Ecos da Tormenta

2 - Good Riddance (Time Of Your Life)

O vento uivava com uma intensidade quase sobrenatural enquanto Dra. Anuntrakul esperava, a chuva torrencial e as rajadas de vento dificultando a visão além de alguns metros. Estava ali, dentro do carro parcialmente destruído, há cerca de quarenta minutos, tentando manter a jovem moça estável até a chegada dos socorristas. O tempo parecia estender-se indefinidamente enquanto ela lutava para conter os danos causados pelo acidente.

Em meio ao caos da tempestade e à urgência do resgate, Samanun encontrou-se fascinada pelos traços delicados da mulher que estava lutando para salvar. A pele clara e jovem contrastava com a brutalidade do acidente e destacava-se sob a iluminação intermitente dos raios. Os cabelos castanhos, agora desgrenhados pelo impacto e pela chuva, ainda mantinham um brilho que sugeria cuidado e vaidade.

As roupas sociais impecáveis contavam uma história própria. A camisa de seda e o blazer bem cortado eram testemunhas silenciosas de uma vida de prestígio e responsabilidade. Os acessórios discretos, mas elegantes, indicavam uma mulher de gosto refinado e status elevado. Tudo nela transmitia uma aura de controle e perfeição, agora drasticamente alterada em meio à incerteza da sobrevivência.

Enquanto mantinha a pressão sobre os ferimentos e monitorava os sinais vitais, Sam não pôde evitar imaginar quem era aquela mulher. A combinação de luxo e profissionalismo sugeria alguém importante, possivelmente uma executiva ou alguém com um papel de destaque na sociedade. A incerteza sobre a identidade e a vida daquele mulher inerte sob suas mãos despertava a curiosidade da médica, que sentia um desejo intenso de entender mais sobre a estranha em seus braços.

Em um momento de curiosidade, Sam alcançou uma bolsa preta Chanel engatada entre os bancos dianteiros do carro, procurando por alguma identificação. Entre os itens pessoais, encontrou uma carteira de couro fina e elegante. Ao abri-la, seus olhos fixaram-se na carteira de identidade: Kornkamon Phetpailin. O nome soava forte e imponente talvez até familiar, e Sam repetiu-o mentalmente, tentando ligar aquele nome aos traços delicados e à situação trágica diante dela.

Os pensamentos de Sam flutuavam enquanto ela continuava seus esforços para manter Kornkamon estável. Admirava a resiliência daquela mulher, que, mesmo em um estado tão vulnerável, parecia exalar uma força inata.

A batalha pela vida continuava a cada segundo, e a proximidade física e emocional que a médica direcionava para a, não mais desconhecida, mulher á sua frente era cada vez mais intensa. Sam, perdida em seus pensamentos e no frenesi do momento, encontrava uma estranha beleza no cenário de devastação. A tempestade, com toda a sua violência, havia criado um elo inesperado e indelével entre duas almas que, de outra forma, talvez nunca tivessem se cruzado.

Finalmente, as sirenes de uma ambulância romperam a noite tempestuosa, aproximando-se lentamente pelas ruas inundadas. Quando os socorristas chegaram ao local, Samanun rapidamente tomou a dianteira, informando-os sobre o estado crítico da paciente.

A médica se apresentou e informou sua capacitação, perguntou a qual hospital a levariam e suspirou em um misto de alívio e preocupação ao perceber que seriam conduzidas ao hospital onde ela trabalhava. Ela descreveu detalhadamente os procedimentos que havia realizado para estabilizá-la. Kornkamon havia sofrido uma fratura externa distal da tíbia direita, um traumatismo craniano, tinha hematomas visíveis no tórax devido à força do impacto e cortes superficiais pelo rosto.

"Quando cheguei ela já estava inconsciente. A prioridade foi verificar as vias aéreas. Ela estava com uma leve obstrução, então reposicionei a cabeça para garantir uma via aérea permeável e monitorei a respiração o tempo inteiro. A fratura na tíbia era exposta então improvisei uma tala para imobilizar a perna e minimizei o sangramento aplicando pressão direta e um torniquete proximal" explicou Samanun, apontando para a perna de Kornkamon.