CAPÍTULO 20

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Pov Luiza

Os limpadores de vidro moviam-se rápidos, tentando desesperadamente retirar toda a água que caía em uma torrente forte do céu. O trânsito estava parado e a rua estava preenchida por luzes vermelhas dos freios dos carros. Luiza havia sido contratada e ela não conseguia lidar com a felicidade que aquilo lhe proporcionava. Estava dizendo adeus aos dias desocupados e à preocupação de estar desempregada. Passou a tarde na casa de sua mãe, que vivia ligando preocupada por ela estar sozinha nesse "momento difícil". Tentou explicar que estava bem e que a mãe podia ficar tranquila, mas ela não escutava, e então Luiza desistiu.

Depois de muito tempo, ela não sabia especificar quanto, ela conseguiu chegar em casa. Na garagem, desligou o carro e ficou alguns minutos sentada no silêncio, comemorando silenciosamente a vitória do dia. Abriu a porta e desceu, indo até a porta traseira para pegar uma sacola com várias marmitas que sua mãe a obrigou a levar. Ela ia morrer de fome, coitadinha, estava tão magrinha, foi o que sua mãe ficou repetindo enquanto colocava freneticamente a comida nos recipientes. Um par de faróis entrou na garagem, cegando-a por alguns instantes. Estacionou a duas vagas de distância e Valentina abriu a porta. Estava distraída, falando no celular e não a viu. Luiza observou-a, sem denunciar sua localização. Valentina estava rindo de alguma coisa que a outra pessoa falou, enquanto ia até o porta-malas e retirava algumas sacolas lá de dentro. Seus movimentos tinham firmeza, sua postura exalava segurança e confiança. Ela percebeu que isso fazia com que a energia que emanava de Valentina fosse predatória. Uma tensão sexual passou pelo corpo de Luiza. Adoraria transformar-se em presa naquela noite. Um sorriso travesso saiu de seus lábios. Fechou a porta do carro, fazendo Valentina sobressaltar-se e olhar em sua direção. Ela afastou o celular do ouvido e abriu um sorriso doce. Quando Luiza chegou perto o suficiente, empurrou-a contra o carro e grudou seu corpo nela.

— Desliga o telefone. Agora — Mandou baixinho, em seu ouvido. Valentina obedeceu no mesmo instante e soltou as sacolas no chão sem cuidado algum.

Quando Valentina ameaçou colocar as mãos em sua cintura, Luiza segurou-as longe de seu corpo, impedindo-a. Pressionou seu corpo com um pouco mais de força e passou a ponta da língua no lóbulo da orelha de Valentina, e sentiu a respiração dela falhar. Parece que até os predadores têm pontos fracos. Mordiscou levemente e Valentina fez força para livrar-se das mãos de Luiza. Sabia que Valentina era mais forte e conseguiria soltar-se facilmente se quisesse, mas ela não o fez. Luiza passou os lábios pelo maxilar dela, vagarosamente, e foi deslizando até o canto da boca de Valentina. Ameaçou beijá-la e afastou-se minimamente.

— Quer saber? — Falou com a voz baixa, seus lábios tocando de leve os dela, quando pronunciava algumas sílabas. — Se quiser um beijo, quem vai ter que pedir é você.

Valentina a encarava com tanta intensidade que Luiza podia jurar que o olhar era palpável. Valentina umedeceu os lábios e a voz saiu rouca.

— Me beije. — Falou simplesmente.

Luiza já esperava por aquilo, mas ouvir as palavras saindo da boca dela a fizeram sentir duas coisas. A primeira, fez seu coração ferver. Ele podia desmanchar-se bem ali, naquela garagem precariamente iluminada. Se Valentina tivesse uma bandeja ali, Luiza entregaria sorridente seu coração. A segunda, foi um forte latejar entre suas pernas.

— Fácil assim? — Luiza ainda estava com o rosto colado em Valentina. Estaria facilmente ofegante, se não estivesse jogando o jogo inverso. Queria saber como Valentina se sentia na posição de controle. Um pouco de submissão da morena não faria mal, tirando o fato daquilo excitar Luiza loucamente.

— Para você? — Valentina desceu o olhar para sua boca. — Sempre.

Luiza deu um beijo úmido em seu pescoço e ouviu um gemido sair do peito de Valentina. Depositou um beijo no canto da boca dela e afastou-se bruscamente.

— Vai precisar se esforçar mais. — Sorriu maldosamente e voltou para o seu carro, pegar a bolsa que deixou lá. Seu corpo latejava de desejo, mas ela não olhou para trás.

— Caramba, Luiza! — Valentina falou, com dificuldade. — Você vai mesmo me deixar aqui, assim?

— Assim como? — Luiza se fez de desentendida enquanto colocava a metade do corpo no automóvel, para alcançar sua bolsa. — Toda linda? — Andou em direção ao elevador e olhou para trás. Valentina ainda estava encostada no carro, com a boca meio aberta. Luiza segurou o riso. — Vou dar privacidade para terminar a sua ligação. Te vejo lá em cima. — Ela acionou o alarme do carro a distância e entrou no elevador. Encostou-se na parede lateral e relaxou o corpo. O sorriso não pediu permissão para aparecer. Soltou o ar dos pulmões com força. Precisaria de um banho para esfriar o sangue.

Entrou em casa e estava colocando a comida na geladeira quando uma batida na porta fez seu coração tremer. Como Valentina havia chegado ali tão rápido? Abriu a porta e Priscila invadiu seu apartamento exibindo uma garrafa de vinho. Luiza adorava aquela vizinhança. Desde que se mudou, não precisou mais comprar bebidas alcoólicas. As bebidas vinham até ela.

— Você leu meus pensamentos. — Luiza disse, contente enquanto fechava a porta. — Precisamos comemorar.

— É exatamente isso que vim fazer aqui — Priscila já estava abrindo uma gaveta e pegando o saca rolha. — É oficial? O emprego é seu?

— Pode apostar. — Luiza colocou duas taças em cima do balcão. — E para fechar o dia com chave de ouro, acabei de deixar sua amiga na garagem com a boca aberta.

— A boca dela abre toda vez que te vê. — Priscila encheu generosamente as taças. — Não consegue evitar.

— Foi a primeira vez que eu vi. — Luiza sorriu para si mesma.

Duas batidas rápidas soaram e a porta foi escancarada. Valentina invadiu a sala, com o rosto corado. Priscila moveu-se para perto dela, com a expressão assustada.

— O que foi? — Falou, nervosa. — Aconteceu alguma coisa? — Esticou o pescoço para olhar para o corredor.

Valentina parou, perdida.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntou para Priscila.

— Como assim? — Perguntou confusa. — Estou na casa da minha amiga. Não estou entendendo o alvoroço.

Luiza conteve-se para não cair na gargalhada.

— Ah. Certo. Claro. Eu... — Valentina olhou para os pés, pensando no que dizer. — Vim deixar uma sacola que você esqueceu lá embaixo. — Falou, voltando o olhar para Luiza. — Junto com a sua vergonha na cara. — Murmurou.

Luiza piscou sensualmente para ela.

— Obrigada. Não sei o que eu faria sem essas... — Olhou dentro da sacola. — pilhas. Essa sacola não é minha. — Estava disposta a dificultar as coisas.

— É sim. — Valentina insistiu. — Olha direito. Você vai colocar elas no joelho machucado para ver o que acontece.

— Não. Tenho certeza absoluta.

— Ela falou que não é dela, Valentina. — Priscila estava perdendo a paciência. — E na próxima vez, espere alguém abrir a porta para entrar. Por um segundo eu achei que fosse um assalto.

— É mesmo? — Valentina pegou a sacola da mão de Luiza. — E qual ladrão você conhece que bate na porta antes?

— Eu não tive tempo de pensar, não é mesmo? — Priscila chegou mais perto dela. — Já que você estava demolindo a porta com a sua falta de delicadeza.

Valentina revirou os olhos e começou a se retirar, mas parou no meio do caminho e olhou para Luiza de cima a baixo, desejando-a.

— Boa noite, meninas. — Virou as costas e foi embora, levando suas sacolas.


Luiza sua maluca que provocação foi essa.

Coitada da Valentina.

Eu soube que é vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora