Capítulo 22

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- Qual é o seu nome? - Chris pergunta para a garota que estava ajudando um adolescente ferido deitado no chão. O rapaz aparentava ter 17 anos e estava inconsciente.

- Rebecca. Rebecca Travis. - Ela responde com a voz trêmula e pressionando o ferimento no peito do rapaz. Suas mãos estavam ensanguentadas.

- Muito bem, Rebecca. Continue pressionando. - Chris ordena enquanto pega um pacote de gaze no bolso de sua calça. - Sabe quem é ele? Quantos anos tem? Tipo sanguíneo? Quantas balas o atingiu? - Chris pergunta nervosa, colocando o curativo em cima do ferimento.

- Nã... Não sei. O nome dele é Matt, ele é de uma série acima da minha. - Rebecca responde ainda com a voz trêmula. Chris então percebe que deixou a adolescente mais nervosa e que não deveria ter feito tantas perguntas assim. 

- Ok... Não tem problema. - Chris responde tentando acalmá-la. - 24-David para Comando, estou no laboratório de ciências no quarto andar com um ferido. - Ela aciona pelo rádio.

- Tem mais um ferido aqui! - Um menino de cerca de 15 anos avisa a Chris, do outro canto da sala, também escondido no fundo atrás de uma das bancadas. Ela se vira para ele e vê que os dois garotos, tanto o que avisou, que está sentado, quanto o outro, deitado no chão, também haviam sido baleados mas estavam conscientes. Chris vai até eles, ainda agachada, para verificar o ferimento.

- Onde vocês foram atingidos? - Ela pergunta.

- Eu fui no ombro e ele na perna. 

- Ok. - Chris inspeciona os ferimentos. - O seu foi um tiro de raspão. Não te atingiu. E você... - Chris se vira para o outro menino e olha para sua perna. "Bem acima do joelho. A bala saiu. Ótimo! Atingiu o osso. Droga. Ele não vai conseguir andar." Ela pensa.

- Ahn, Christina? - Rebecca a chama. Chris se vira imediatamente e Matt começa a convulsionar. Ela corre até ele.

- Pressione o ferimento! - Ela avisa à Rebecca, virando a cabeça de Matt para o lado, para ele não engasgar enquanto espuma. - 24-David para Comando! Estou com três adolescentes feridos no quarto andar! Laboratório de Ciências! Um está em estado grave! - Chris avisa novamente no rádio mas não recebe um retorno. Na mesma hora, mais barulhos de tiro são ecoados pelo corredor. Rebecca imediatamente solta o ferimento de Matt e se esconde mais atrás da bancada, tentando se proteger.

- Rebecca, volte aqui! Preciso que você pressione! - Chris a chama enquanto segura a cabeça de Matt com uma mão e tenta ajeitar seu rádio com a outra, procurando por algum defeito nele.

- Não... Por favor, eu não aguento mais! - Rebecca responde angustiada entre um tiro e outro. Chris larga o rádio no chão e pressiona o ferimento de Matt, ficando ajoelhada ao lado dele. Sua mente estava em frenesi e seu corpo enrijecido. O barulho dos tiros era ensurdecedor e parecia estar cada vez mais próximo. O sangue de Matt escorria pelas mãos de Chris, se espalhando pelo piso, sujando sua calça. Chris sentiu um nó na garganta. Precisava encontrar um jeito de proteger aqueles alunos, estancar o ferimento de Matt e buscar por ajuda. A sua vulnerabilidade a assombrava. Ela se sentiu do mesmo jeito quando viu Scott Damon, um aluno duas séries acima da sua, ser baleado na sua frente no corredor da sua escola. No fundo, Chris se culpava por não ter ajudado dele. A primeira coisa que ela pensou quando viu ele cair foi em se esconder. E ela ficou ali, naquele quartinho da limpeza, há poucos metros de Scott, se questionando o que deveria fazer. Deveria ir checar ele? Esconder ele no quartinho com ela? Sair correndo para a saída? Buscar ajuda? Será que ele ainda estava vivo? Será que ele sabia que ela estava ali e ela não tinha ido ajudá-lo? Foi a incapacidade de saber o que fazer nesse momento um dos grandes motivos de Chris querer se tornar policial. E agora, 17 anos depois, com 10 anos de carreira, Chris se vê na mesma situação: sem saber o que fazer. 

- Rebecca!!! - Chris a chama em um tom firme mas baixo. - Eu preciso da sua ajuda! - Chris vai até ela e a puxa pelo punho. Rebecca tenta se esquivar, e com o rosto vermelho e em lágrimas, tenta negar ouvir qualquer fala de Chris. - Presta atenção! - Chris olha nos olhos apavorados de Rebecca. - Se você não pressionar esse ferimento ele vai morrer! Ele vai morrer e você vai passar o resto da sua vida sabendo que poderia ter salvado ele e não salvou porque sentiu medo! EU PRECISO QUE VOCÊ PRESSIONE! - E então Chris posiciona as mãos de Rebecca sob o ferimento. Ela vai até a porta do laboratório e espiona pela pequena janela que ela possui mas não vê ninguém no corredor, apenas escuta mais tiros. Ela procura por pilhas no armário, na esperança de se conseguir trocar elas seu rádio possa voltar a funcionar. 

- Tranque a porta! Precisamos impedir que eles entrem aqui! - Um dos meninos avisa baixinho à ela.

- Não podemos! - Chris responde, também baixinho, enquanto retorna para o fundo da sala. - Se verem que a porta está trancada vão saber que há pessoas aqui. - Chris pega seu rádio e troca as pilhas. Ela avisa mais uma vez ao seu time sua localização, mas não obtém retorno. - Merda! - Ela fala baixinho. De repente há um silêncio no corredor e, atenta, Chris escuta passos fortes. Ela se vira para os meninos e manda, por sinais com as mãos, fazerem silêncio e permanecerem abaixados. Ela puxa o corpo de Matt para atrás de outra bancada e também pede, por sinais, para que Rebecca permaneça ali e pressionando o ferimento. E então Chris se posiciona mais à frente dos alunos, ficando agachada e semi escondida atrás de uma das bancadas. Ela limpa na calça as suas mãos sujas de sangue e então direciona o seu fuzil para a porta. São dois contra um. E Chris ainda precisava proteger 4 adolescentes indefesos, sendo 2 feridos e 1 inconsciente. Chris olha para a sua esquerda e vê o sangue de Matt espalhado pelo piso. Ela se recorda da poça de sangue que viu no chão do corredor da sua escola quando finalmente saiu do armário da limpeza. E do cobertor preto por cima do corpo de Scott Damon. Ele foi o primeiro falecido que ela teve conhecimento, mal sabendo ela, algumas horas depois, que seus pais e seu irmão gêmeo também haviam morrido. Chris então retorna seu olhar para a porta. Seus coração está batendo forte e acelerado. Ela mal consegue respirar. A tensão a envolvia como uma sombra opressora. Seu dedo está no gatilho e sua atenção totalmente focada na janela da porta. Mas antes que ela pudesse ver algo pela janela, a maçaneta é puxada para baixo e lentamente a porta é aberta.






SWAT - A história de Christina AlonsoOnde histórias criam vida. Descubra agora