Fearless

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A mulher dormia profundamente há 24 horas. Anil olhou para a silhueta imóvel e desejou poder fazer alguma coisa. Queria a acordado.

Queria-a de pé e fora de sua cama.

Queria que fosse embora.

Era perturbador vê-la ali, dormindo entre seus lençóis.

Não era difícil habituar-se com a ideia durante o dia, presumir que a estranha era inofensiva, permitir que a filha se sentasse ao lado dela, tratando uma mulher inconsciente, uma completa desconhecida, como um de seus brinquedos. Durante o dia ela não parecia tão assustadora. Agora... Segurando o xale sobre os ombros, tentou reunir coragem para ir se deitar ao lado do estranho mais uma vez.

Nas sombras da noite parecia maior, mais sombria, mais ameaçadora, como se o corpo sobre sua cama se tornasse mais perigoso.

A mulher não fizera um único movimento por uma noite e um dia. Outra noite comparilhando a mesma cama não faria mal algum, certamente. Além do mais, não tinha escolha...

Não, já havia feito uma escolha, sua consciência a corrigiu. Podia ter pedido ajuda, ela teria sido levada para ser tratada por gente de mais posses.

Mas não teria recebido cuidado adequado, não com as roupas humildes que vestia. Uma Lady ferida teria recebido toda a atenção do médico ou do proprietário daquelas terras, mas eram muitos soldados pobres e feridos na Inglaterra desde que a guerra contra Napoleão havia sido vencido.

Eles retornaram como heróis. Agora, meses mais tarde, quando procuravam trabalho ou mendigavam pelas ruas, passavam a ser visto como pragas. Ninguém se importavam com a morte de mais um deles. Também eram muitas as viúvas indigentes com filhos pequenos. Não podia abandoná-la.

De alguma maneira, sem terem trocado um única palavra, fizera-se responsável por aquela mulher, estranha ou não, ladra ou não. Ela era indefesa e estava vivendo um momento de dificuldade. Anil sabia o que era ser indefesa e precisar de ajuda. E a ajudaria.
Sem pensar em mais nada, se envolveu em um lençol, pois ainda não perdera todo o senso de propriedade e foi para a cama onde dormia a desconhecida.

Foi impossível conter um suspiro de prazer. A mulher era melhor do que um tijolo quente numa gélida noite de inverno. Dessa vez não houve nenhum sentimento de estranheza. Já estava acostumada ao cheiro amadeirado, e até a considerava atraente.

A inclinação da cama também se tornara conhecida, e ela já não lutava contra a força da lei da gravidade.

Afinal, se o espaço entre elas fosse muito grande, o vento gelado penetraria entre os lençois.

Mas lembrando-se da posição pouco modesta em que acordara, ela se virou de costas para a adormecida.

Não era tão íntimo ter as costas apoiadas em uma estranha, pensou sonolenta, acomodando-se de forma a encontrar o encaixe perfeito entre seu corpo e o da outra. E mais uma vez, envolta pelo calor de sua pele e embalada pelo som suave de sua respiração profunda, Anil esqueceu seus temores e adormeceu.

Seus dedos dos pés buscaram o calor reconfortante das pernas nuas a seu lado. Anil acordou devagar por um delicioso sentimento de prazer.

Tivera um sonho maravilhoso. Mantendo os olhos fechados, prolongou a gostosa sensação de ser... amada.

Sam a acariciava como sempre havia desejado ser tocada...

Suas mãos ágeis e quentes afagavam, provocavam e amavam sua pele. Sentia-se linda, amada, desejada como nunca antes se sentira. Aquecida, sonolenta, sorrindo, espreguiçou-se e executou alguns movimentos de grande sensualidade, deixando-se permanecer na esfera do sonho encantador.

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