Capítulo 01

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Lorenzo Jauregui


Abril


Estar a fim da namorada do melhor amigo é uma merda.
Primeiro, é estranho. Tipo, pra caralho. Ninguém quer sair do quarto e
dar de cara com a garota dos seus sonhos depois de ela ter passado a noite
com o seu melhor amigo.
Depois, você fica com ódio de si mesmo. É meio difícil não se achar um
babaca quando se fantasia com a pessoa que seu melhor amigo acredita ser
o amor da vida dele.
Por enquanto, estou na fase estranha. O maior problema é que moro
numa casa com paredes muito finas, o que significa que posso ouvir cada
gemido ofegante que escapa da boca de Hannah. Cada suspiro e arquejo.
Cada baque da cabeceira na parede enquanto outro cara transa com a garota
que não sai da minha cabeça.
Superlegal.

Estou deitado de costas na minha cama, olhando para o teto. Já até parei
de fingir que estou procurando alguma coisa na biblioteca do iPod.
Coloquei os fones de ouvido na intenção de abafar os sons de Garrett e
Hannah no outro quarto, mas ainda não apertei o play. Pelo jeito estou a fim
de me torturar esta noite. Não sou idiota. Sei que ela está apaixonada por Garrett. Vejo o jeito como olha para ele, e como os dois ficam quando estão juntos. Faz seis
meses que estão namorando, e nem mesmo eu, o pior amigo do planeta,
posso negar que são perfeitos um para o outro.

E, cara, Garrett merece ser feliz. Ele dá uma de machão, mas a verdade é
que é um santo. O melhor jogador de centro com quem já joguei e a melhor
pessoa que conheço. E estou seguro o suficiente da minha masculinidade
para dizer que, se jogasse no outro time, não só pegaria Garrett Graham como casaria com ele.

O que torna a situação um trilhão de vezes mais complicada. Não posso
nem odiar o cara que está pegando a garota de quem gosto. Não posso nutrir
fantasias de vingança, porque não odeio Garrett, nem um pouco.
Ouço um ranger de porta e passos ecoando no corredor, e peço a Deus
que nem Garrett nem Hannah bata no meu quarto. Ou abra a boca, aliás,
porque ouvir a voz de qualquer um deles agora só vai me machucar ainda
mais.
Por sorte, a pancada forte que faz o batente da minha porta tremer vem
do outro cara que mora conosco, Dean, que entra sem esperar por um
convite. "Festa na Phi Omega hoje à noite. Você vem?"
Pulo da cama muito rápido, de um jeito que beira o patético, porque,
neste momento, uma festa parece uma excelente ideia. Encher a cara é um
jeito infalível de parar de pensar em Hannah. Na verdade, preciso encher a
cara e comer alguém. Assim, se só uma dessas coisas não for o suficiente
para não pensar em Hannah, a outra serve de apoio.

"Tô dentro", respondo, já procurando uma camiseta.
Visto uma limpa e ignoro a fisgada no braço esquerdo, que ainda está
dolorido da entrada violenta que tomei na final do campeonato, na semana
anterior. E valeu a pena - pelo terceiro ano consecutivo, o time de hóquei
da Briar ganhou o Frozen Four. Aparentemente três não é demais, e todos os jogadores, inclusive eu, ainda estão colhendo os louros do tricampeonato nacional.
Dean, que joga na defesa comigo, chama a fase que estamos vivendo de
"Três Fs da Vitória": festa, fama e foda.
E ele acertou em cheio, porque tenho feito todos os três desde a grande
vitória.
"Você é o motorista da vez?", pergunto, enquanto visto um moletom
preto e fecho o zíper.
Ele deixa escapar uma risada. "Como é que é?"
Reviro os olhos. "Foi mal. Onde eu tava com a cabeça?"

A última vez que Dean Heyward-Di Laurentis esteve sóbrio numa festa
foi nunca. Sempre que sai da casa, o cara enche a cara e fica completamente
doidão. E se você acha que isso afeta o desempenho dele no gelo, está
muito enganado. Dean é uma dessas raras criaturas que consegue se divertir
como o antigo Robert Downey Jr. e, não sei como, ser tão bem-sucedido e
amado como o atual Robert Downey Jr.

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