CAPÍTULO 5

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Pov Luiza

Entrou em seu apartamento sem enxergar nada à sua volta. Andou perdidamente, a passos rápidos pela sala e entrou no quarto. Meu Deus! Que mulherzinha irritante. Suas mãos tremiam de raiva e o braço estava dolorido. Era realmente uma bruta. Luiza achava incapaz que alguém daquele tamanho poderia irradiar tanta arrogância. Valentina tinha aquela pose de dona do mundo, como se tudo que fizesse estivesse certo.

Foi para a cozinha, e para ocupar as mãos, começou a descascar algumas batatas. Iria fazer um jantar para ela mesma. Não sabia de onde havia tirado essa ideia. Ela não fazia muito o tipo que cozinhava. Giovanna assumia essa função de bom grado. Maravilha! Hora perfeita para pensar na ex que não valia nada. Voltou seus pensamentos para Valentina. Ah, se iria pensar na vizinha insuportável, ela precisaria de álcool. Largou a batata no balcão e espetou a faca com força em uma delas. Amarrou o cabelo em um rabo de cavalo rápido e pegou limão e vodka na geladeira. Uma das vantagens de ser desempregada, era poder beber quando quisesse, e hoje ela queria beber. Fazia calor ali. Deu um belo gole em sua bebida e levou o copo para o quarto. Colocou uma roupa mais leve. Sentiu que a raiva começava a se dissipar aos poucos. Seu rosto já não estava queimando, embora ainda estivesse quente.

Voltou para a cozinha e olhou a batata assassinada. A faca tinha tombado de lado. Desistiu de cozinhar. Ia pedir comida. Estava decidido.

Largou o corpo no sofá, tomando cuidado para não derramar o líquido do copo. Amanhã iria encomendar o papel de parede para acabar de uma vez com todo aquele verde. Sorriu levemente. Não via a hora de poder morar em uma casa com paredes neutras, que não causavam dor de cabeça caso ela ficasse mais de dez minutos no cômodo. Sinceramente, Luiza não fazia ideia de como alguém conseguiu morar em um lugar assim. Ou porque alguém escolheria propositalmente pintar o apartamento daquela cor.

Ela havia ido pela primeira vez ao apartamento de Priscila hoje, e simplesmente adorou o tom de cinza que as paredes tinham. Talvez ela cogitasse colocar aquela cor no quarto. Balançou a cabeça negando a ideia. Se recusava a deixar as suas paredes da mesma cor do apartamento de Valentina. Sabia que o apartamento era dela porque Priscila lhe contou.

Passou a mão devagar pelo braço machucado. Não podia acreditar que tudo aquilo tinha acontecido em menos de dez minutos. Mas poderia ter sido bem pior se tivesse caído. Por sorte, Valentina segurou-a a tempo. Sorte? Mas o que ela tinha na cabeça? Se não fosse por Valentina, em primeiro lugar, nada daquilo teria acontecido. Mas não podia negar que gostou da sensação de ter as mãos dela em volta da sua cintura. Começou a sorrir, mas deteve-se. Aquilo não era motivo de riso. Primeiro, Valentina era a Valentina, segundo, ela estava separada havia duas semanas. Legalmente ainda era casada e já estava apreciando a primeira mulher esquentadinha que passava as mãos pela sua cintura. Apreciar era uma palavra forte. Pegou o celular e rolou pelas opções de cardápios disponíveis no aplicativo de entrega. Escolheu a opção que achou que demoraria menos. Colocou o copo vazio em cima do braço do sofá e esticou as pernas. Sentiu a moleza que o álcool causava e ficou com os olhos fechados por um longo tempo, com o corpo relaxado. O toque do interfone lhe tirou do transe. Levantou sem vontade e atendeu. Pegou sua carteira, colocou um chinelo e foi ao encontro do entregador. Na volta, segurando o pacote quente em sua mão, entrou no elevador e apertou o botão do oitavo andar. Ele começou a mover-se, as engrenagens fazendo barulho no cubículo silencioso. Abriu as portas no quarto andar. Luiza estava olhando para o teto do elevador, pensando em tomar um banho quente depois que comesse. Ou seria melhor tomar antes? Depois de comer ficaria com preguiça, ela sabia. Ia tomar uma ducha rápida antes de comer. Sua concentração foi quebrada quando uma pessoa entrou no elevador.

Claro que teria de ser Valentina. O que ela estava fazendo ali? Percebeu que usava um par de pantufas azuis nos pés que antes estavam descalços. Valentina olhou para ela dos pés à cabeça, mas nada disse. As portas do elevador se fecharam e elas ficaram confinadas. Luiza decidiu que se Valentina adotaria a posição de ignorá-la, então ela faria o mesmo. Eram capazes de subir quatro andares sem brigarem. Valentina mantinha as costas viradas para ela, que estava no fundo do elevador. Podia ver o contorno do rosto dela, dos seus ombros bronzeados bem definidos. Com certeza ela malhava. Seu cabelo estava puxado para a frente de um único lado, permitindo que ela pudesse ver em sua nuca uma camada fina de pelos castanhos, fininhos. Teve vontade de tocá-los. Sabia que se passasse suavemente as pontas dos dedos ali, aqueles pelinhos iriam se arrepiar. Desviou o olhar para o teto novamente.

Valentina virou levemente o rosto para o lado, tentando disfarçadamente olhá-la.

— Pode ficar tranquila, não vou te apunhalar pelas costas. — Falou Luiza, com a voz pacífica.

Valentina virou-se por completo agora que havia sido descoberta. Luiza percebeu que seu olhar foi direto para a sua boca. Passou a língua pelos lábios, sem saber bem o porquê.

— Eu sei. — Ela falou, colando o olhar no seu. — Você não teria coragem.

Involuntariamente, Luiza endireitou o corpo e levantou o queixo. Normalmente usava aquela postura no tribunal, para intimidar pessoas. Encolheu levemente os olhos, mas ficou em silêncio. Não iria perder a paciência. Não deixaria aquela mulher mexer com as suas emoções. Não permitiria que ninguém mexesse com as suas emoções. Voltou a olhar para o teto. Valentina não se moveu. Luiza baixou os olhos novamente e viu que ainda estava sendo encarada. Não conseguiu ler a expressão do rosto dela.

— O quê? — Perguntou, fazendo um esforço para não engrossar a voz.

O som do elevador acusou que haviam chegado no oitavo andar. Valentina segurou a porta para Luiza sair. Olha só quem era capaz de fazer gentilezas. Ela passou apressada e segurou-se para não correr até o seu apartamento. Antes de abrir a porta, olhou para o corredor em busca de Valentina. Viu-a andando tranquilamente. Tinha algo que lembrava um predador na maneira em que se movia. Seus olhos estavam fixos em Luiza. Ela passou as mãos pelos cabelos, despreocupadamente. Jesus. Luiza queria bater nela. Abriu a porta rapidamente e quando deu um empurrão para que ela se fechasse, imaginou ter escutado a voz de Valentina. Imaginação ou não, não tinha interesse em nada que saísse da boca dela.

Eu soube que é vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora