Bastidores de Roma

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Gaia

Gaia estava no jardim do palácio, tentando buscar algum alívio para o peso constante que carregava desde que se tornara imperatriz. A noite anterior ainda estava fresca em sua memória um misto de humilhação, medo e uma confusão de emoções que ela tentava sufocar a qualquer custo. Os primeiros raios de sol banhavam as flores ao seu redor, mas ela mal percebia a beleza do ambiente. Sua mente estava ocupada, presa entre o ressentimento e a cautela que agora guiavam cada um de seus passos.

Um som de passos ecoou pelo pátio de mármore, tirando-a de seus pensamentos. Quando se virou, viu Commodus aproximando-se, a expressão enigmática e os olhos fixos nela com um brilho que a fez endireitar a postura, tentando disfarçar qualquer traço de vulnerabilidade. Ele parou a poucos passos dela, um leve sorriso curvando seus lábios, mas sem o calor de uma saudação amigável. Era um sorriso que ela começava a reconhecer o de quem planejava algo.


— Gaia... você parece entediada. Caminhando por aqui, sem nenhuma função concreta. Isso não condiz com uma imperatriz de Roma.

 Ainda que fosse sempre cautelosa perto dele, as palavras de Commodus a pegaram de surpresa. Desde quando ele se preocupava com o que ela fazia no palácio, ou mesmo com seu tédio? A última interação deles fora intensa. Ainda assim, ela sustentou o olhar dele, contendo o impulso de responder de forma sarcástica.

— Depois da...  reunião com os embaixadores, percebi que talvez haja uma certa... astúcia escondida em você.  Vejo potencial para ser mais útil ao império  de uma forma que vai além do que discutimos da última vez.

Gaia franziu levemente as sobrancelhas, desconfiada. Não era um elogio, ela sabia Commodus nunca oferecia reconhecimento genuíno. Mas havia algo ali, uma oportunidade velada. Ele observou sua reação, claramente interessado em ver se ela reagiria com surpresa ou entusiasmo. No entanto, Gaia manteve-se contida, apenas assentindo levemente, sem oferecer nenhuma satisfação.

— Vou delegar a você algumas tarefas de administração. Coisas que considero... enfadonhas, mas que, aparentemente, você consegue lidar bem. (Ele a observa com uma expressão cética, como se duvidasse da capacidade dela, mas ao mesmo tempo sugerindo que esperava que ela provasse o contrário). São questões burocráticas, como o fornecimento de grãos e as demandas de províncias mais remotas. Quem sabe, talvez isso ocupe o seu tempo o suficiente.

Gaia processou suas palavras, sentindo um misto de alívio e inquietação. Alívio, pois ter a chance de lidar com assuntos do governo significava acesso a informações que poderiam ser valiosas  tanto para sua sobrevivência quanto, eventualmente para encontrar uma forma de resistir a ele. Mas inquietação, pois ainda era Commodus quem controlava o jogo, e ela sabia que cada passo dele tinha um propósito oculto.

— Farei o que for necessário para servir ao império.

Ele observou sua expressão, procurando algum sinal de resistência ou rebeldia. Mas Gaia mantinha o olhar calmo, mesmo que por dentro estivesse revirada de perguntas. O que ele realmente esperava com isso? Depois de tudo o que acontecera entre eles, ela não conseguia entender por que, de repente, ele parecia querer envolvê-la em assuntos imperiais. Commodus captou o leve brilho de confusão nos olhos dela, e isso o divertiu.

— Mas lembre-se... (ele inclinou-se um pouco mais, a voz carregada de uma ameaça sutil) que toda ação tem suas consequências, Gaia. Qualquer desvio, qualquer sinal de traição... não cairá sobre você, mas sobre alguém de quem você se importa. Tenho certeza de que Faustina não tem culpa dos erros de sua imperatriz, não é?.

Gaia prendeu a respiração, mas se conteve ele estava impondo mais uma de suas condições  ele estava lhe oferecendo uma oportunidade, mas ao mesmo tempo, a mantinha sob controle.

Oaths of Revenge - Gladiador (2000)Onde histórias criam vida. Descubra agora