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Paris deveria parecer diferente

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Paris deveria parecer diferente.

Ao olhar pela janela do táxi, a cidade me envolve com suas luzes douradas, ruas de paralelepípedos e prédios imponentes. Tudo tão distinto, tão bonito, quase etéreo. Mas, em vez de me sentir deslumbrada, tudo me parece desfocado, como uma pintura mal terminada. A Cidade Luz. O lugar dos sonhos de tantos. No entanto, para mim, Paris é apenas o palco para a distância. Um lembrete do que deixei para trás.

O taxista murmura algo em francês, mas estou longe demais para ouvir, longe demais para me importar. O cheiro do couro do banco e do perfume suave do motorista se mistura com a brisa fria que entra pela janela entreaberta. Fecho os olhos por um momento, tentando me perder na sensação, mas a presença de Damon ainda paira sobre mim, mesmo aqui. Afastá-lo dos meus pensamentos é como tentar escapar de uma sombra que não pertence a esta cidade.

Meu celular vibra. Outra mensagem. Eu já sei de quem é.

Quero ignorá-lo, deixar que esse pequeno pedaço de controle fique de lado por pelo menos alguns minutos, mas minhas mãos agem por conta própria. A tela brilha no escuro do táxi.

"Chegou?"

Damon. É sempre ele, mesmo quando não está. Minhas respostas são automáticas, desprovidas da rebeldia que eu gostaria de sentir.

"Sim."

Não há emoção nas palavras, mas o simples ato de responder já significa que ele ainda está no controle. Suspiro e guardo o celular no bolso, tentando, pela primeira vez em horas, focar no que está à minha frente. As ruas de Paris passam lentamente, a beleza imponente da cidade me envolvendo como se estivesse tentando suavizar a frieza que me acompanha desde o aeroporto.

O táxi finalmente para em frente ao hotel. Um edifício majestoso, com paredes de pedra esculpidas, iluminado por candelabros que derramam uma luz dourada sobre a entrada. Tudo parece brilhar, mas o brilho não me toca.

— Bien arrivée, mademoiselle. — diz o taxista, com um sorriso amigável, estendendo a mão para pegar minha mala.

— Merci. — respondo, tentando corresponder com um sorriso, mas sinto os músculos do meu rosto rígidos, como se o ato de ser simpática fosse um esforço monumental.

Saio do táxi e olho para o hotel. As portas de vidro se abrem automaticamente, e, por um momento, o calor do saguão interior me atrai. Quero entrar, mas ainda estou presa à sensação de estar entre dois mundos. Paris e o controle que deixei para trás. A liberdade e a prisão. 

Entro no hotel, o eco suave dos meus saltos contra o mármore polido é o único som que ouço. A recepcionista me saúda com um sorriso que parece ensaiado, um gesto típico de uma cidade acostumada com turistas. Ela me entrega a chave do quarto com um — Bienvenue. — e eu agradeço rapidamente, ansiosa para escapar.

O elevador é antigo, com portas de ferro e uma cabine de madeira que range levemente enquanto sobe. Há uma intimidade desconfortável ali, como se o peso do que estou sentindo se amplificasse no pequeno espaço. Damon não está aqui, mas ele poderia muito bem estar. Sinto a presença dele em cada batida do meu coração, em cada suspiro que tento disfarçar.

His AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora