Capítulo 9 - A chave

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Thomas me encarava seriamente, nitidamente reflexivo sobre seu próximo passo. O caos da batalha à nossa volta parecia diminuto frente à tensão entre nós. Com um suspiro, ele tirou uma adaga que estava na bainha e me entregou. 

– Pequena, corra. – Havia urgência em sua voz.

Arqueei as sobrancelhas, em torpor. Não! Não tinha tempo para choque. Desengonçadamente, me agachei e tentei puxar o corpo desacordado do jovem rapaz pelo rastreador. Não o deixaria aqui para se tornar um prisioneiro.

– Eu disse para correr! – Ele agarrou minha roupa, arrastando-me para longe do menino desacordado. Atirou um punhal no peito de um homem que vinha em nossa direção, deixando aberta uma passagem em meio à batalha, e me empurrou para longe de si. – Vá!

Corri entre a multidão, desviando do bradar selvagem de diversas lâminas. O cheiro de lama, enxofre e ferro sufocavam junto com a poeira. Seria esse o odor da morte? Olhei ao redor, procurando qualquer face conhecida. Os servos de Victor, em sua grande maioria eram diferentes graus de quimeras, misturas macabras com animais que nunca vi. Os guerreiros da rebelião tinham rostos pintados ou usavam máscaras de madeira ou couro, possivelmente escondendo suas identidades para evitarem se tornar alvos.

Ao longe, via corpos flutuando e sendo arremessados contra os muros do castelo. Luna! Sem pensar duas vezes, tracei meu caminho até ela. Então, Nathan apareceu, golpeando incessantemente, com seu soco inglês, um homem que tinha espinhos no pescoço. O General não usava qualquer proteção no rosto, mostrando sem medo sua face marcada por sangue.

Seus olhos arregalaram ao me reconhecer e ele soltou o corpo molenga de seu inimigo. O rapaz caminhou até mim, me puxou com um braço e me abraçou com mais intensidade do que esperava, mas sem baixar a cabeça – atento ao menor sinal de perigo. Minhas mãos foram até seu rosto, passando por sobre a mancha de sangue. Suspirei aliviada por ver que não era dele. Nathan não estava ferido.

– Victor encostou um dedo em você? – Nathan rosnou para mim, migrando sua espada da mão direita para a esquerda. Exímio em combate, o rapaz vivia se gabando de ser ambidestro e das vantagens que isso lhe dava em um confronto.

Ele me puxou com sua agora mão livre para me salvar de um ataque e cortou a garganta do agressor. Arfei em choque e me virei em sua direção, afundando meu rosto em seu peito e o abraçando com força.

– Enny, alguém te machucou? – Ergui meu rosto para que ele me visse negar. Sua preocupação pareceu aliviar momentaneamente. – Vamos te tirar daqui.

Nathan desvencilhou meus braços de sua cintura e, segurando minha mão, tentou me puxar para recuar. Dei o primeiro passo junto a ele, mas a memória do menino desacordado retornou a mim, bem como os gritos por piedade que escutei na noite anterior. Não podia o condenar a esse destino, mas não conseguiria sozinha. Parei e puxei Nathan.

– Vem comigo. Eu preciso de ajuda. – Larguei sua mão.

– Enny, não! – Nathan me repreendeu, porém eu já corria, me distanciando dele.

Olhei para trás e vi que ele me seguia, notoriamente furioso. Um guarda surgiu na minha frente, e eu o driblei sem esforço. Sendo esse uma pobre vítima de um único golpe do General Monteiro. Cheguei ao garoto loiro e notei que ele parecia ter quinze anos. Tentei o levantar, mas não adiantou. Era muito fraca. Nathan finalmente havia me alcançado e me ergueu, colocando-me sob seu ombro como se eu não pesasse nada.

– Caralho, Enny! Dá para facilitar? – Ele estava furioso.

– O menino ainda está vivo. Eu vi Thomas só o desacordar. – Debati-me, gritando. – Pode ver o pulso se não acredita. E aposto que não vai ser o único.

Os Segredos de Rheyk - VERSÃO BETAOnde histórias criam vida. Descubra agora