Daylight

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Anil balançou a cabeça.

— Nada. Quem quer que a tenha assaltado, levou até mesmo o casaco e as botas do infeliz. Pensei que pudesse ter ouvido alguma coisa.
— Não. Ninguém fez perguntas ou procurou por alguma desaparecida. Ela está lhe causando alguma dificuldade?
— Não, a mulher tem sido uma lady durante todo o tempo...

Exceto naquela manhã, quando suas mãos a haviam acariciado com ousadia e experiência, pensou, lutando contra o rubor. O vigário desconhecia os arranjos que tivera de fazer em sua casa a fim de acomodar as três pessoas na hora de dormir, ou não a teria apoiado nem por um momento.

De repente o religioso franziu a testa e olhou de volta.

— Onde está a pequena srta. Namo?
— Eu a deixei em casa. Está muito frio aqui fora, e ela teve um sério resfriado do qual acabou de recuperar-se. É... é só por alguns minutos...

Sua voz perdeu a força.

— Você a deixou sozinha com essa estranha?

A pergunta traía incredulidade.

De repente sentia-se tola. Criminosamente tola e ingênua.

— Eu não pensei... não senti que pudesse fazer algum mal a Namo... ou a mim.

Agora estava realmente preocupada.

— Mas sua apreensão tem fundamento. A mulher pode ser uma assassina, pelo que sei dela.

O vigário tentou acalmá-la, mas não parecia muito seguro.

— Estou certo de que não há nada com que deva preocupar-se. Se tivesse dúvidas a respeito dessa desconhecida teria trazido Namo com você. Sempre teve bons instintos.

A cada palavra de conforto, a dúvida de Anil só fazia crescer.

Como sua ansiedade. Ele asssentiu.

— Está em dúvida... Deixe o problema em minhas mãos. Se há uma mulher desaparecida, acabaremos ouvindo comentários ou perguntas. Vá para casa, minha querida. Cuide de sua filha.
— Oh, sim. Sim, estou indo. Obrigada pelo empréstimo desses itens, vigário.

Ela mostrou o pequeno pacote em suas mãos.

— Espero devolvê-lo em breve.

Anil voltou para casa correndo, sentindo o medo crescer a cada passo que dava.

Como havia permitido que seus... seus sentimentos calassem a voz da razão? Deixar Namo em casa, só porque o dia era frio e úmido! Acreditar em uma estranha que dizia não se lembrar de anda. Presumir que o simples fato de gostar dela... gostar demais, para ser honesta, fosse garantia de estar lidando com alguém digna de confiança.

Pelo que sabia, a mulher podia ser uma vilã! Era simples para o vigário elogiar seus instintos e manifestar confiança em sua intuição, mas ele não sabia nada sobre a confusão que havia criado em sua vida. Confiara em seus instintos e sentimentos, e eles não valiam nada! Deus do céu, deixara sua filha com uma estranha! Se acontesse alguma coisa a Namo, não poderia suportar. Ainda correndo, ela chegou ao chalé e abriu a porta com um movimento brusco. O aposento estava vazio. Nenhum sinal de sua filha. Anil ouviu vozes no segundo andar. Não conseguia entender o que era falado. De repente identificou um grito agudo e ansioso.

— Não, não! Pare com isso!

Namo gritava. Anil subiu a escada como se possuisse asas, pulando os degraus, quase tropeçando nas saias enquanto corria. Entrou no quarto e parou, lutando para recuperar o fôlego, olhando para o inusitado cenário com que se havia deparado.

A assassina com quem deixara a filha estava sentado na cama, exatamente onde a vira pela última vez.

Ela encontrara sua camisa, por sorte, e a vestira, cobrindo assim aquele busto suculento.

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