Jogos de Poder

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Gaia

A sala de audiências estava preenchida por uma pesada formalidade o imperador sentava-se no trono, sua expressão aparentemente desinteressada, mas seu olhar observador não perdia nenhum detalhe. Ao seu redor senadores como Gracchus e Falco ocupavam seus lugares com postura rígida. Gracchus, sempre observador e crítico, mantinha um olhar vigilante, enquanto Falco, o mais próximo e leal a Commodus, parecia entediado, mas atento.

Ao lado de Commodus, em uma cadeira menos imponente, estava Gaia. Ele sentia a presença dela ao seu lado, mas fazia questão de não olhar diretamente para ela. No fundo, Commodus se irritava com a ideia de sua esposa participando de questões de estado, mas ele a mantinha ali para reafirmar seu controle, para exibir seu poder aos demais. Ela era uma peça, e ele não permitiria que ela esquecesse disso.

O embaixador estrangeiro, um homem de idade com olhos ansiosos, começou a falar. Ele expôs um pedido de redução temporária nas tarifas de importação de grãos, justificando a solicitação com uma recente seca devastadora em seu país. Commodus ouviu as palavras do homem com um desinteresse calculado, tamborilando os dedos no braço do trono. Para ele, essa conversa era uma perda de tempo.

— Pedimos ao império a redução das tarifas nas rotas marítimas, para compensar as perdas nas colheitas. Seria um gesto de generosidade para com seus aliados...

Commodus revirou os olhos. Por que ele deveria se importar com as secas de terras estrangeiras? Ele interrompeu o embaixador com uma impaciência deliberada.

— As tarifas existem por um motivo para encher os cofres de Roma. Por que deveríamos sacrificar nossos lucros por causa dos problemas de vocês?

Ele viu o embaixador hesitar, desconcertado. Um breve sorriso de desprezo curvou seus lábios. Era tão fácil dobrar esses homens, tão fácil dominá-los pelo medo ou pela indiferença. Mas, antes que pudesse seguir com sua linha de raciocínio, uma voz suave, porém firme, interrompeu o silêncio.

— Alteza... se me permite uma sugestão... — Gaia interrompeu

Commodus virou o olhar para ela, os olhos estreitando com irritação. Ele não gostava que ela interferisse sem ser convidada. Mas algo na expressão serena e controlada de Gaia o intrigava, e ele fez um leve gesto com a mão, permitindo que continuasse. Seus olhos, porém estavam atentos a qualquer sinal de desafio.

Gaia se voltou para o embaixador, e sua postura era perfeitamente diplomática. Ela não falava com autoridade, mas com uma gentileza calculada, algo que ele não esperava dela, Commodus sentiu um incômodo se instalar em seu peito enquanto ela prosseguia.

 — Roma sempre foi generosa com seus aliados. Uma redução temporária nas tarifas, em troca de um aumento no fornecimento de grãos no próximo ano, poderia ser vantajosa para ambos. Assim, não sacrificamos nossas reservas, mas demonstramos nossa boa vontade. Ela lança um olhar de leve deferência para Commodus. A decisão, claro, é sempre de Vossa Majestade.

Os olhos de Commodus se estreitaram, observando a reação dos senadores. Ele notou Gracchus, sentado alguns lugares à frente, lançando um olhar atento a imperatriz. Uma expressão de aprovação relutante surgira no rosto do senador, o que só serviu para alimentar o incômodo de Commodus. Gracchus sempre fora crítico, sempre fora alguém que desafiava seu poder de forma sutil, mas constante. Ver o interesse de Gracchus despertado pela intervenção de Gaia o irritava profundamente.

— Uma proposta sensata, imperatriz. Um acordo equilibrado fortalece o império... e mantém nossos aliados satisfeitos.

A voz de Gracchus carregava uma pontada de ironia que não passou despercebida por Commodus. Ele sabia que o senador estava aproveitando a oportunidade para elogiar Gaia, ao mesmo tempo em que desmerecia a abordagem implacável do próprio imperador.

Oaths of Revenge - Gladiador (2000)Onde histórias criam vida. Descubra agora