— Não, querida, mas está bastante ferida. Precisamos levá-la para dentro e aquecê-la. Depressa, vá buscar o tapete que fica em frente da lareira. Isso mesmo, seja uma boa menina.
Namo correu para dentro da casa e voltou depois de alguns instantes arrastando o tapete velho e desbotado. Anil aproximou-o o máximo possível do corpo prostado e imóvel, depois empurrou e puxou até finalmente conseguir colocá-la sobre o tapete. Depois arrastou o tapete empregando toda a força dos braços.
Namo também puxava.
Centímetro por centimetro, a mulher foi levada para dentro do chalé.
Anil caiu no chão, ofegante e exausta. Depois de fechar a porta e colocar novamente a trava de madeira, ela acendeu a lamparina.
A desconhecida não usava paletó ou casaco, apenas uma camisa e calça. Ela também não tinha sapatos, apenas um par de meias imundas e molhadas.
E no entanto era dezembro, e lá fora havia chuva e gelo. O sangue brotava abundante de um horrível ferimento na parte de trás de sua cabeça. Agredida pelas costas, um golpe covarde. A outra havia sido destituída de seus pertences até mesmo do casaco e botas, e fora abandonada para morrer no terrível frio da noite. Anil sabia como era perder tudo. Ela pôs uma das mãos no busto da desconhecida, sentindo-se repentinamente possessiva.
Não podia fazer mais nada quanto ao roubo, mas não a deixaria morrer. Sua camisa estava molhada e parecia congelar, e a pele embaixo dela estava terrívelmente fria. Rápida, Anil improvisou uma bandagem com um pano limpo e amarrou-a entorno de sua testa apertando-a tanto quanto pedia, tentando estancar o sangramento.
— Vamos ter de livrá-la dessas roupas molhadas ou a pobre coitada vai encontrar a morte levada pelas mãos do frio. Pode ir buscar mais toalhas no armário da escada?
Namo correu a atender ao pedido da mãe. Enquanto esperava, Anil removeu a camisa e as meias ensopadas do desconhecido.
Ela havia sido surrada com crueldade.
Os hematomas avermelhados que já começavam surgir em sua pele alva eram prova da dureza daqueles que lhe atacaram. Também havia diversas marcas encurvadas, como se houvesse sido chutada, e no ombro direito era possível identificar o desenho deixado pelo salto de uma bota.
Cautelosa, tocou as costelas da mulher e fez uma rápida prece de gratidão por terem sido poupadas.
Não sentia nenhum indicio de fratura.
O ferimento na cabeça era o pior de todos, ela pensou. A pobre mulher sobreviveria, desde que não adoecesse por conta do frio e da umidade. Com muito cuidado, Anil friccionou uma toalha áspera por toda a área de seu torso, pelo estômago e pelos braços.
Sentia a boca seca. Só havia estado diante de uma outra mulher de pele nua antes. Mas essa outra não era como sua esposa. O corpo de Sam sempre havia sido magro e esguio.
A região do ventre e do estômago era macia, os braços eram pálidos, finos e elegantes. O que ia totalmente contrário à essa outra mulher à sua frente. Ela havia um busto pequeno, mas não tinha nada de pálida nem aristocrata ao olhos. Amplas faixas de músculos jaziam relaxadas agora que estava inconsciente, mas ainda assim eram firmes e sólidas.
Anil tentou não dar muita atenção aos detalhes enquanto a esfregava com a toalha, forçando o calor e a vida de volta à pele congelada. A desconhecida era surpreendentemente limpa, pensou. Sua pele não exalava aquele cheiro de suor que sempre havia associado ao corpo de Sam. Essa outra mulher não tinha nenhum odor, exceto, talvez a leve fragrância de sabão, suor recente e.. seria couro? Cavalos?
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Christmas Wishes
FanfictionO mundo de Aninlaphat se resume à filha. Viúva, pobre e vivendo em um chalé isolado, ela sabe que o futuro não pode ser muito diferente do presente. Porém quando o inverno chega, traz consigo uma desconhecida que sofreu um grave acidente e perdeu a...