Capítulo 5: Consequências Silenciosas

40 4 2
                                    

O caminho de volta para sua mesa nunca pareceu tão longo. Nunew caminhava pelos corredores do escritório com os passos pesados, como se cada metro que o separava da sala de Zee estivesse repleto de uma tensão invisível. Sua mente fervilhava com os pensamentos sobre o beijo — aquele momento curto e intenso que mudara tudo entre eles. O que significava? Como ele deveria agir a partir dali? E, mais importante, como Zee iria se comportar?

Ao se sentar à sua mesa, a realidade voltou com força. A papelada continuava ali, as tarefas pendentes ainda exigiam sua atenção, mas sua mente estava distante. Era como se a conexão com seu trabalho tivesse sido interrompida por algo muito maior, algo que ele não sabia como processar.

Nunew pegou uma caneta, tentando se concentrar em qualquer coisa, mas a sensação do toque dos lábios de Zee nos seus parecia insistir em sua memória. Cada vez que ele tentava afastar o pensamento, a lembrança voltava com mais intensidade. Ele sabia que aquele beijo, por mais breve que fosse, havia criado uma ruptura irreparável na dinâmica entre eles.

O dia passou lentamente. Zee, como sempre, permaneceu em sua sala, e Nunew se forçou a manter distância. Ele sabia que era melhor dar tempo ao chefe — e a si mesmo — para entender o que aquilo significava. Mas, à medida que o dia avançava, a angústia crescia. Haveria uma nova conversa? Zee iria fingir que nada havia acontecido? Ou o pior: aquilo significaria o fim de sua posição como assistente? A incerteza era esmagadora.

No fim do expediente, Nunew arrumou suas coisas rapidamente e deixou o escritório antes que pudesse esbarrar em Zee novamente. Sentiu que precisava de ar, de espaço para processar tudo o que estava acontecendo. Mas mesmo em casa, sozinho no silêncio do seu quarto, as emoções não o deixaram em paz. Ele sabia que havia algo de profundo e incontrolável crescendo dentro de si. Algo que ele não conseguiria mais reprimir.

No dia seguinte, Nunew chegou ao escritório com uma sensação de nervosismo que não conseguia sacudir. Por mais que tentasse agir de forma profissional, estava claro que algo havia mudado. Ele passou a manhã mergulhado em papéis e planilhas, tentando ao máximo evitar pensar em Zee. Mas sua mente insistia em retornar àquele momento.

Perto do meio-dia, o telefone em sua mesa tocou, e o coração de Nunew quase parou.

— Nunew, na minha sala. Agora. — A voz de Zee soou firme, mas havia uma tensão subjacente que não escapou a Nunew.

Ele respirou fundo antes de levantar-se e dirigir-se à sala do chefe. A caminhada até lá parecia mais longa do que nunca. Cada passo ecoava em sua mente, como se estivesse indo para um julgamento cujo veredito ainda era incerto.

Quando entrou na sala, Zee estava de pé, ao lado da mesa, os braços cruzados, com a expressão dura que costumava usar nas negociações mais difíceis. Por um momento, Nunew hesitou, esperando alguma instrução ou palavra que explicasse o motivo de estar ali.

— Feche a porta — ordenou Zee, sem desviar o olhar da janela.

Nunew obedeceu, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. O ambiente na sala parecia carregado de uma tensão sufocante. Ele se posicionou à frente da mesa, esperando que Zee dissesse algo, mas o silêncio prolongado apenas aumentava a ansiedade.

Finalmente, Zee virou-se para ele, com uma expressão indecifrável. Havia algo em seus olhos — uma mistura de frustração, hesitação e, talvez, arrependimento. Ele parecia lutar contra suas próprias emoções, e Nunew podia ver que aquilo não era fácil para ele.

— Sobre ontem... — Zee começou, mas logo parou, como se estivesse escolhendo as palavras cuidadosamente. — Eu fui... imprudente.

Nunew permaneceu em silêncio, tentando manter a compostura, mas suas mãos estavam ligeiramente trêmulas. Ele sabia que deveria deixar Zee falar, mas cada palavra que saía da boca do chefe parecia perfurar sua mente com uma intensidade desconcertante.

— Isso não deveria ter acontecido, Nunew — continuou Zee, sua voz mais firme. — Eu sou seu chefe. E você é meu assistente. Precisamos manter essa relação no campo profissional. O que aconteceu foi um erro.

Aquelas palavras atingiram Nunew como um soco no estômago. Por mais que ele já esperasse algo assim, ouvir Zee verbalizar que o beijo foi um erro fez com que sua garganta se fechasse. Ele tentou não demonstrar a dor que sentiu ao ouvir aquilo, mas foi impossível evitar o desconforto que transpareceu em seu olhar.

— Eu entendo, senhor — Nunew finalmente conseguiu dizer, com a voz baixa, quase apagada. — Não se preocupe, isso não voltará a acontecer.

Mas, por dentro, ele sabia que aquilo não era verdade. Não para ele. O que sentia por Zee não era algo que ele pudesse simplesmente apagar. Mesmo tentando manter o tom profissional, a verdade é que as emoções que ele vinha guardando há meses agora estavam à flor da pele.

Zee assentiu lentamente, mas sua expressão estava longe de ser aliviada. Na verdade, ele parecia ainda mais tenso. Havia uma luta interna clara dentro dele, algo que ele tentava suprimir com todas as suas forças. O chefe desviou o olhar por um momento, e Nunew sentiu que a conversa estava longe de ser resolvida.

— Sei que as coisas ficaram... confusas — continuou Zee, com um tom de voz mais contido. — Mas precisamos seguir em frente. Focar no trabalho. Não podemos deixar que isso afete o que construímos aqui.

Nunew assentiu, sem saber ao certo o que dizer. Ele queria argumentar, queria dizer a Zee que não era só um erro, que havia algo mais entre eles, mas sabia que não podia. Não naquele momento. Zee estava decidido a colocar a relação deles de volta nos trilhos profissionais, e Nunew sabia que não tinha escolha a não ser concordar.

— Eu vou me concentrar no trabalho, senhor — disse Nunew, tentando soar o mais calmo possível. — Isso não irá interferir nas minhas responsabilidades.

Zee soltou um suspiro pesado, como se estivesse aliviado por ouvir aquilo, mas o olhar que lançou para Nunew ainda era carregado de uma tensão latente. Por mais que quisesse acreditar que tudo voltaria ao normal, algo dizia a ambos que a situação já havia saído do controle.

— Ótimo — foi a resposta curta de Zee, antes de se virar novamente para a janela, encerrando a conversa.

Nunew tomou aquilo como um sinal de que deveria ir embora. Ele se levantou da cadeira e, com um último olhar para Zee, saiu da sala, fechando a porta atrás de si com cuidado. Ao sair, seu peito estava apertado, e a sensação de vazio crescia a cada segundo.

Voltar para sua mesa parecia uma tarefa difícil. Ele sentia como se o ar ao seu redor estivesse pesado demais para respirar, como se a sala de Zee tivesse sugado toda a sua energia. Por mais que tentasse se convencer de que aquela era a melhor decisão, seu coração estava longe de aceitar aquilo como o fim.

Nos dias seguintes, a dinâmica entre Nunew e Zee mudou drasticamente. Ambos evitaram ao máximo qualquer interação pessoal. Zee se manteve mais distante do que nunca, falando apenas o necessário, e Nunew fez o possível para seguir a linha profissional que havia prometido. No entanto, a cada dia que passava, ficava mais evidente que a barreira que estavam tentando erguer era frágil demais para conter os sentimentos que continuavam a crescer entre eles.

E então, algo inesperado aconteceu.

Em uma noite de sexta-feira, quando o escritório já estava vazio, Nunew foi o último a sair. Ele estava organizando alguns documentos quando ouviu passos atrás de si. Ao se virar, deparou-se com Zee parado na porta, a expressão indecifrável. Havia algo diferente em seu olhar, algo que fez o coração de Nunew acelerar imediatamente.

— Preciso falar com você — disse Zee, e a tensão em sua voz era palpável.

Nunew sabia que aquele momento estava prestes a explodir novamente.

Sob o Mesmo Teto: Entre Segredos e DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora