Capítulo 18

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Lorenzo Jauregui

Sempre me recusei a usar álcool como muleta. Se estou triste, chateado
ou magoado, evito a todo custo, porque tenho pavor de precisar demais
disso um dia. De ficar viciado.
Mas, cacete, preciso muito de uma bebida agora.
Lutando contra a vontade, ignoro o armário de bebidas na sala de estar e
me apresso na direção da porta de correr da cozinha. Cigarro. Um hábito
igualmente destrutivo, mas é o menor dos males, no momento. Vou só
inundar minhas veias com nicotina — talvez alivie a enorme bola de culpa
que se instalou na boca do meu estômago.

“Tá tudo bem?”
Jogador de hóquei gigante que sou, dou um pulo de um metro no ar ao
som da voz de Hannah.
Viro e vejo que está de pé diante da pia, com um copo vazio na mão.
Estava tão atordoado que devo ter passado direto por ela em minha corrida
até ali.
Hannah é a última pessoa que quero ver agora.
E está vestindo a camisa do Garrett de novo. Agora está só esfregando
isso na minha cara.

“Aham, tudo ótimo”, murmuro, me afastando da porta. Mudança de
planos. Overdose de nicotina — não mais necessária. Me esconder no quarto — prioridade.“Lorenzo.” Ela se aproxima com passos cautelosos. “O que tá
acontecendo?”
“Nada.”
“Mentira. Você parece chateado. Tá tudo bem?”

Ela toca meu braço, e sinto um arrepio.

“Não quero falar disso, Wellsy.
Não mesmo.”
Seus olhos azuis vasculham meu rosto. Por tanto tempo que me ajeito, desconfortável, e rompo o contato visual. Tento dar um passo, mas Hannah
me impede de novo, bloqueando meu caminho e soltando um gemido de
frustração.

“Sabe de uma coisa?”, começa ela. “Não aguento mais.”
Pisco, surpreso. “Do que você está falando?”

Em vez de responder, ela agarra meu braço com tanta força que é um
milagre que não se desloque. Então me arrasta para a mesa da cozinha e me
empurra com força na direção de uma cadeira. Nossa. É assustadoramente
forte para alguém tão pequena.

“Hannah…”, começo, inquieto.
“Não. Cansei de ficar pisando em ovos.” Ela puxa uma cadeira e senta ao
meu lado. “Garrett fica me dizendo que você vai superar, mas só está piorando, e odeio esse constrangimento. Você costumava sair com a gente, ir ao Malone’s, assistir a filmes, mas agora sumiu, e sinto sua falta, tá legal?” Ela está tão chateada que seus ombros tremem visivelmente. “Então, vamos resolver tudo, certo? Vamos lidar com isso como dois adultos.” Ela
respira fundo, depois me olha nos olhos e pergunta: “Você sente alguma
coisa por mim?”.

Ah, merda.
Por que, por que não fui direto para o quarto?
Cerrando os dentes, passo as mãos pela cabeça. “Bom, isso foi divertido,
mas acho que vou lá em cima me matar agora.” “Senta aí”, ela ordena, com firmeza.
Minha bunda paira sobre a cadeira, mas a aspereza do seu tom lembra muito a voz do treinador Jensen quando está encerrando o treino, e meu medo da autoridade vence. Afundo de novo na cadeira e exalo uma expiração cansada.

“Pra que falar disso, Wellsy? Nós dois sabemos a resposta.”
“Talvez, mas quero ouvir de você.”
A irritação comprime minha garganta. “Tá legal, você quer ouvir? Se eu
sinto alguma coisa por você? É, acho que sim.”

Sua expressão é tomada pelo espanto, como se ela realmente não
esperasse que eu fosse responder.
O que se segue? O silêncio mais longo do mundo. Do tipo “arrume uma
corda, amarre em volta do pescoço e se mate”. Quanto mais quieta ela
permanece, mais patético me sinto.
Quando enfim diz alguma coisa, Hannah me tira dos eixos: “Por quê?”.
Franzo a testa. “Por que o quê?”
“Por que você gosta de mim?”

Se ela pensou que estava se explicando, está absolutamente enganada.
Continuo perplexo. Que tipo de pergunta é essa?
Hannah balança a cabeça como se também estivesse tentando entender.
“Eu vejo as meninas que você traz para casa ou com quem fala no bar. Você
tem um tipo. Alta, magra, em geral loira. E elas tão sempre correndo atrás
de você e te enchendo de elogios.” Ela ri, com desdém. “Tudo o que eu faço
é insultar você.”

Não posso deixar de sorrir. Seu sarcasmo beira o abuso a maior parte do
tempo.

“E você tende a ficar em volta das mulheres que não querem nada sério.
Você sabe, que só querem se divertir. Não sou esse tipo de garota. Gosto de namorar.” Ela franze os lábios, pensativa. “Nunca tive a sensação de que
você estivesse interessado nisso.”
A acusação me deixa na defensiva. “Por quê? Porque sou mulherengo?”
Indignado, soo mais ríspido do que pretendia. “Já pensou que talvez seja
porque ainda não encontrei a garota certa? Não, eu realmente não poderia
querer alguém com quem ver um filme abraçadinho, alguém que usasse
minha camisa do time, que torcesse por mim nos jogos, que fizesse o jantar
comigo do jeito que você e Garrett…”
Sua gargalhada me faz parar no meio da frase.
Estreito os olhos para ela. “Do que você está rindo?”
O riso dela morre e seu tom fica sério. “Lorenzo… durante todo esse
discurso, em nenhum momento você disse que queria fazer essas coisas
comigo. Você disse alguém.” Ela sorri. “Acabei de entender.”
Ótimo, bom para ela, porque não tenho a menor ideia do que está
falando.
“Passei esse tempo todo achando que você estava me olhando todo
apaixonado. Mas na verdade você estava olhando para a gente.” Hannah ri
de novo. “Todas essas coisas que você acabou de listar são coisas que
Garrett e eu fazemos juntos. Você não está a fim de mim. Está a fim de mim
e do Garrett.”
Levo um susto. “Se você está insinuando que quero sacanagem com você
e meu melhor amigo, posso garantir que não.”
“Não, você só quer o que a gente tem. Quer a conexão, a proximidade e
toda a coisa melosa que vem com um relacionamento.”

Minha boca se fecha.
Será que ela tem razão?
À medida que absorvo suas palavras, meu cérebro confuso repassa
depressa todas as fantasias que tive com Hannah nos últimos meses… Bem,
para ser sincero, a maioria delas não foi sexual. Quer dizer, algumas foram, porque ela é gostosa. E passa muito tempo aqui, o que me dá bastante
material para punheta. Mas, tirando algumas fantasias sem roupa, costumo
imaginar cenários bem família. Como quando a vejo aconchegada com
Garrett no sofá e desejo estar no lugar dele.
Mas… será que estou desejando estar no lugar dele com ela ou
simplesmente no lugar dele em geral?

“Olha, gosto de você, Lorenzo. De verdade. Você é engraçado e gentil, e
muito sarcástico, que é algo que me atrai num homem. Mas você…”, ela
parece desconfortável, “… não faz meu coração palpitar. Acho que é a
melhor maneira de dizer. Não, não é isso.” Sua voz fica meio distante.
“Quando estou com Garrett, meu mundo inteiro se ilumina. Me sinto tão
viva que parece que meu coração vai transbordar, e sei que isso vai soar
como exagero ou algum tipo de obsessão, mas às vezes acho que preciso
dele mais do que de comida ou oxigênio.” Hannah fita meus olhos. “Você
precisa de mim mais do que oxigênio, Lorenzo?”

Engulo em seco.
“Sou a última pessoa em quem você pensa quando vai para a cama e a
primeira em quem pensa quando acorda?”
Não respondo.
“Sou?”, ela insiste.
“Não.” Minha voz sai rouca. “Não é.”
Puta merda.

Acho que ela tem razão. Todo esse tempo fiquei me sentindo culpado por
desejar a namorada do meu melhor amigo, mas acho que o que eu queria
mesmo era o relacionamento do meu melhor amigo. Alguém com quem
passar o tempo. Alguém que me desafie e me faça rir. Alguém que me
faça… feliz.
Tipo a Camila?
O pensamento zombeteiro corta minha mente feito um sabre de luz.

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