O homem encorpado e carrancudo usava roupas mais apropriadas para um passeio no parque em uma tarde londrina do que para uma manhã em Nothumberland. Ele passou pela porta sem pedir licença, os olhos estudando seu corpo de maneira íntima. Anil sentiu a repulsa provocada por aquele olhar, mas não demonstrou a reação.
— A que devo a honra de sua visita?
— Sei que tem uma pessoa hospedado aqui, senhora!A voz furiosa do senhorio ecoou pela sala.
— Por que diz isso?
Oh, céus! Esperava que as tábuas do piso do segundo andar não rangessem!
— Uma pessoa foi vista sobre o seu telhado. Ontem.
O senhorio aproximou o rosto vermelho do dela.
O cheiro de pomada para cabelos era enjoativo, como o das roupas sujas.
A exemplo de sua falecida amiga, sua finada esposa, o proprietário daquelas terras gostava de roupas e perfumes caros, mas desprezava o banho e outros hábitos de higiene.
Anil virou-se, tentando esconder o medo e a repugnância.
— Havia alguém aqui ontem. Consertou as goteiras do telhado.
— O chalé é meu! Eu digo quem arruma o telhado! Então tem um pretendente secreto, não é mesmo, sra. Virtude-e-Correção?Seu rosto era uma máscara irada.
— É muito altiva e virtuosa para atender-me, eu que a abrigo nesta casa por bondade, e agora descubro que deixou um camponês imundo meter o nariz sob suas saias.
— Você é repugnante!
— Quem é? quero saber o nome do sujeito!Anil desistiu de controlar a fúria.
— Não tenho a menor ideia sobre o seu nome ou sobre quem é, a pessoa apenas consertou meu telhado e eu dei alguma comida a ela pelo serviço! Há meses estou pedindo que mande alguém aqui para reparar esse telhado, e até agora não fez nada!
— Porque se recusou a cumprir com sua parte na barganha.Os olhos pequeninos passeavam por seu corpo com lascívia.
Anil estremeceu e disse a si mesma que devia ignorar aquele olhar.
— Não houve nenhuma barganha. Nunca haverá. Pago o aluguel deste chalé e isso encerra o assunto.
— Ah, um aluguel miserável!
— O valor que me foi proposto no dia do funeral de Sam! Se o aluguel é menor do que o habitual, eu não sabia disso. Pensei que sua gentileza fosse devida ao fato de ser amigo de minha esposa. Devia ter desconfiado...Terminou amargurada, virando-se para ir cuidar do mingau que deixara na panela.
— Sim, devia mesmo. Não existem coisas como alguma coisa em troca de nada.
— Você é repugnante.
— Onde está aquela sua pestinha?Ele olhou em volta e viu a casa de bonecas feita com uma caixa de queijo.
— Não gostaria que ela sofresse um acidente, não é?
Sem aviso prévio, suas botas engraxadas esmagaram o brinquedo, reduzindo a pedaços inúteis que ele chutou para o fogo.
Anil emitiu uma exclamação de medo e ultraje. Atordoada, via as chamas devorarem o mundo de sonhos de uma pequena garotinha. Namo estava lá em cima, dormindo. Era o que esperava.
Não queria que a filha testemunhasse o que estava por acontecer ali.
Mataria o senhorio antes de permitir que ele a tocasse,
— Mamãe, mamãe!
Descalça e ainda de camisola, Namo desceu a escada correndo para ir ao encontro da mãe, mas, com agilidade surpreedente para alguém de seu tamanho, o senhorio agarrou-a pelo braço. Namo gritou de medo e dor.
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Christmas Wishes
FanfictionO mundo de Aninlaphat se resume à filha. Viúva, pobre e vivendo em um chalé isolado, ela sabe que o futuro não pode ser muito diferente do presente. Porém quando o inverno chega, traz consigo uma desconhecida que sofreu um grave acidente e perdeu a...