Capítulo 1

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Dulce sentia-se aprisionada em um relacionamento que há muito tempo havia deixado de ser amoroso. Santiago, seu marido, havia se tornado uma sombra escura em sua vida, um homem agressivo e controlador, que em momentos de fúria desmedida chegava a agredi-la fisicamente.

Era um ciclo vicioso: após cada explosão de violência, vinham as desculpas e as promessas de mudança.

Certa noite Dulce estava na cozinha de casa preparando o jantar, quando seu marido chegou. Ele estava visivelmente irritado, após um dia estressante no trabalho.

Nicolas brincava com seus brinquedos no chão de seu quarto, alheio à tensão crescente entre seus pais.

- Dulce, onde estão minhas chaves? - perguntou nervoso, vasculhando a sala de estar com movimentos bruscos.

As irritações de Santiago começavam sempre com pequenos atritos do cotidiano, mas seu temperamento explosivo transformavam qualquer coisa em um potencial conflito.

Dulce se virou, tentando manter a calma.

- Eu as deixei na mesa do hall de entrada, onde você sempre as coloca - respondeu, tentando soar tranquila.
Santiago apenas bufou, sua frustração parecia aumentar.

- Não estão lá. Eu já procurei!

Dulce suspirou, sentindo a familiar pressão no peito.

- Eu vou procurar. Talvez tenham caído no chão.

Ela se dirigiu ao hall de entrada, encontrando as chaves caídas ao lado da mesa. Quando voltou para a sala, estendeu as chaves para a ele.

- Aqui estão.

Santiago arrancou as chaves das mãos dela com um movimento brusco, com os olhos ardendo de raiva.

- Você deve ter deixado cair. Nunca presta atenção nas coisas! - ele vociferou.

- Eu só estava tentando ajudar, Santiago. Não precisa me ofender.

Ele porém a ignorou, sua frustração só aumentava cada vez mais.

- Você acha que é fácil pra mim? Trabalhar o dia todo e voltar pra essa bagunça? - gritou, gesticulando amplamente.

Dulce deu um passo para trás, seu coração batia acelerado.

- Eu faço o melhor que posso...

- CALA A BOCA Dulce! NÃO AGUENTO MAIS OUVIR SUA VOZ - ele gritou, se aproximando dela.

- Calma, não precisa gritar. O Nicolas pode nos ouvir... - ela começou a dizer, mas foi interrompida por um empurrão violento.

Dulce caiu contra a parede, a dor espalhava-se por suas costas. Nicolas, assustado com os gritos, correu para a cozinha, chorando.

- Mamãe! - gritou ele, suas pequenas mãos tentavam segurar a mãe caída.

Santiago, vendo a cena, parou abruptamente, como se a visão do filho chorando o trouxesse de volta à realidade. A culpa e a vergonha rapidamente substituíram a raiva.

- Dulce, eu sinto muito. Eu... eu não sei o que me deu - disse ele, com a voz embargada. - Eu prometo que isso nunca mais vai acontecer. Eu vou mudar, eu juro.

Dulce, ainda no chão, segurou Nicolas nos braços, tentando acalmá-lo.

- Santiago, eu não sei por quanto tempo mais posso aguentar isso - disse ela, com a voz carregada de tristeza e cansaço. - Eu quero acreditar em você, mas está cada vez mais difícil.

Santiago foi até ela e a segurou pelas mãos, o desespero era evidente em seu olhar.

- Por favor, Dulce, só mais uma chance. Eu sei que posso mudar. Pense no nosso filho - disse ele, olhando para Nicolas que chorava em desespero.

Dulce sentia um nó na garganta. Ela sabia que Nicolas merecia crescer em um lar cheio de amor e segurança, mas também sabia que as coisas não podiam continuar daquele jeito.

- Santiago, eu só quero paz. Quero que nosso filho cresça feliz, sem medo.

Santiago apenas assentiu, embora seu olhar denunciasse a luta interna. Ele puxou Dulce gentilmente para seus braços. Por um momento, ela se sentiu amada, como se aquele abraço pudesse apagar todos os seus problemas.

A dúvida porém ainda pairava no coração de Dulce.

Enquanto isso, Nicolas, observava seus pais, ainda com os olhos cheios de lágrimas. Ele sonhava com um mundo onde o sorriso de sua mãe nunca se apagava e onde seu pai era o herói que ele admirava.

Dulce sabia que as decisões que tomasse agora seriam determinantes para o futuro de seu filho. Ela só esperava encontrar forças para seguir o caminho certo.

- Eu vou fazer o possível, Dulce. Eu prometo que vou mudar- disse ele, com uma convicção que ela desejava poder acreditar.

A mulher apenas suspirou, tentando afastar a sensação de que estava presa em uma armadilha. Para o bem de Nicolas, ela decidiu dar mais uma chance. Talvez, apenas talvez, Santiago realmente mudasse dessa vez.

Mas uma pequena voz dentro dela sussurrava que precisava estar preparada para o pior.

E assim, com o coração dividido entre a esperança e o medo, Dulce deu mais um passo incerto na corda bamba de sua vida.

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