porque, entre quase morrer e desvendar o segredo do Coração, não sobrou muito tempo para isso. Toma.

Joguei o diário em sua direção e, mesmo sem me olhar, a líder ergueu uma mão e o pegou no ar. Não tinha certeza se era fruto apenas dos seus rápidos reflexos de atleta ou se tinha alguma coisa a ver com seus dons.

– Tá tudo escrito. Quer dizer, tudo o que eu lembro. Lê a partir da data de hoje. O resto é pessoal. Na verdade... Se pudermos manter alguns detalhes do que você ler em segredo, eu adoraria.

Com uma expressão intrigada, Angel concordou.

Dei espaço para que ela lesse em paz e comecei a destrinchar seu quarto. A parede onde estava a cabeceira da cama era de um tom amarelado e tinha diversas fotos penduradas em diversos varais. Família, as garotas e Nathan, outros amigos, um varal inteiro só com David, outro voltado para suas atividades esportivas – basquete, canoagem, patins, bicicleta, maratona. Uma foto bem no meio me chamou a atenção. O aniversário de Jane no início do mês. Eu estava nela. 

Tudo naquele lugar exalava a personalidade de Angel. Extremamente vivo e até um pouco caótico, em uma proporção que gerava conforto ao saber que ela não era perfeita. Ao lado da porta, um par de patins – pés com tamanhos diferentes. Era uma brincadeira entre a líder e o namorado. Eles se conheceram na pista de patinação dos 13 para 14 anos e, desde que ingressaram no namoro, um mantinha um pé do patins do outro. Uma eterna recordação de como tudo começou. Piegas? Sim! Mas, deixe os amantes se amarem, não é?

O bufar de Angel me trouxe para a realidade. Suas sobrancelhas arqueadas exibiam que ela fazia esforço para absorver tudo o que tinha lido.

– Sonho que revela coisas... Não acontecem coisas desse tipo com pessoas normais. – Não havia repreensão em sua voz, mas, ainda assim, olhei para baixo, constrangida. – Ora! Fazer o que se você é minha anormal preferida, pitoco?

Peguei o travesseiro dela e lhe bati no braço. Rindo, a garota se pôs de pé.

– Me chama de pitoco e vai ver só.

– Quer que eu pegue um banquinho para você conseguir me dar um murro na cara?

Ela riu do meu semblante chocado e me entregou uma regata e um casaco que, mesmo ficando folgados, eram melhores do que a blusa de moletom que eu usava. Enquanto me vestia, ela arrumava a bolsa para escola. Fingiria para a mãe que ia mais cedo para o colégio. Saí em silêncio do apartamento, enquanto a garota foi até o quarto da senhora White se despedir.

– Parabéns, Enny. Você deu uma excelente utilidade para o caderno. – Ela me entregou o objeto de capa rosa quando pisamos na rua. – Diário dos sonhos. Bem útil no seu caso.

– Obrigada. – Enrolei o moletom ao redor do caderno e observei Angel enviar uma mensagem para Aline, pedindo para que Nathan fosse me buscar perto da escola. – Onde é esse portão que você viu quando se tornou líder?

O sorriso de lábios cerrados de Angel me deixou intrigada. Por um momento, a vi reflexiva e nostálgica, com uma confusão que não era usual.

– Aliat está falando do primeiro portão que eu vi. Não era líder ainda. Na real? Nem existia o grupo. Só era amiga de Jane. Suportava as outras com esforço. E as vezes que vi Nate com Aline, achava ele um moleque borsal.

Os Segredos de Rheyk - VERSÃO BETAOnde histórias criam vida. Descubra agora