Capítulo 19

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Lorenzo Jauregui

É mais de meia-noite e, até agora, nenhuma resposta de Camila. Já mandei
três mensagens. Agora, estou deitado na cama por cima do cobertor, olhando para o teto e lutando bravamente contra a vontade de mandar uma quarta.
Três mensagens beira o desespero.
Quatro seria simplesmente patético.
Droga, queria que ela respondesse. Ou ligasse. Ou fizesse alguma coisa.
A essa altura, ficaria radiante se um pombo-correio batesse com o bico na
minha janela e me entregasse uma carta escrita à mão em caligrafia impecável.
Ela não vai ligar, cara. Aceita isso.
É, acho que não. Estraguei tudo mesmo. E acho que mereço.

Não só a enganei como fiz com que quisesse perder a virgindade comigo,
então joguei a oferta de volta na cara dela, dizendo que estava interessado
em outra pessoa. Merda, não sei como não estou sentindo dores aleatórias e
pontadas pelo corpo. Sabe como é, das agulhas que Camila está enfiando
num boneco de vodu com a minha cara.
Meu telefone vibra, e eu me jogo na direção da mesinha de cabeceira
feito um atleta olímpico. Ela respondeu! Ainda bem. Então ela não me vê
como o anticristo…

A mensagem não é de Camila de um número desconhecido, e levo uns dez segundos para ser capaz de registrar o que estou lendo. Algo que está fazendo meu ódio fervilhar.
Oi, é a Dinah. Acabei de saber o q aconteceu com Camila. Quer q eu vá
até aí consolar vc? ;)

Piscadinha. Ela teve a coragem de me mandar uma piscadinha.
Deixo cair o telefone como se fosse carvão em brasa. Como se a mensagem fosse contagiosa e o simples fato de tocar o aparelho me transformasse numa pessoa tão desprezível quanto a que me escreveu aquelas palavras.
Por que a melhor amiga de Camila está dando em cima mim? Que tipo de
pessoa faz uma coisa dessas?

Estou tão puto que pego o telefone e encaminho a mensagem para Camila,
sem parar para questionar minhas ações. Acrescento uma legenda: Achei q
vc deveria ver isso.
E então, como já estou na merda mesmo, mando outra: A gente pode
conversar?
Ela não responde. Nem na hora nem até as três da manhã, quando finalmente arrasto minha bunda patética para debaixo das cobertas e caio num sono agitado.





Camila Cabello

Acordo às cinco e meia. Não por escolha, mas porque minha mente traidora decide que é hora de sofrer um pouco mais e me obriga a recobrar a
consciência.
Sinto a humilhação da noite de ontem como um tapa na cara no momento
em que abro os olhos. As roupas que estava usando ainda estão espalhadas
pelo chão. Não me incomodei em recolher nada, nem Dinah, que chegou
em casa à meia-noite.

“Não aconteceu. Ele está a fim de outra pessoa.”Foi tudo o que eu disse na noite passada, e ela deve ter visto a devastação
no meu rosto, porque, pela primeira vez na vida, não me importunou para
ouvir detalhes. Simplesmente me deu um abraço, apertou meu braço com
simpatia e foi deitar.
Agora está dormindo, o rosto enfiado no travesseiro, um braço pendurado
para fora do colchão. Bem, pelo menos uma de nós vai acordar descansada.
Contra meu bom senso, dou uma olhada no telefone. Há duas mensagens
não lidas piscando na tela. O que eleva o total para cinco.
Lorenzo deve estar mesmo querendo falar comigo.
Acho que a culpa transforma alguns caras em verdadeiros tagarelas.
Uma pessoa inteligente apagaria as mensagens sem ler. Não, apagaria o
telefone dele da agenda. Mas não estou me sentindo muito inteligente agora. Estou me sentindo uma idiota. Uma idiota completa. Por ter chamado
Lorenzo na noite passada. Por gostar dele.
Por ler as mensagens que não para de… hein?
Pisco. Uma vez. Duas vezes. Três e quatro e cinco vezes, mas isso não
ajuda a esclarecer o que estou vendo.

Oi, é a Dinah. Acabei de saber o que aconteceu com Camila. Quer q eu
vá até aí consolar vc? ;)
Minha cabeça se volta na direção da cama dela. Ainda está no sétimo
sono. Mas o número que aparece na mensagem sem dúvida nenhuma é de
Dinah. Meia-noite e dezesseis. Mais ou menos vinte minutos depois de
ter chegado em casa.
Encaro seu vulto adormecido, esperando a fúria me dominar, meus músculos se contraírem e meu sangue ferver diante da traição.
Mas nada acontece. Estou… fria. Apática. E tão exausta que parece que caiu areia nos meus olhos.
Meus dedos tremem ao abrir a mensagem seguinte: A gente pode
conversar?Não, não pode. Na verdade, não quero falar com ninguém agora. Nem Lorenzo nem Dinah.
Encho os pulmões numa inspiração entrecortada. Então me levanto e
rastejo em direção à porta. Ao chegar ao corredor, deslizo contra a parede
até sentar no chão. Meu telefone repousa sobre o joelho, e olho para ele por
alguns segundos antes de abrir meus contatos.
Pode ser muito cedo para ligar para meu pai, mas, em Paris, minha mãe
já está acordada há muito tempo e, agora, provavelmente prepara o almoço.
Ligo para ela, mas a apatia não vai embora. Na verdade, só piora. Não
consigo nem sentir meu coração batendo. Talvez não esteja mesmo. Talvez meu corpo inteirinho tenha se desligado.

“Querida!” A voz exageradamente feliz da minha mãe enche meu
ouvido. “O que está fazendo de pé tão cedo?”
Engulo em seco. “Oi, mãe. Eu… hum… tenho aula cedo.”
“Você tem aula aos domingos?” Ela parece confusa.
“Ah. Não, não. É um grupo de estudo.”
Merda, meus olhos estão começando a arder, e não porque estou cansada.
Droga. Apatia coisa nenhuma — estou a segundos de desatar a chorar.

“Escuta, queria falar com você da minha viagem.” Minha garganta se fecha, e preciso inspirar de novo para conseguir continuar. “Mudei de ideia quanto às datas. Quero ir mais cedo.”
“Sério?”, pergunta ela, animada. “Eba! Estou tão feliz! Mas tem certeza?
Você disse que talvez fosse fazer alguma coisa com os amigos. Não quero que mude seus planos por minha causa.”
“Não deu certo. E quero ir mais cedo, de verdade.” Pisco depressa,
tentando deter as lágrimas. “Quanto antes melhor.”

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