Davi, Quando os Muros Caem, Guerreiros se Levantam

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Eu e a Júlia távamos chegando na produtora, mano, com aquele sol batendo, e no caminho a gente ainda foi trocando ideia sobre as últimas linhas da música. Eu com o papel na mão, lendo, rabiscando, e ela do meu lado, sempre dando aqueles toques. Não tem jeito, minha irmã é fera.

Quando chegamos na porta da Bonde do Vidigal, já dei um salve nos caras.

Davi: "E aí, família, firmeza?"

Os caras já me conheciam de vista, então foi tudo suave. A Júlia chegou junto, cumprimentou geral também, daquele jeito dela.

Davi: "Então, rapaziada, tô aqui porque quero gravar uma música. Quero começar minha carreira de verdade, tá ligado?"

Eles ficaram na deles, ajeitando o equipamento, preparando tudo, e eu só de olho, nervoso, mas cheio de vontade. Não demorou muito, a cabine tava pronta pra mim. Respirei fundo, troquei um olhar com a Júlia, e entrei. Era a hora de meter a cara.

Dentro da cabine, já posicionei o fone no ouvido e ajustei o microfone. Olhei pra frente, e a Júlia tava lá, com aquele sorrisinho de quem sabia que ia dar certo. Os caras do estúdio já tavam na expectativa, e eu sentia o peso do momento, mas não podia vacilar.

Respirei fundo e comecei a soltar a letra:

Davi: "Tava quase acabando tucho e o aquário tá montado
Bolso direito tava cheio de peixe e tava tudo forrado
Os menor deu um salve para roleta
O cavalo é o i30 e litoral que fala
Chegando lá acende uma bomba de frente para maré
Cansei de contar dinheiro comecei contar mulher..."

Enquanto a rima saía, dava pra ver a Júlia olhando pra mim, sorrindo, orgulhosa. Os caras no estúdio estavam meio incrédulos, trocando olhares como se dissessem "não é possível que ele escreveu isso". E eu? Continuava mandando a rima, embalado pela batida, sabendo que cada palavra ali tinha que bater do jeito certo.

Continuei soltando a letra com mais intensidade, sentindo cada palavra carregar a história que vivi:

Davi: "e só pra assombrar, Juju na face e na orelha é o beck
Na praia, é o reef e no baile é o pro7
O cabelinho tá na régua, abandonei a bombeta
Oitãona orelha é o beck Na praia, é o recife e no baile é o pro7
O cabelinho tá na régua, abandonei a bombeta Oitão na cinta E o malote que atrai buceta
Não tô nem aí pra nada, dificuldade também já passei
Já apanhei muito nessa vida, só que agora eu cansei..."

Os cara no estúdio tavam hipnotizados, as batidas vibrando enquanto cada verso saia com mais força. A Júlia ainda com aquele sorriso, olhando para mim com brilho no olhar, enquanto eu me entregava a música, aquele momento.

Quando terminei de vez, o estúdio ficou em silêncio. Tipo, sem palavras pra descrever o que rolou.

Saí da cabine com aquele alívio no peito, a sensação de missão cumprida. Olhei pros caras que tavam ainda processando tudo o que acabaram de ouvir e soltei:

Davi: "E aí, o que vocês acharam? Amanhã tem mais uma, tá?"

Os caras se entreolharam, ainda meio em choque, mas logo começaram a sorrir e dar risada, tipo, "esse moleque é foda". Júlia, do meu lado, cruzou os braços com aquele ar de orgulho, e eu sabia que tinha mandado bem.

Os caras responderam com uns "demorô, irmão" e "vamo nessa", e eu já tava pensando na próxima vez que ia entrar ali de novo.

Os caras se entreolharam, ainda surpresos, e um deles falou:

"Mano, essa aí não dá pra segurar, não. A gente só vai dar uma editada na batida e já lança hoje mesmo! Pra quem tá começando agora, essa letra é pesadona. Cê tá pronto, Davi."

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