Nothing Really Matters

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Não era o senhorio. Do outro lado da porta havia uma homem pequeno, discreto e bem-vestido.

— Deus seja louvado, capitã!

Ele disse com uma inclinação respeitosa.

— Quando seu cavalo voltou sozinho para casa, todos pensamos que estivesse morta! Só eu acreditei que ainda poderia encontrá-la. Disse
a eles que a capitã é uma sobrevivente!

Houve um súbito silêncio no pequeno chalé. As palavras do desconhecido pareciam ecoar entre as paredes. Anil tentou descobrir se alguém mais podia ouvir seu coração batendo acelerado. Então, o breve idílio chegava ao fim.

Bunny havia sido encontrada.

— Capitã? Qual é o problema?

O homem pequenino o encarava intrigado. Depois de analisá-la por um instante e não encontrar explicação para o seu silêncio, ele olhou para dentro da casa, para onde Anil e Namo esperavam em pé, atentas e apreensivas. Seu olhar brilhante e astuto tornou-se ainda mais curioso.

O homem que ela chamava de capitã finalmente falou.

— Como presumo que saiba quem sou, acho melhor entrar e escapar do frio.
— Então, entre.

Ela puxou o desconhecido para dentro e fechou a porta. Depois virou-se e olhou para Anil rapidamente.

Era impossível ler sua expressão.

Era como se, de repente, a mulher não tivesse mais certeza de nada.

Anil decidiu interferir para amenizar a intensidade do silêncio.

— Por favor, sente-se. Íamos fazer nossa refeição matinal. É só mingau de aveia e um pouco de leite, mas pode juntar-se a nós se quiser.

O homem não respondeu.

Continuou olhando para a “capitã” com uma expressão intrigada.

— O mingau não está queimado.

Garantiu uma voz infantil.

— Eu o salvei. Não é mesmo, mamãe?

O comentário quebrou o gelo.

Anil não conseguiu deixar de sorrir, e o estranho olhou para Namo com um sorriso terno.

— Obrigado pelo convite, senhora... e senhorita, mas já tomei meu desjejum. Mas será bom poder beber alguma coisa.
— Temos água e leite.
— Água, por favor.

Enquanto providenciava a bebida solicitada pelo visitante, Anil deu uma olhada rápida e discreta para a sra. Bunny. Ela se mantinha tensa e silenciosa, o rosto dominado por uma expressão séria. Seu corpo traía a intenção de lutar, caso fosse necessário.

— Coma o seu mingau enquanto está quente.

Bunny sentou-se à mesa e começou a comer. Comeram em silêncio, numa atmosfera dominada por perguntas sem resposta. Até Namo demonstrava uma certa ansiedade.

O estranho observava o cenário, os olhos estreitos passando de um indíviduo a outro, registrando todos os detalhes. Finamente, todos terminaram de comer, apesar de Anil ter percebido que ninguém desfrutara do prazer da refeição. Ela começou a recolher as vasilhas, mas a sra. Bunny a deteve com um gesto. Estava nervosa. Para acalmá-la, Anil sentou-se ao seu lado e segurou sua mão. O estranho notou.

Sentindo sua desaprovação, ela experimentou a primeira pontada de dor rasgando seu peito.

Aquele olhar tinha um significado.

O desconhecido acreditava que ela não tinha o direito de segurar a mão de sua capitã, aquela mão tão querida, calejada e amada.

Ele conhecia a verdadeira identidade da sra. Bunny. Anil segurou a mão dela com mais força, sabendo que aquela poderia ser a última vez. Bunny a afagou numa reação instintiva.

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