CAPÍTULO 12

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Pov Luiza

Luiza encostou-se na porta e respirou fundo. Não imaginava uma saída para aquela situação, se Valentina não tivesse aparecido. Conhecia bem Giovanna e sabia que ela poderia bater na porta o resto da tarde, ou pior, sentar no corredor para esperá-la. Luiza não era nenhuma princesa em uma torre que precisava ser salva, mas admitiu que foi bom ter alguém lidando com os seus problemas por ela. Pela primeira vez havia ficado feliz em ver, pelo olho mágico, a postura confiante e o tom nada gentil de Valentina.

Não conseguia acreditar que Giovanna teve a audácia de vir até a casa dela, e agir como se Luiza tivesse a obrigação de atendê-la. E onde ela havia conseguido seu endereço?

Tentou tirar isso da cabeça. Estava resolvido. Por enquanto.

Duas horas depois, decidiu falar com Valentina. Queria agradecer e também queria uma desculpa para vê-la. Não. Não queria vê-la, brigou consigo. Só queria agradecer. Passou os últimos dias pensando em sua vizinha e se pegou sorrindo quando lembrava da última noite em que estiveram juntas. Elas eram uma bagunça. Luiza estava decidida a tirar o poder que Valentina tinha sobre ela. Chega de sangue fervendo em seus ouvidos e gritos enlouquecidos. Agiria como alguém normal, afinal, ela era normal. Valentina não tiraria isso dela. Respirou fundo, pensando na missão que encararia. Bater na porta, perguntar se estava tudo bem, agradecer amigavelmente, despedir-se sem bater portas e voltar para casa. Cinco passos que não demorariam mais do que três minutos. Bateu na porta. Primeiro passo concluído com sucesso. Estava indo bem. Missão dada é missão... Ninguém atendeu. Bateu novamente. Ignorou a semelhança que o ato teve com o de Giovanna. Era totalmente diferente uma coisa da outra.

— Entra. — A voz de Valentina falou fracamente.

Luiza abriu a porta, vagarosamente, e olhou lá dentro. Valentina estava deitada no sofá, coberta de suor e tremendo. Levou um tempo para assimilar a pessoa que estava em sua frente como a encrenqueira de duas horas atrás.

— O que aconteceu? — Luiza perguntou, fechando a porta atrás de si.

— Olha, moça, eu não tenho forças para brigar com você agora, então já pode pegar o revólver. Acerta na cabeça, não quero sofrer. — Valentina deu um sorriso fraco, com o rosto coberto de suor. Algumas mechas de cabelo estavam grudadas em sua testa. — Pensando bem, se eu puder optar, que seja veneno. Não vai desvalorizar tanto o imóvel.

— Você está com febre. — Luiza falou, tocando a testa de Valentina. — Tem remédio por aqui? O que está sentindo?

— Frio. — Valentina gemeu. — Meus olhos estão lacrimejando sem parar e parece que tem um tijolo em cima da minha cara. Meu corpo não está lá aquelas coisas também. É como se eu tivesse sido jogada de um penhasco. — Valentina riu bobamente. — Se veio para me matar, não terá muito trabalho.

Luiza deu um sorriso. Constatou que nunca havia sorrido para Valentina. Parece que seu plano estava dando certo, mesmo que o único passo que ela seguiu até agora foi o de bater na porta.

— Onde tem remédio? — Insistiu Luiza.

— No banheiro, dentro do armário. — Valentina respondeu, sofredora.

Luiza voltou com o termômetro, sentou-se no sofá e colocou a caixa sobre o colo.

— Levanta o braço. — Pediu, gentilmente, para a sua surpresa.

Valentina obedeceu sem reclamar. Isso não era um bom sinal. Luiza concentrou-se nos medicamentos e escutou o termômetro apitar.

— Trinta e oito e meio. Isso é uma bela de uma febre, Valentina. — Luiza franziu a testa. Pegou um antitérmico e ofereceu-o com um copo d'água. Nenhuma piadinha sobre homicídios veio de Valentina, o que preocupava mais do que a febre em si. — Você precisa de um banho gelado.

Eu soube que é vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora