Beautiful Soul

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A mulher não se moveu, continuou ali deitada, imóvel, respirando com a mesma regularidade demonstrada nos últimos quinze minutos.

Anil tentou afastar-se dela, mas o peso do corpo inclinava o colchão.

Era impossível não rolar pela depressão até se chocar contra a outra.

A sensação era inquietante.

Muito inquietante. Movendo-se, tentou reduzir o contato entre elas.

Os dedos congelados ultrapassaram a barreira dos lençois e encontraram pernas longas e ela suspirou de prazer.

A desconhecida era quente como uma fornália. Febre? No escuro, pôs a mão em sua testa para sentir a temperatura da pele. Ela parecia normal.

Mas podia se efeito do ar frio da noite. Deslizando a mão por baixo das cobertas, tocou o busto nu.

A pele estava quente e seca, e os músculos sob ela era firmes.

A estranha não parecia estar febril.

A sensação era agradável.

Anil removeu a mão da zona proibida e encolheu-se em seu próprio casulo de lençois. Fechou os olhos com firmeza, tentando expulsar da mente a consciência da mulher hermafrodita deitada a seu lado na cama. Sim, sabia que não conseguiria dormir, pois estava contando com a possibilidade da desconhecida estar acordada, fingindo ter perdido a consciência, mas pelo menos ficaria aquecida.

Nunca dormira com ninguém antes. Sam não se dava ao trabalho de ficar com ela por mais tempo do que o necessário. Depois da relação, a falecida a deixava imediatamente, e depois de saber que a esposa havia enfim engravidado, nunca mais voltara à sua cama. Por isso a sensação de ter uma outra pessoa adulta adormecida a seu lado era tão perturbadora. Podia sentir seu cheiro, a fragância tão fresco de seu corpo, o aroma do emplastro de ervas que pusera em sua cabeça. Era como se sua forma ampla e imponente ocupasse toda a cama, um caminho que permitia a entrada do vento gelado.

Ela se aproximou um pouco mais da desconhecida, reduzindo o vão, porém permanecendo rígida e sem tocá-la, lutando contra a gravidade que a impelia pela depressão do colchão de encontro ao outro busto feminino. Devagar, de maneira insidiosa, o calor de seu corpo a envolveu e foi derrubando suas defesas.

A combinação entre a imobilidade reconfortante e a regularidade da respiração profunda acalmou sua mente ansiosa até que finalmente adormeceu. E, enquanto dormia, Anil aninhou-se junto da desconhecida, colando seu corpo ao dela. Seus dedos frios escorregaram para fora do gelado casulo de lençois e repousaram no calor firme das longas pernas nuas.

Uma de suas mãos buscou um lugar confortável e aquecido entre as inúmeras camadas de tecido que cobriam, descansando por fim naquele firme e ombro largo desconhecido...



(...)



O sol fraco de inverno a despertou, iluminando o pequeno e simples aposento, espalhado uma luminosidade dourada que atravessava as cortinas desbotadas em torno de sua alcova de dormir. Sentindo-se confortável, relaxada e satisfeita, Anil bocejou sonolenta e espreguiçou-se... e descobriu-se apoiada contra as costelas de uma mulher, seu pé protegido entre as pernas dele, o braços sobre seu corpo inerte. Ela se levantou da cama como uma pedra lançada por uma catapulta e ficou ali tremendo no frio súbito da manhã, olhando para a estranha, piscando algumas vezes até recuperar todas as lembranças.

Depois de pegar algumas de suas roupas sobre a cama, Anil correu a acender o fogo no andar de baixo.

A estranha passou o dia todo dormindo. Com excessão do sono pesado e ininterrupto, Anil não via nada de errado na desconhecida.

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