Long Way Home

80 23 2
                                    

Era muita audácia!

— Direitos? Que direitos pensa ter aqui, senhora?

Então imaginava que algumas carícias roubadas lhe conferiam direitos repentinos? A atrevida!
A outra hesitou.

— Esta propriedade não está em meu nome?
— Seu nome? Por que deveria estar?

De repente começava a sentir-se amedrontada com toda essa conversa sobre direitos. E se o senhorio houvesse vendido a casa sem informá-la?

Ele fizera essa ameaça inúmeras vezes. Não ficaria surpresa por descobrir que ele a incluíra nos negócios para obter mais dinheiro.

O senhorio era um homem vingativo.

— Normalmente, as mulheres não têm títulos de propriedades ou bens. É comum que tudo seja registrado no nome do marido ou esposa, dependendo da condição genética de uma delas.

O senhorio vendera a casa. E aquela mulher a comprara para ela e a esposa. E fora atacada por ladrões quando se dirigia ao chalé a fim de inspecionar sua mais nova propriedade.

O medo ameaçava bloquear sua garganta e impedi-la até mesmo de respirar, mas Anil ergueu os ombros com orgulho e altivez.

— Não estou à venda. Minha filha e eu deixaremos este lugar o mais depressa possível. Vai nos dar uma ou duas semanas, presumo, ainda que seja apenas por decência?
— Maldição, mulher, não precisa ir a lugar nenhum! Que tipo de pessoa pensa que sou?
— Não tenho a menor ideia. Nem quero saber. O que importa é que não estou à venda.
— E quem insinuou que estivesse, pelo amor de Deus?

Exasperada, ela alterou o tom de voz e teve de agarrar a cabeça novamente.

— Que diabo está acontecendo comigo, afinal?
— Alguém, a agrediu.

Contou Anil. Notou que a encarava intrigada, mas fingiu ignorá-la.

— Não sei o que o senhorio lhe disse, mas sou uma mulher virtuosa e não me deixarei comprar! Nem pelo senhorio, nem por você, nem qualquer outra pessoa, por maior que seja o desespero a que tente levar-me.

Sua voz tremeu, e ela se calou. Houve um silêncio prolongado no quarto.

O vento soprava por entre as folhas das árvores e sacudia as vidraças da janela. Anil permanecia sentada no banco, seguntando o xale num gesto defensivo e encarando-a desafiante.

Ela engoliu em seco. Não tinha ideia do que poderia ser forçada a fazer para garantir a segurança de Namo, mas não chegara a esse ponto. Ainda.

— Não tenho a menor ideia do que significa toda essa conversa. Imagino que, quem quer que tenha me agredido com um golpe na cabeça... Foi você?

Ela negou com um movimento de cabeça.

— Bem, já é um alívio. Mas, quem quer que tenha sido, fez um bom trabalho. Meu cérebro parece ter sido revirado. Não sei a que se refere, não consigo raciocinar com clareza, e tenho a
sensação de que minha cabeça pode se abrir ao meio a qualquer momento.

Ela se levantou e deu dois passos, depois parou cambaleante e empalideceu.

Sem pensar em nada, Anil saltou do banco e correu para ajuda-la.

— Abaixe a cabeça. Coloque-a entre os joelhos.

Com gentileza, ela a empurrou para essa posição.

— Vai ajudar a superar a tontura.

Depois de alguns momentos, a outra recuperou-se o bastante para deitar-se na cama. Ainda estava pálida como uma folha de papel. Anil a cobriu e ajeitou os cobertores em torno de seu corpo, esquecendo completamente o propósito de expulsá-la dali.

Christmas WishesOnde histórias criam vida. Descubra agora