Capítulo 14

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Lorenzo Jauregui


Na noite seguinte, no meio de uma disputa acirrada contra Tucker, numa
intensa partida de Ice Pro, Dean aparece na sala de estar, descalço e sem
camisa. Ele corre a mão pelo cabelo louro espetado antes de sentar na
poltrona ao lado do sofá.

“Escuta, preciso falar com você sobre a caloura.”
“Que caloura?”, diz Tucker, sem tirar os olhos da tela.
Também não desvio o rosto. “Camila?”, pergunto, distraído. Meu time está detonando o de Tuck, provavelmente porque o idiota se recusa a jogar com qualquer outra equipe que não o Dallas, que foi eliminado dos playof s, tipo, um milhão de vezes seguidas. Eu, claro, só
jogo com o Boston, porque cresci torcendo para esse time e é onde sonhei
jogar um dia.

“É, Camila. A menos que você tenha levado outra caloura ao cinema e se
esfregado com ela.” O comentário exala sarcasmo.
Pauso o jogo para dar um gole na minha Coca-Cola. Isso mesmo, Coca-Cola. Ainda estou pegando leve com a bebida. Amanhã é minha primeira prova, e não quero aparecer de ressaca.

“Não levei ela ao cinema”, respondo. “Encontramos as duas lá, lembra?”
“Ah, lembro. E me lembro também da pegação. Sério, cara, toda vez que
eu olhava para trás, vocês pareciam atores de filme pornô.”

Ainda bem que não contei o que fizemos no depósito. Dean jamais me
deixaria em paz se soubesse daquilo.

“Espera… você tá saindo com uma caloura?” A expressão de Tuck é
indecifrável, mas tenho certeza de que posso ouvir um tom de alívio em sua
voz.
“Nada a ver. Não estamos saindo.”
“Ótimo”, comenta Dean, balançando a cabeça energicamente. “Meninas
mais novas são muito dramáticas.”
Tucker solta um riso de desdém. “Dramáticas? Agora é assim que você
se refere a Bethany? Porque aquilo não tinha nada de dramático, cara. Era
psicose.”
“Era um pé no saco, isso sim”, murmura Dean. “E muito obrigado por
me lembrar do episódio. Agora vou ter pesadelos esta noite. Babaca.”
Reviro os olhos. “Não esquenta, Camila não é assim. Nem um pouco dramática.”

E essa é uma das razões pelas quais estou tão atraído por ela. É a garota
mais simples que já conheci. Além do mais, quando estamos juntos, não
penso em Hannah, e isso é…
Então você está usando Camila para esquecer Hannah?
A acusação dispara em minha cabeça como um time de hóquei na
ofensiva.
Não. Claro que não.
Ou estou?

Não. Isso é loucura. Gosto de Camila de verdade e curto muito ficar com
ela.
Mas… ela parece mesmo ser uma distração de toda a história com a
Hannah.
E que distração, hein?
Droga. Sou um filho da puta completo.
À medida que a culpa inunda meu estômago, compreendo subitamente o
tamanho da merda que fiz. Nesse momento, percebo que não posso ver
Camila de novo. Como, se uma parte de mim a enxerga como uma distração? Se ainda sinto aquele aperto terrível na barriga toda vez que vejo Garrett e Wellsy juntos? Se ainda estou consumido pela inveja, pela ansiedade e por um ódio imenso de mim mesmo?

Mandei uma mensagem para Camila mais cedo e estava pensando em
perguntar se ela queria sair amanhã à noite, mas agora não posso mais fazer
isso. Seria idiota da minha parte usar a garota como distração sem perceber,
mas agora que me dei conta disso me recuso a continuar. Não seria justo
com ela.

“Nem um pouco dramática?”, repete Dean, afastando meus pensamentos
conturbados. “Certo, sinto muito informar, mas o trem do drama já deixou a estação. Foi isso que vim contar.”
Franzo a testa. “Do que você está falando?” “Conhece a Piper?”
Tucker deixa escapar uma risada. “Precisa perguntar? Todo mundo
conhece a Piper.”
Minha careta se aprofunda, porque, se Piper Stevens está envolvida no
que Dean está prestes a me dizer, então não vai ser bom. Piper é a maria-patins das marias-patins. Também é gostosa pra caralho, razão pela qual metade dos caras do time já transou com ela. O que, por sinal, é um feito do qual ela se orgulha muito.
Não tenho nenhum problema com isso. Toda vez que ouço alguém se
referir à menina como vagabunda, fico puto, porque qual é o problema? A
maioria dos caras que conheço pegam geral na faculdade, e ninguém liga
pra isso. Então não julgo Piper pela vida sexual que leva.

O problema é que ela é uma pessoa má, que espalha mais boatos e
fofocas desagradáveis do que um tabloide de Hollywood.

“Passei a tarde com Niko, e ele me disse que Piper andou falando um monte de merda sobre a sua caloura”, explica Dean, indiferente.
Minha coluna enrijece. “O quê?”
“Pois é, parece que a irmã da Piper é amiga da Camila, e sua caloura
contou sobre vocês dois? Só que, por alguma razão, a menina acha que ela
está inventando?”
“Você tá me perguntando isso ou contando?”, resmungo.
“As duas coisas? Não sei. Já desisti de tentar entender as mulheres.”
“Somos dois”, comenta Tuck, solenemente.
Dean emite um barulho exasperado no fundo da garganta. “Tudo o que
sei é que a Piper tá falando que uma caloura patética tá mentindo sobre ter
ficado com você, mas isso é obviamente mentira, porque eu assisti à
pegação da primeira fila ontem à noite… Lembra quando sua língua tava
vasculhando o fundo da garganta dela?” “O cinema tava lotado de alunos da Briar. Se você viu a gente, então
tenho certeza de que um monte de gente também viu.”
“Ah, eles viram, cara.”
“Então por que é que alguém ainda acredita na mentira da Piper? Eu não
preciso esconder nada de ninguém.”
“Bom, se você conta uma mentira com confiança, as pessoas acreditam.”
Ele dá de ombros. “De qualquer forma, achei que você deveria saber que a
Piper tá dando uma de Piper de novo. Ah, e Niko contou que ela tá tuitando
sobre isso. Inventou alguma hashtag maldosa sobre a menina.”
O quê? Pego o celular na mesa de centro e abro o Twitter. “Qual é a hashtag?”
“Não tenho a menor ideia. Deve dar para encontrar pela conta da Piper.”

Digito depressa o nome dela na caixa de busca, clico no perfil e repasso a
primeira dúzia ou mais de tuítes na página. Cada um deles faz a raiva
queimar, borbulhar e ferver dentro de mim, até que finalmente explode e me
faz levantar do sofá de pura indignação.
Ah, merda, não.

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