CAPÍTULO 25

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Pov Valentina

A rede balançava em um ritmo hipnotizante, e Valentina observava os galhos altos das árvores entrarem e saírem do seu campo de visão. Seu pai sentou-se na poltrona perto dela, com uma cerveja nas mãos. Era raro vê-lo vestido informalmente e Valentina achava que ele ficava mais jovem sem a gravata. Ele tinha os olhos pretos, a pele muito clara e os cabelos estavam ficando grisalhos. Era um homem bonito. Ele tinha acabado de contar sobre a sua namorada, Verônica, e ela estava verdadeiramente feliz por ele. O fato dele ter deixado para falar sobre isso quase na hora de ir embora com certeza não foi coincidência. Não queria correr o risco de estragar a viagem, caso Valentina não soubesse lidar com a notícia. Conversaram muito sobre quem Verônica era, onde se conheceram e marcaram um jantar no próximo fim de semana para que as famílias se conhecessem. Valentina aproveitou a deixa e perguntou se poderia levar Luiza com ela, o que gerou mais algumas horas de conversa.

Fazia dois dias que não via Luiza e o seu coração estava apertado, sentindo falta daqueles olhos castanhos e bom, todo o resto. A voz, o cheiro, os cabelos, o jeito de sorrir, o biquinho pensativo, a ruguinha na testa quando estava concentrada, a forma como movia as mãos quando falava. Valentina a podia citar o dia todo as coisas que amava em Luiza. Suspirou contente, porque dali a três horas, bateria na porta do apartamento 87. Aproveitou cada minuto da viagem com o pai, mas não deixou de pensar em Luiza por um único segundo. Pela primeira vez, pegou-se fazendo planos para o futuro com alguém e a ideia de apresentá-la para o seu pai fez comichões passarem pelo seu coração. Nunca havia levado ninguém para a casa do seu pai, nem mesmo para a sua, sendo honesta, e imaginou que era assim que adolescentes se sentiam no ensino médio.

Seu pai, não é preciso dizer, ficou extasiado e quis saber tudo sobre elas e Valentina contou alegremente. Só o fato de pronunciar o nome dela já lhe causava satisfação, e quando mostrou orgulhosa a foto de Luiza para o pai, seu peito inflou de amor.

Depois que seu pai a deixou na frente do prédio, Valentina desceu no quarto andar, entregou algumas coisas que Maycon havia emprestado para a viagem e prometeu voltar mais tarde. Quando andava pelo corredor do oitavo andar, viu a porta de Luiza abrir. Timing perfeito, pensou. Apressou o passo e parou bruscamente quando viu a ex de Luiza sair do apartamento. Sua cabeça começou a girar. A mulher estava com o rosto vermelho e com o cabelo desarrumado. Ajeitou o vestido colado na altura das pernas, passou a mão pelo cabelo dourado e levantou o olhar. Quando viu Valentina, endireitou a coluna e deu alguns passos na direção do elevador. O barulho dos saltos irritou-a profundamente e quando elas se cruzaram no corredor, Valentina a segurou pelo braço.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntou, ameaçadoramente baixo.

— Eu vim visitar a minha esposa. — Respondeu, olhando para o braço que Valentina segurava.

— Ela não é mais a sua esposa. — Valentina sibilou.

— Não? Eu tenho papéis que provam que você está errada. — Puxou o braço com força, livrando-se do aperto de Valentina. — Quem é você? — Perguntou, com um olhar duro. — Deixa eu adivinhar. Está apaixonada pela vizinha nova? — Sorriu maldosamente. — Você não faz o tipo dela, não se iluda. Ela precisa de uma mulher de verdade para cuidar dela. Estou aqui para isso.

Valentina sentiu o seu rosto esquentar e largou a bolsa no chão.

— E de quantas mulheres você cuida, exatamente? Fiquei sabendo que não conseguiu manter as calças levantadas. — Valentina virou-se de frente e quase tocou o nariz dela com o da loira.

— Para você ver. E ainda assim ela me quer. — Piscou com superioridade e virou as costas para Valentina.

Valentina ponderou se ia atrás dela, mas nada de útil ia sair dali. Pegou a bolsa e bateu na porta de Luiza. Os nós dos dedos doeram com a força com que atingiram a madeira. Nada. Bateu mais uma vez e quando ninguém atendeu, desistiu. Bufou e entrou em casa. Mas que merda estava acontecendo? Luiza ainda estava casada? O que elas estavam fazendo juntas? E por que, em nome de Deus, a ex dela saiu toda desarrumada de lá? Não queria pensar o pior, mas as circunstâncias realmente não ajudavam. Patrulhou a casa rapidamente e viu que Priscila não estava lá. Onde ela estava? Ela era amiga de Luiza, se algo estivesse acontecendo, com certeza ela saberia. Tentou ligar, mas ninguém atendeu. Pegou uma garrafa de vinho e foi até o apartamento de Maycon. Não queria ficar sozinha, remoendo o que acabara de acontecer. Precisava de alguém para analisar os fatos com ela e logo ficou claro que escolheu a pessoa errada. Maycon era um otimista e começou a inventar as versões mais mirabolantes para justificar a presença da esposa de Luiza no apartamento. Esposa. A palavra saia azeda de sua boca. Depois de horas, o assunto desgastou-se. Não havia mais nada a ser dito que eles já não houvessem falado, mas a indignação de Valentina não tinha diminuído por isso. Decidiu que não seria uma boa hora para procurá-la, por causa do horário avançado e da garrafa de vinho que partilhara com o amigo. Sabia que o álcool podia deixar as pessoas cruéis, quando acham a oportunidade certa. Pediu para Maycon colocar um jogo de luta no Playstation e ela distribuiu socos e chutes por um longo tempo.

Eu soube que é vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora