Capítulo 26

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Chris dá um longo gole e termina o seu whisky. 

- Lembra quando você me perguntou por que eu voltei pro Jax depois que nós terminamos na primeira vez?

Street assente com a cabeça, lembrando do dia dos namorados, quando saíram para beber em Long Beach.

- Então... Ele foi um babaca, sem dúvidas. E nada justifica ele ter me traído, mas... - Chris respira fundo. - No meu primeiro ano na SWAT, Deacon e eu estávamos em um caso com traficantes russos. Por um acaso descobrimos o esconderijo deles, estávamos sem o uniforme adequado, sem fuzil, e só nós dois... E eles eram sete. - Street ouve atentamente. - Conseguimos matar três deles com as pistolas, mas chegou uma hora que partimos para a briga física. Deac ficou com dois e eu com dois. Eles haviam usado alguma droga, estavam muito alterados, eram muito fortes... - Chris balança levemente a cabeça, se recordando da situação. - Consegui matar um, mas ainda faltava o outro, e Deac estava muito ocupado... - Chris dá uma leve risada nervosa. - Foi muito rápido, eu só lembro de levar uma pancada na cabeça e cair no chão... Eu ainda estava consciente mas aí o traficante me deu um chute forte na barriga. Eu achei que eu fosse morrer. E então ele foi e me deu outro chute no mesmo lugar. E aí eu apaguei... Você vai beber isso? - Chris aponta para o copo de Street, que ele nem havia tocado.

- Não... - Ele responde balançando a cabeça e Chris pega o copo.

- Eu acordei com barulho de tiros. Deac matou o restante dos traficantes, inclusive o que tinha me chutado. Eu não conseguia me levantar... A minha barriga doía tanto... Deac me carregou e fomos para o hospital. Chegando lá, fizeram vários exames, ultrassonografia e... - Ela bebe o primeiro gole do copo de Street. - Bom, as duas pancadas lesionaram meu útero e isso diminuiu muito as minhas chances de conseguir engravidar um dia.

Street abaixa a cabeça, perplexo. - Meu Deus... - Ele vira seu corpo para o de Chris, que permanecia virado para frente do bar.

- Eu e Jax não conversávamos muito sobre filhos mas... Estava no plano, sabe? De algum dia, no futuro, quem sabe... Enfim... - Chris respira fundo mais uma vez. - Os meses se passaram e em uma das visitas do Jax... Nós fomos descuidados... - Chris dá mais um gole e Street ajeita sua postura, ficando um pouco desconfortável mesmo com Chris apenas fazendo uma leve menção sobre sua vida sexual com o ex-noivo. - Eu tinha parado de tomar pílula e dessa vez não usamos camisinha.

- Ok... - Ele tenta focar sua mente.

- Eu fiquei grávida. Eu achei que era um milagre! - Chris abre um sorriso. - Fiz testes, exames, todos deram positivo. Jax estava no Iraque na época, ele veio correndo para casa. - Chris bebe mais um gole. - Ele estava prestes a receber uma promoção. Subiria de patente, aumentaria seu salário, cresceria na sua carreira militar... Mas ele pediu baixa. Ele queria ficar em Los Angeles, queria ficar por perto. Nós sentíamos que era um milagre, sabe? - Chris vira seu rosto para Street, que está totalmente atento. - Eu avisei ao Buck e ao Hicks. Eles me colocaram nos trabalhos administrativos. Eu e Jax passamos a ver casas, procurar por um espaço adequado para um recém-nascido... Mas aí...

Street sente um incômodo na pausa de Chris. Ele tenta procurar por sinais em seu rosto que indique a continuação da história. E finalmente encontra. O olhar de Chris que estava alegre foi tomado por uma tristeza profunda, seguido por uma expressão de desânimo e perda. Ele sente uma necessidade desesperadora de beber o whisky que cedeu à Chris.

- Eu perdi o bebê. - E Chris termina o copo de whisky. - Eu estava com 15 semanas. Fui fazer o exame para descobrir o sexo. Era uma menina. - Chris dá um pequeno sorriso, que logo se desfaz. - Mas não ouviram os seus batimentos cardíacos...

Street inclina seu corpo e aproxima sua mão da de Chris, que está segurando o copo vazio em cima da bancada. Com dois dedos seus ele faz um carinho na mão dela, que se desprende do copo e dá a abertura para que Street a segurasse. Seus dedos se entrelaçam.

- E aí tudo mudou... - Chris finalmente continua. - Jax se tornou uma outra pessoa. Eu fiquei mal com o aborto, óbvio, mas ele... Ele ficou péssimo. - Chris encara o copo vazio. - Pode me ver mais um, por favor? - Ela fala alto, pedindo ao barman que está do outro lado. E então ela solta a mão de Street, que pensa que talvez Chris não devesse ter pedido mais uma bebida. - Nós começamos a discutir... Ele começou a me culpar... Se culpar... Por ter perdido a promoção dele, ter mudado a vida dele para que pudéssemos construir algo aqui... -  O barman chega com a bebida de Chris. - E aí um dia ele achou que seria prudente dormir com uma outra mulher e assim fez. - Chris pega o copo de whisky. - E adivinha como ela era? - Chris vira seu rosto para Street. - Loira! - E dá um sorriso irônico, levantando o copo como se estivesse brindando algo e bebendo um gole logo em seguida. 

- Chris...

- Então não, Street. Eu não faço o tipo de todo mundo. - Chris vira seu corpo para Street. - Eu sou amaldiçoada. - E dá um sorriso para ele.

- Chris, você não é amaldiçoada.

- Sim, eu sou! - E então a maneira como Chris responde e a sua postura revelam que ela já está alcoolizada.

- Chris, você passou por coisas horríveis, eu sei, mas isso não quer dizer que o restante da sua vida vai ser assim... - Street se aproxima para apoiar sua mão nas costas de Chris, que deu uma leve cambaleada na banqueta enquanto se virava para pegar o copo.

- Eu já aceitei, sabe? - Chris dá mais um gole. - As tragédias não me surpreendem mais. Eu só... Eu só não acho justo com as pessoas ao me redor... Talvez se Jax tivesse namorado outra pessoa, ele não teria passado por isso.

- Ah, Chris, por favor! Você ainda defende ele? - Street rebate instintivamente, alterando seu tom de voz. - Ele foi um escroto com você! O tempo todo! Você merecia apoio, colo, carinho, e não um babaca culpando você por algo que não foi sua culpa! Ele foi um otário por trair você! - Chris, que estava sentindo o auge do teor alcoólico de repente fica totalmente alerta, prestando atenção em cada palavra que Street solta. - Ele deveria ter cuidado de você e não te abandonado! Ele deveria ter ficado do seu lado, te protegido, te acolhido. E ao invés disso agiu como um idiota! - Assim que ele termina de falar, os dois ficam em silêncio. Street, com a respiração ofegante, e Chris, usando toda a sua força para prender sua atenção e olhar em Street.

- Nossa... - Ela abaixa seu olhar, surpresa com a reação de Street e tentando apresentar sobriedade.

Street endireita sua postura. - Foi mal, eu...

- Não! Eu... - Chris balança a cabeça, procurando pelas palavras certas. - Eu... - Ela pigarreia. - Eu achei legal...

E então os dois riem. 

- Chris... Eu também achava que a minha vida era algum tipo de maldição... Que por ter tido uma infância ferrada eu nunca iria conquistar nada, nunca iria conseguir fazer algo, ser alguém... Eu não tive muitas oportunidades, mas as poucas que eu tive eu me agarrei à elas, sabe? 

Chris ouve atentamente.

- Buck foi uma delas... Sabe se lá o motivo. Mas ele me viu e se compadeceu de mim e me ajudou e me ensinou muita coisa. Coisas que meu pai deveria ter ensinado. Mas infelizmente ele era um drogado alcoólatra... 

Chris se compadece da fala de Street. Por mais difícil que seja para ela compartilhar sua história e falar sobre as tragédias de sua vida, com Street ela consegue sentir uma certa facilidade, e sentiu desde a primeira vez, quando contou sobre a morte de seus pais e de seu irmão. Ela sente uma abertura para falar sobre essa parte de sua vida que nunca sentiu nem mesmo com Luca ou com um de seus irmãos, ou até mesmo com a Dra. Wendy, psiquiatra da SWAT com quem Chris se consulta regularmente. Ela se pergunta se Street sente o mesmo. 

- E você foi outra oportunidade. 

E então Chris retoma sua atenção para a fala de Street. - Eu? 

- Você me fez ser melhor, Chris. Para a SWAT. Para o time. Para mim mesmo. Eu nunca vou entender, mas você quis ser minha amiga, me ajudar, me colocar nos trilhos... - Street ri. - Você abriu a sua vida para mim, sua família, seu passado... Chris, você não é amaldiçoada. Isso é impossível. Você é capaz de mais coisas do que imagina.

Chris olha para Street com um olhar diferente. Talvez com admiração. Talvez com desejo. Ou talvez seja o álcool misturado com as palavras de Street fazendo um efeito em sua mente em que ela não consegue desviar seu olhar dele. Street percebe que ela o observa por tempo demais. Mas ele também não consegue desviar.

SWAT - A história de Christina AlonsoOnde histórias criam vida. Descubra agora