A Chama da Desolação

35 3 0
                                    


Gaia

Um quarto opulento, mas opressivo, nos fundos do Palácio Imperial, as paredes parecem se fechar ao redor de Gaia, que está ajoelhada no chão ao lado da cama, os dedos agarrando o lençol com força. A luz suave que entra pela pequena janela é fraca, incapaz de dissipar a escuridão que paira sobre ela. Gaia está chorando incontrolavelmente, o rosto molhado e os olhos vermelhos. Cada soluço que sai de sua garganta parece rasgar sua alma.

Cobre o rosto com as mãos, como se quisesse se esconder do mundo, mas a imagem dos corpos de seu pai e de Cláudio continua assombrando-a. O manto manchado de sangue, a palidez dos rostos, a ausência de vida nos olhos. Gaia sente como se o chão sob seus pés tivesse desaparecido, deixando-a à deriva em um abismo de dor e desespero. Cada lágrima que escorre pelo seu rosto é uma mistura de tristeza e culpa que a sufoca, fazendo-a tremer dos pés à cabeça.

— Por quê... por quê?— ela soluça, a respiração ofegante e irregular — Eu... eu deveria estar lá...

Ela não consegue afastar o pensamento que a atormenta, se tivesse estado ao lado deles, se não tivesse se afastado para encontrar Quintus, talvez pudesse ter feito algo. Talvez pudesse ter lutado, ou pelo menos morrido com eles. Mas, em vez disso, estava ausente, procurando por um amante que sequer apareceu quando ela mais precisava. O fato de estar viva enquanto os corpos de sua família esfriavam a enche de uma vergonha esmagadora. Ela sente como se tivesse abandonado os que amava, como se sua ausência os tivesse condenado à morte.

Gaia desliza para o chão, pressionando o rosto contra o frio mármore, como se quisesse sentir a dureza da realidade que a envolve. Cada soluço sacode seu corpo, e ela sente que nunca mais conseguirá parar de chorar. A culpa corrói sua mente, enchendo-a de pensamentos tortuosos. "Se eu estivesse lá, talvez pudesse ter salvado meu pai... ou Cláudio... ou, pelo menos, ter morrido ao lado deles." A ideia de que poderia ter feito algo a assombra com uma intensidade esmagadora.

 — Eu deveria ter ficado! Deveria estar lá com eles!  — Pai... Claudio... me perdoem...

A cada minuto sente o pânico tomando conta, a ideia de que foi poupada por acaso, de que sua ausência pode ter sido o motivo pelo qual ainda respira, é insuportável. Se não tivesse saído naquele momento, se não tivesse se deixado distrair por Quintus, talvez as coisas tivessem sido diferentes. Ela se sente fraca e egoísta por não ter estado com sua família no momento mais crucial, por ter falhado com eles. A culpa pesa sobre ela como uma pedra amarrada ao pescoço, afundando-a ainda mais no desespero.

Ela se levanta trôpega e cambaleia até a parede, onde se apoia com as mãos, ainda tremendo. A imagem dos rostos sem vida do pai e do irmão não a deixa em paz. Tudo o que eles eram  a força de seu pai, o sorriso tímido de Cláudio foi lhe tirado, e agora só restava uma dor inominável e uma culpa devastadora. Gaia desliza novamente para o chão, como se suas pernas não fossem capazes de suportar o peso de sua própria dor. Ela cobre o rosto com as mãos e chora amargamente, sem se importar com quem pudesse ouvir.

Ela pensa na última vez que viu seu pai, tão cheio de autoridade, sempre preocupado em manter a família segura e honrada. Ele lhe dissera para ser forte, para honrar o nome dos Annius, mas como ela poderia fazer isso agora, quando se sentia tão quebrada, tão vazia? Ela se lembra do olhar sereno de Cláudio, que sempre a via como uma irmã alegre, e a ideia de que ele sofreu sem ela a destrói. "Eu deveria ter morrido com vocês," ela pensa, sentindo a dor em seu peito se intensificar.

As palavras de Falco ecoam em sua mente, "existe um propósito para você, sua morte não traria benefício ao império" , e a raiva a invade, misturada com o desespero. Como o futuro do império pode ter qualquer importância agora que sua própria família está morta? Ela não quer ser essencial para o império, não quer ser usada como uma peça em um jogo de poder que tirou a vida das pessoas que ela amava. A ideia de ser manipulada por homens como Falco e Commodus enquanto sua dor ainda está tão fresca é insuportável.

Oaths of Revenge - Gladiador (2000)Onde histórias criam vida. Descubra agora