— Màe?
Ela abriu os olhos e viu um pequenino rosto entusiasmado fitando-a com imensos e curiosos olhos castanhos. Uma criança.
Uma menina ainda pequenina.
— Volte para a cama neste instante, Namo.
A mulher exigiu com firmeza.
Ela se encolheu, tentou afastar a cabeça de seu peito e mergulhou mais uma vez na escuridão.
Ao abrir os olhos de novo, não sabia quanto tempo havia se passado. Não estava mais reclinada contra o peito daquela desconhecida, e o encantador rostinho infantil havia desaparecido.
E estava tremendo. Muito.
A mulher se debruçou sobre ela, seus olhos revelando imensa preocupação.
— Sinto muito. Não queria soltá-la dessa maneira tão brusca. Minha filha me deu um enorme susto, foi isso. Você está bem?
Uma ruga marcava a pele suave e pálida de sua testa.
— o sangramento cessou e o ferimento já está coberto por um curativo.
Mal podia compreender o significado de suas palavras. Só conseguia pensar na dor em sua cabeça e na preocupação estampada naquele belo rosto. Devagar, levantou uma das mãos e afagou sua face com as pontas dos dedos. Era como tocar o mais fino e frio cetim. Ela suspirou. Depois afastou-se.
— Temo que acabe congelando se continuar por mais tempo deitada no chão frio. Mesmo com o fogo ardendo durante toda a noite... e nem disponho de combustível para isso... mesmo assim, o chão vai arrancar todo o calor de seu corpo.
Só conseguia encará-la e tentar controlar os tremores que a sacudiam.
— O único lugar onde poderá permanecer aquecido é na cama.
Corada, ela não conseguiu fitá-la nos olhos.
— E eu... eu só tenho uma cama.
Com a testa franzida, tentou absorver o que ela estava dizendo, mas não conseguia compreender por que isso a perturbava tanto. Ainda não conseguia lembrar quem era ela.
O golpe havia retirado de sua cabeça toda a capacidade de pensar e agir.
Mas a menina lhe chamara de màe, que significava "mãe" ou "mama" em alguns casos, quando se tratava de um casal de mulheres, onde uma delas era hermafrodita. Tentou pensar, mas o esforço só fez aumentar a dor.
— Fica lá em cima. A cama. Não posso carregá-la até lá.
A confusão se desfez como uma névoa densa que se desmanchava sob o sol da manhã. Ela estava preocupada com a possibilidade de não ser capaz de subir a escada. A desconhecida assentiu e teve que ranger os dentes para superar a tontura provocada pelo movimento súbito. Podia fazer isso por ela. Podia subir a escada. Não gostava de vê-la preocupada. Estendendo a mão em sua direção, preparou-se para ficar em pé. Gostaria de poder lembrar ao menos o nome dessa criatura angelical.
Anil segurou seu braço com firmeza e puxou-a até vê-la em pé. Trêmula, pálida a ponto de tornar-se assustadora, mas em pé e consciente.
Ela passou o cobertor por suas axilas e amarrou as pontas sobre seu ombro, improvisando uma toga.
Esperava que assim pudesse aquecê-la. Os pés e a porção das pernas abaixo dos joelhos estavam nus e certamente gelados, mas era melhor do que correr o risco de fazê-la tropeçar na ponta do cobertor. Ou vê-la nua. Encaixando um ombro em sua axila, ela começou a conduzi-la para a escada. Passaram por uma porta muito estreita e baixa, pois o pequeno chalé não havia sido projetado para abrigar pessoas tão altas.
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Christmas Wishes
FanfictionO mundo de Aninlaphat se resume à filha. Viúva, pobre e vivendo em um chalé isolado, ela sabe que o futuro não pode ser muito diferente do presente. Porém quando o inverno chega, traz consigo uma desconhecida que sofreu um grave acidente e perdeu a...