Capítulo 15

88 16 3
                                    


Camila Cabello


Sabe aqueles sonhos horrorosos em que você está andando pelo corredor
da escola ou subindo no palco de um auditório para fazer um grande
discurso… e, de repente, percebe que está completamente pelado, com todo
mundo olhando para você? E então aqueles pares de olhos vão ficando
maiores e maiores, e parecem laser queimando sua pele?
É o que estou vivendo neste momento.

Estou vestida, claro, mas, apesar
das inúmeras garantias de Dinah de que não tem ninguém olhando para
mim, sei que os olhares curiosos e risinhos de superioridade dos outros
alunos não são coisa da minha imaginação.
Maldita Maya Stevens. A filha da mãe conseguiu o impossível: me fez
ter medo de andar no Carver Hall, meu lugar preferido no campus.
Na verdade, é bem impressionante que, mesmo com apenas cento e quarenta caracteres, a irmã dela tenha conseguido produzir um belo conto de uma heroína lamentável cujo desejo feroz por determinado jogador de hóquei a leva a fabricar um grandioso caso de amor cheio de sensualidade e paixão.

Em outras palavras, Piper está me chamando de mentirosa.
“Isto é tão humilhante”, murmuro, espetando o frango no meu prato. “A
gente pode ir embora?”
Dinah ergue o queixo numa pose obstinada. “Não. Você precisa mostrar às pessoas que não dá a mínima para o que a Piper está dizendo.”Falar é fácil. Meu cérebro sabe que eu não deveria me preocupar com as imbecilidades do Twitter, mas meu estômago não recebeu o recado. Toda vez que as palavras #CamilaMentirosa voltam à minha cabeça, minhas entranhas se contorcem, mortificadas.

Que merda está acontecendo com as pessoas? É muito irritante que se
achem no direito de destilar o veneno mais doloroso como bem entendem,
sem dar a mínima para quem está sofrendo. Na verdade, sabe de uma coisa?
Não estou nem chateada com os boatos. Estou chateada com quem inventou
a internet e entregou aos idiotas do mundo uma plataforma na qual despejar toda a sua maldade.
Merda de internet.

Dinah trata meu silêncio como um convite para continuar tagarelando.
“Piper é uma imbecil, tá legal? Você sabe como ela é possessiva com os jogadores de hóquei. Age como se todos eles pertencessem a ela. Ridícula. Provavelmente está morrendo de ciúme por você ter saído com uma das
principais estrelas do time, porque ela, aliás…”, Dinah baixa a voz para
um tom conspiratório, “… tá correndo atrás dele desde o primeiro ano, mas
continua levando fora.”

Minha nossa. Agora nós estamos fofocando? Tem algum adulto maduro
nesta porcaria de universidade?

“Será que a gente pode parar de falar nela?” Cerro os dentes, e fica quase
impossível abocanhar a garfada de macarrão que acabei de levar à boca.
“Tudo bem”, ela cede. “Mas tô contigo e não abro. Só vão falar mal da minha melhor amiga por cima do meu cadáver.”
Prefiro não lembrar que Piper não estaria falando mal de mim se alguém
não tivesse deixado subentendido que eu estava mentindo quando contou a
história toda a Maya.

“Se você preferir, podemos falar do meu problema”, continua ela,
tristonha. “Por exemplo, o fato de que Dean não pegou meu telefone depois do filme de ontem…”
Ouvimos passos atrás de nós, e Dinah para de falar. Meus ombros ficam tensos, mas logo relaxam quando percebo que se trata de Jess. E então ficam tensos de novo, porque se trata de Jess. Que beleza. Mais uma rodada de tortura.

“Oi”, ela me cumprimenta, os olhos cheios de simpatia. “Que merda essa
palhaçada toda no Twitter, né? Maya não devia ter contado para a irmã. Ela
é tão fofoqueira.”
Se eu tivesse um dicionário comigo, abriria na letra H, passaria para Jess
e a forçaria a ler a definição de “hipócrita”.
Por sorte, meu telefone vibra antes que eu possa pensar numa réplica
malcriada.
Quando vejo o nome de Lorenzo na tela, meu coração dá um pulinho involuntário. Fico tentada a subir na mesa, exibir o celular e provar para
todo mundo no Carver Hall que, ao contrário do que a Piper Stevens anda
postando, Lorenzo Jauregui sabe da minha existência. Mas resisto à vontade,
porque, diferente de algumas pessoas, eu não preciso de dicionário… já
conheço o significado de “fútil”.
A mensagem de Lorenzo é curta.

Ele: Onde vc tá?
Digito de volta depressa: Refeitório.
Ele: Qual?
Eu: Carver.
Nenhuma resposta. Ótimo. Não sei bem qual foi o motivo da conversa,
mas o silêncio subsequente tem um efeito devastador sobre minha
autoconfiança já abatida. Estava doida para falar com Lorenzo desde a noite
passada, mas ele não ligou, não mandou mensagem nem tentou marcar nada. E, finalmente, quando entra em contato, é isso? Duas perguntas e mais nada? Fico horrorizada ao perceber que estou à beira das lágrimas. Não sei mais
com quem estou chateada. Lorenzo? Piper? Dinah? Comigo mesma? Mas
não importa.

Me recuso a chorar no meio do refeitório ou dar às pessoas a satisfação de me ver sair correndo daqui cinco minutos depois de entrar. As meninas da mesa ao lado não param de sorrir desde que sentei, e ainda posso sentir seus olhos em mim. Não consigo ouvir o que estão
sussurrando, mas, quando olho na direção delas, as cinco desviam o rosto
depressa.
Ignore.
Por mais que meu apetite esteja tão nulo quanto a minha autoestima, me
forço a comer. Até a última garfada, engolindo enquanto finjo interesse pela
conversa de Dinah e Jess, que felizmente mudaram para um tema que não
me envolve.
Quinze minutos. É o tempo que passa até eu não aguentar mais. Meus olhos estão cansados do piscar incessante necessário para estancar as lágrimas iminentes.
Estou prestes a arrastar minha cadeira para trás e dar alguma desculpa
sobre precisar estudar quando as duas se calam. Jess para no meio da frase.
A mesa ao lado também ficou suspeitosamente quieta.
Dinah parece estar lutando contra um sorriso enquanto espia por cima
dos meus ombros, na direção da porta.
Franzindo a testa, viro o rosto — e vejo Lorenzo atrás de mim.

“Oi”, ele diz, tranquilo.
Fico tão surpresa ao ver Lorenzo que tudo o que consigo fazer é olhar para
ele, pasma. Pairando sobre mim, sentada, ele parece ainda maior do que o normal. Está com uma camiseta do time de hóquei, que se estica sobre seus
ombros imensos, o cabelo escuro despenteado e o rosto corado pelo esforço, como se tivesse vindo correndo.

Nosso Erro - Camren Alternativo Onde histórias criam vida. Descubra agora