CAPÍTULO 8

121 31 1
                                    

Pov Valentina

Valentina estava encarando a porta branca que acabara de ser batida na sua cara. Mas que porcaria foi aquela?! Levantou a mão para bater na porta novamente, mas desistiu. Já estava com os nervos fora de controle, nada de bom sairia de mais um confronto com Luiza.

Ela tinha ido na melhor das intenções desculpar-se e o que encontrou? Ela nem sabia por que estava surpresa, já que tratava-se de Luiza. O que esperava? Um sorriso educado e um convite para entrar e tomar uma xícara de chá? O sangue borbulhava em suas veias. Entrou na academia e colocou cinco quilos a mais do que normalmente usava nos aparelhos. Iria usar essa fúria a seu favor.

Aquela mulher não sabia ser sociável em nenhum momento da vida? Tinha que andar o tempo todo com aquele nariz empinado e aqueles olhos indiferentes? Valentina pensou que o nariz de Luiza era o nariz mais lindo que já tinha visto. Forçou-se a parar com esse pensamento. Além do fato de que Luiza não sabia conversar sem ser seca, estúpida ou gritando. O que tinha de errado com ela? E o que ela estava fazendo com Priscila na sala, quando ela chegou em casa mais cedo? Valentina passou a semana se martirizando por causa do que acontecera com Mônica, e Priscila estava se divertindo com a vizinha arrogante? Ela tinha mesmo um dedo ruim para mulheres. Não que Valentina pudesse julgar, já que fazia tempo que não ficava com ninguém por tempo suficiente para saber se prestava ou não. Não era por escolha. Valentina não se orgulhava e nem espalhava o fato de estar todo fim de semana com uma mulher diferente, inclusive, a única pessoa que sabia desse seu lado era Priscila. Ela queria sim encontrar sua alma gêmea, seu amor verdadeiro, sua cara metade. Só um louco não iria querer isso. Passar as tardes chuvosas de inverno deitada de conchinha com o amor da sua vida, comendo pipoca na frente da televisão. Ter alguém para dividir as coisas boas e ruins, viajar, abraçar no fim do dia. Mas esse era o problema. Desconfiava que a alma gêmea dela estava na prisão, por isso ainda não havia aparecido. Torcia para que não fosse pela acusação de homicídio. Enquanto a pena dela não acabava, Valentina ia aproveitando a vida. E ela estava se divertindo, até Luiza aparecer e tirar toda a calma que morava em seu corpo. Achava que seria incapaz de passar perto da porta dela sem sentir o coração palpitar. E a má notícia era que ela não conseguiria entrar em casa sem passar pela porta de Luiza. Deu um chute forte em um saco de pancadas que estava pendurado e recebeu um olhar de censura do treinador.

Pelo menos Priscila tinha concordado em acabar com o período de isolamento. Isso era um bom sinal. Esperava que a amiga estivesse bem, e de certa forma, ficava feliz que Priscila tivesse a insolentezinha para cuidar dela. Não sabia até onde se estendiam os cuidados. Valentina franziu a testa. Quis voltar para dar um murro no saco de pancadas, mas resolveu não brincar com a paciência do treinador. Talvez fosse uma boa ideia matricular-se nas aulas de boxe. Era isso ou uma veia de sua cabeça estouraria a qualquer momento.

Quando as portas do elevador abriram no oitavo andar, ela torceu para não encontrar ninguém. Não estava de bom humor. Aproximou-se com as chaves nas mãos e ouviu a porta atrás de si abrir-se. Seu corpo se retesou. Não queria arrumar briga àquela hora da noite. Ia acabar com o seu sono. Girou a chave e recusou-se a olhar para trás.

— Ah, bem na hora. — Ouviu Priscila falar.

— Oi. — Valentina falou, virando-se parcialmente e sorrindo para a amiga. Lutou para não olhar para dentro do apartamento de Luiza. Deixou a porta aberta e deixou Priscila passar antes de entrar e trancá-la. — Você está bem? — Perguntou, focando toda a sua atenção nela.

— Estou melhorando. — Priscila respondeu, com um sorrisinho. — Escuta, quero pedir desculpas por essa semana. Eu estava colocando minha cabeça em ordem, e eu realmente agradeço por você ter me contado. Sei que não deve ter sido fácil. — Falou, abraçando Valentina.

— Eu estou toda suada. — Valentina falou, enquanto abraçava ainda mais forte.

— E eu estou toda suja de tinta. — Priscila disse, esfregando as mãos manchadas nos ombros de Valentina.

— Se eu puder fazer qualquer coisa para te ajudar, me avise. Não importa o que seja. — Apertou ainda mais os braços em volta da amiga.

— Você pode me deixar respirar. — Priscila pediu, com a voz falhando.

Valentina soltou-a rapidamente.

— Desculpe. — Dobrou o braço, dando tapinhas no músculo. — Sabe como é, o Júnior é nervosinho.

— Acho que Júnior é um bom nome, já que ele é imperceptível. — Priscila falou. — Se eu disser imaginário você vai se ofender?

— Ela não quis dizer isso, Júnior. — Valentina agradou o próprio braço. — Já comeu? — Perguntou, indo para a cozinha e enchendo um copo com água de coco.

— Acabei de jantar. — Priscila respondeu. — Preciso dizer que a Luiza é um desastre na cozinha. Ela mora há quase um mês naquele apartamento e só tem uma panela. Se ela te oferecer qualquer coisa para comer que ela mesma tenha preparado, recuse. — Aconselhou, com o olhar sério.

— Se ela me oferecer qualquer coisa, vai estar envenenado. — Valentina falou, com a voz amargurada.

— Vai, não vai? — Priscila lançou um sorriso. — Queria poder dizer que não, mas não coloco minha mão no fogo. Vocês duas são imprevisíveis. E a interação de vocês mais cedo — soltou um assovio — foi de arrepiar. Achei que o rosto da Luiza fosse explodir em cima de mim.

— O que posso dizer? Sou irresistível. — Valentina falou, desgostosamente. Tomou todo o líquido do copo. — Você está saindo com ela? — Perguntou, olhando fixo para a amiga.

— Saindo? Saio daqui para o apartamento dela só. — Priscila respondeu, confusa.

— Você entendeu. — Valentina revirou os olhos. — Não é todo dia que encontro você de sutiã com outra mulher no meio da casa. — Tentou deixar o tom de voz neutro.

— Por quê? — Priscila deu um sorriso insinuante. — Está com ciúmes?

— De você? — Valentina riu.

— Da Luiza. — Priscila respondeu, com a voz melosa.

— Até parece. — Valentina bateu o copo no tampo da pia. — Por que eu teria ciúmes dela? Só quero saber se...

— Ela está disponível? — Interrompeu Priscila.

— Não. — Valentina respondeu, com firmeza. — Na verdade eu não quero saber mais nada. Vamos mudar de assunto.

— A resposta é sim. — Priscila disse e virou as costas.

Sim o quê? Estava disponível ou estava saindo com ela? Claro que Valentina não ousava perguntar.

Pegou seu pijama e foi em direção ao banheiro ao mesmo tempo que Priscila.

— Eu tenho uma ideia. — Valentina falou, colocando a mão na porta, impedindo a passagem de Priscila. — Por que você não vai tomar banho na casa da sua namorada e deixa eu usar o chuveiro aqui de casa? Nada mais justo, você passou o dia ajudando-a, é o mínimo que ela pode fazer.

— Ela deve estar dormindo. — Priscila retrucou. Valentina não deixou de perceber que ela não negou a parte de Luiza ser sua namorada.

— Isso é impossível. Não faz dez minutos que você saiu de lá. — Valentina falou e pressionou os lábios.

— Provavelmente ela também está tomando banho, já que estava tão suja quanto eu. — Priscila disse.

Valentina olhou para a amiga toda manchada de tinta e suspirou.

— Não demora. — Falou, tirando o braço da frente.

— Você é um amor. — Priscila disse, enquanto entrava saltitante no banheiro.

Eu soube que é vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora