CAPÍTULO 11

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Pov Valentina

Valentina chutou as pedrinhas que cobriam o chão e soltou um grito frustrado. Puxaria os próprios cabelos se fosse alguns anos mais nova.

— O que temos aqui? — Priscila perguntou. — Garota, você precisa aprender a lidar melhor com um fora.

— Meu Deus! — Valentina gritou. — Essa sua amiga... ela é... sua amiga é...

— Linda? Maravilhosa? Irresistível? Um sonho? — Priscila falou. — Pode escolher. Eu sei que já te passou pela cabeça todas essas opções.

— Arrogante. Pretenciosa. — Valentina respondeu.

— Olha só quem resolveu falar sobre presunção. Esse mundo é mesmo um lugar justo. — Priscila falou, mas manteve uma distância segura.

— Eu a detesto. — Valentina disse, enquanto a respiração se acalmava. — Não sei como você consegue ficar tanto tempo perto dela.

— Ela não é charmosa assim com todo mundo, você sabe. — Priscila fingiu analisar as unhas. — Você não parecia detestá-la enquanto agarrava a cinturinha dela, há dois minutos. Tenho provas em vídeo, caso você precise ser convencida.

— Eu não agarrei a cintura dela. E eu não quero mais falar sobre isso. — Valentina se dirigiu para a porta. — Vamos embora? Por favor?

— Hum, parece que vai dormir em casa, no final das contas. — Priscila a seguiu.

A verdade era que ela havia sim agarrado a cintura de Luiza. Não usaria a palavra agarrar, e sim a expressão "ceder aos encantos da morena sexy".

Valentina ficou involuntariamente procurando por Luiza a noite toda, seus olhos grudados nela. Maycon já havia feito todo o tipo de piada com isso, mas ela não se importava. Ficou verdadeiramente fissurada pela visão de Luiza cantando e dançando despreocupadamente. O sorriso que ficou grudado no rosto dela a noite toda era estonteante. Era difícil acreditar que Luiza transformava-se naquela outra versão. Aparentemente o problema era unicamente com Valentina. Ela prestou bastante atenção no fato de Luiza e Priscila não se tocarem, não se beijarem e não lançarem olhares apaixonados. Apenas pareciam duas amigas na festa de formatura. Valentina começou a perceber os olhares que eram lançados para Luiza o todo o tempo. Ela era nova no lugar e fazia tudo, menos passar despercebida. Não podia culpar ninguém. Tinha que ter muita determinação para não virar a cabeça para olhar com mais atenção. Luiza estava corada, sorrindo e com os olhos brilhando e Valentina desejou que elas não se odiassem, para poder ir até lá e fazer parte da dupla sertaneja que ela havia montado com Priscila. Uma garota parou ao seu lado e falou alguma coisa inteligível ao seu ouvido. Valentina rapidamente fez sinal negativo com a cabeça, mesmo sem saber o que havia sido dito. Voltou a olhar para Luiza. Ela havia sumido. Rodou a cabeça para os lados, procurando-a em todos os cantos. Nada. Empertigou-se no banco, atenta. Para onde ela tinha ido?

— Eu já volto. — Falou para Maycon. — Vou dar uma volta.

Maycon concordou com um gesto e voltou sua atenção para o novo amigo.

Valentina deu um giro completo com o corpo, decidindo em qual direção deveria ir. Antes que saísse do lugar, avistou Luiza perto da porta do banheiro conversando com uma loira. O sangue de dela deu uma leve borbulhada. Contenha-se, disse a si mesma, você nem gosta dela.

Viu quando a loira entregou uma garrafa de água para Luiza e elas desapareceram na saída. Valentina caminhou até a porta de vidro e ficou observando as duas conversarem. Não sabia desse seu lado stalker e sentiu-se estranha quando pensou sobre o que estava fazendo. Começou a virar as costas para voltar ao seu lugar, quando viu a estranha aproximar-se de Luiza. Ela ia beijá-la? Valentina foi atingida por uma onda de irritação e antes que pudesse impedir, estava passando pela porta de vidro. Quando Luiza a viu, afastou-se levemente da garota e seus olhos entraram em combustão. Valentina tinha um dom, pensou. Não sabia o que iria dizer, só queria que a garota saísse dali. Não conseguia racionalizar o que estava fazendo. Sabia que não tinha direito algum de estar ali, e que a última pessoa que Luiza gostaria de ver na vida era ela. Mas Valentina sempre foi impulsiva e esperava não fazer nada que se arrependesse depois. Depois que a loira sumiu, ela conseguiu se acalmar um pouco, e estava com a complicada missão de tranquilizar Luiza. Tinha consciência que o que fez não tinha pé nem cabeça e Luiza estava cheia de razão enquanto gritava com ela. Se ela soubesse como ficava linda quando estava nervosa... Valentina balançou a cabeça. Com certeza ela não queria saber. Não escutou a metade dos protestos porque estava ocupada demais admirando os olhos castanhos na sua frente. Não soube de onde veio aquele "ela não merece você" e ficou tão surpresa quanto Luiza quando ouviu as palavras. Precisava parar com aquilo ou teria que sair correndo com ela para um hospital. Valentina achou que era impossível o rosto de Luiza ficar mais vermelho e admirou-se de ter tanta raiva voltada para si mesma. Com certeza, Luiza não economizava energia. Levou as mãos até a cintura dela. O que estava fazendo? Luiza ficou em silêncio e olhou-a com ferocidade. Passou as mãos pelo seu pescoço e suas costas se arrepiaram. Quando sentiu o hálito quente em seu ouvido, não conseguiu respirar. E foi isso.

Não foi a rejeição que a tirou do sério. Foi o fato de querer tanto aquilo. E de, entre tantas mulheres nesse mundo, querer justo aquela. Queria bater em si mesma. Na saída, passou pela garota com quem estava conversando no começo da noite e ponderou as chances de ainda salvar sua sexta-feira. Rapidamente descartou a ideia, mas parou para pegar o número dela mesmo assim. Luiza lançou um olhar perfurante para ela, que fingiu não ver. Sorriu para a garota e se despediu. Quando entraram no carro, os únicos felizes eram Maycon e Priscila. Valentina não disse uma palavra e Maycon não parava de falar. Quando arriscou um olhar pelo retrovisor, viu Luiza encarando a janela, com cara de poucos amigos.

Ela era bem nervosinha, Valentina pensou. Deixou escapar um sorriso.

— Está rindo do quê? — Priscila perguntou.

Jesus, precisava ter uma conversa com Priscila, um pouco de discrição não fazia mal para ninguém.

— Nada. — Respondeu, séria.

A voz de Valentina pareceu lançar um sinal para Luiza, que olhou para ela pelo espelho. Valentina deu uma piscadinha insinuante, e Luiza balançou a cabeça como se não acreditasse no que via. Por que fazia essas coisas? Apertou o volante com mais força. Era um sistema de defesa, mentiu para si mesma.

Quando chegaram em casa, o ânimo de todo mundo já tinha caído. Bem, pelo menos o de Priscila e Maycon. O de Luiza e Valentina era inexistente há muito tempo.

Luiza entrou em seu apartamento e bateu a porta sem se despedir. Priscila lançou um olhar acusatório para Valentina, que se fez de desentendida. Tomou um banho rápido e ficou encarando o teto na cama, sem conseguir dormir.

Queria poder fazer alguma coisa para tirar esse turbilhão de dentro de si. Quis se desculpar, mas não sabia exatamente pelo quê e duvidava muito que Luiza ouviria alguma coisa que ela falasse. Além disso, Luiza já teve a vingança dela.

Quinze dias se passaram antes que Valentina visse Luiza novamente. Todas as vezes que chegava ou saia de casa, torcia para não vê-la e ao mesmo tempo esperava topar com ela sem querer. Aos finais de semana evitava ficar em casa, sabia que era quando havia mais possibilidades de se encontrarem.

Era terça-feira e ela tinha decidido trabalhar de casa. Estava resfriada e com dor no corpo. Depois do almoço, ligou o seu computador e sentou-se no sofá da sala. O silêncio foi quebrado pela batida na porta. Mas não era na sua porta. Valentina levantou e espiou pelo olho mágico. Uma mulher alta, com cabelos loiros estava parada na porta de Luiza. Valentina conseguiu ver que usava um terninho azul marinho de aparência cara. Ela levantou o braço e bateu novamente. Sem resposta. Decidiu abrir a porta. Uma fofoquinha não iria machucar.

— Acho que não tem ninguém. — Falou, apontando para a porta.

A mulher mediu-a dos pés à cabeça. Era imponente. Sabia que se fosse qualquer outra pessoa, teria se encolhido ao olhar dela. Mas Valentina não se abalava facilmente.

— É aqui que a Luiza mora? — Perguntou.

— Depende de quem quer saber. — Valentina falou, dando um passo para frente, com o peito estufado. Um instinto protetor brotou em seu peito.

— Eu sou a esposa dela. — A mulher disse, com um tom que Valentina não gostou.

— Ah. — Valentina escondeu a surpresa ao descobrir que Luiza era casada. — A resposta é sim, ela mora aí.

A mulher virou-se e levantou a mão para bater na porta novamente.

— Ei. — Valentina chamou. A mulher virou-se para ela. — Ou ela não está em casa ou ela não quer falar com você. Em nenhuma das duas opções é necessário que você bata na porta de novo.

— Quem é você? — Olhou para Valentina, interessada. — E por que está se metendo na vida dos outros?

— Eu sou uma moradora que está incomodada com o barulho. E se você não parar com isso, eu vou precisar chamar o síndico. Ou a polícia, dependendo do quanto você me irritar. — Valentina respondeu.

— Eu sou a polícia. — Falou a mulher, mas virou as costas e se afastou.

Valentina ficou no corredor até ela entrar no elevador. Esperou mais alguns segundos antes de fechar a porta.

Essa Giovanna não vai deixar a Luiza em paz.

Eu soube que é vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora