Eu soube que é você

CAPÍTULO 17

Pov Valentina

Os dois dias que passou ao lado do pai recarregaram as energias de Valentina. Eles aproveitaram cada segundo juntos. Foram a restaurantes, jogaram vôlei na areia, tomaram água de coco observando os turistas alegres passando, visitaram a feirinha local, tomaram mais sorvetes do que Valentina conseguiu contar, riram e confidenciaram segredos. Exceto sobre a nova namorada dele. Valentina chegou até mesmo a falar sobre Luiza. A conversa foi meio confusa, ela não sabia explicar direito o que estava acontecendo, ou se estava acontecendo algo, mas queria dividir com alguém seus sentimentos. Também não conseguia formar uma frase coerente explicando o que sentia. Seria necessário o uso de muitos adjetivos. Seu pai abriu um sorriso reconfortante e falou que entendia.

Valentina decidiu que naquela segunda-feira iria trabalhar em casa. Normalmente esse era o único dia que ela ia para o escritório, mas ainda estava cansada da viagem e com nenhuma vontade de pegar trânsito. Aquele dia foi o início de uma temporada chuvosa e ela agradeceu por terem escolhido o fim de semana certo para irem à praia. Um dos motivos para ter ficado em casa, e honestamente o mais importante deles, era que sentia falta de Luiza e iria pensar em um motivo para bater na porta dela o quanto antes. Sabia que não deveria ter dado um presente para ela, mas não conseguiu evitar. Queria que Luiza tivesse um pedacinho dela em sua casa.

Tinha que arrumar um motivo logo, não estava conseguindo se concentrar no trabalho. Batucou os dedos na mesa, pensando. Levantou-se de supetão e foi para a porta a passos rápidos. Iria improvisar. Quando abriu a porta, Luiza estava com o braço levantado para bater. Valentina queria poder falar que o motivo do coração ter parado por um segundo era susto. Mas não era.

— Você me assustou. — Luiza falou, com um meio sorriso. — Você precisa ser menos brusca com as portas.

— Desculpe. — Valentina abriu espaço para ela entrar. — Eu estava focada.

— Em quê? — Luiza olhou em volta.

— Hãn. — Valentina ponderou rapidamente. — Em meus pensamentos.

— Certo. — Luiza apontou para um notebook que carregava fechado embaixo de um dos braços. — Você pode me ajudar?

— Claro. — Apontou para um lugar no tapete ao seu lado na mesa de centro. — Sente-se no meu escritório. O que precisa?

— Eu tenho uma reunião daqui a vinte minutos. — Luiza respondeu, enquanto sentava ao lado de Valentina. Colocou o aparelho ao lado do dela e abriu. — E minha câmera não está funcionando. — Franziu a testa preocupada.

— Deixe-me ver. — Valentina puxou o computador para ela. Enquanto digitava alguns comandos, sentiu seu braço encostar no de Luiza. Seus pelos ficaram todos em pé, mas não se afastou um centímetro sequer. Um calor tomou conta de todo o lado esquerdo do corpo. Luiza observava concentrada para a tela e não pareceu ter percebido. — Você fez alguma modificação de configuração nele? — Perguntou, virando o rosto em direção a Luiza e percebeu que se aproximou demais. Tirou os olhos rapidamente. Não ficaria criando climão.

— Eu acho que não. — Ela respondeu, pensativamente. — Mas não vou falar que é impossível eu ter feito isso sem querer. — Sorriu.

— Certo. — Valentina concentrou-se e ficou algum tempo analisando as opções. Depois de cinco minutos imersa na atividade, ela endireitou o corpo, triunfante. — Prontinho. — Sorriu orgulhosa e virou para Luiza. Ela estava com os olhos grudados em seu rosto. Valentina demorou alguns segundos para perceber que não era um olhar comum. Era intenso. Profundo. Inesquecível. Valentina sentiu um calor sair de seu coração e espalhar-se pelo corpo todo. Nunca havia sentido algo daquele gênero. E certamente jamais imaginou que um único olhar despertaria esse tipo de emoção em seu peito. Aquele castanho era tudo que Valentina conseguia ver. Sem pensar, tocou a face dela com a ponta dos dedos, suavemente. Luiza colocou a mão por cima da sua. O coração acelerou. As pernas cruzadas impediam que elas ficassem de frente, mas Valentina aproximou o rosto mesmo assim.