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A sala estava cheia, mas o som dos meus próprios pensamentos era mais alto do que qualquer burburinho ao redor

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A sala estava cheia, mas o som dos meus próprios pensamentos era mais alto do que qualquer burburinho ao redor. Senti o peso da responsabilidade nos meus ombros, cada respiração um esforço calculado. Estava tudo pronto, tudo orquestrado nos mínimos detalhes. Eu sabia disso. Sabia que cada peça da coleção estava impecável, que cada modelo tinha recebido as instruções certas. E, ainda assim, meu coração batia com uma intensidade que eu não conseguia controlar.

Minha mente tentava focar no agora, no desfile, nas luzes que se apagavam lentamente, anunciando o início do que seriam os minutos mais decisivos da minha carreira. Mas havia algo mais. Algo que eu não conseguia identificar, uma sensação de inquietação que me acompanhava desde que pisei em Paris. Eu deveria estar no controle, mas uma parte de mim, uma parte que eu não conseguia domar, sentia uma ausência.

As luzes retornaram, banhando a passarela em um brilho suave e elegante, e a primeira modelo entrou. Todos os olhares se voltaram para ela. Eu podia ver as expressões de curiosidade e expectativa no rosto das pessoas sentadas na primeira fila. Críticos de moda, personalidades importantes, todas ali para julgar o que eu tinha criado. Isabella estava ao meu lado, transmitindo uma confiança silenciosa, como sempre fazia. Mas hoje, sua presença não era suficiente para acalmar a tempestade interna que se formava em mim.

Observei a primeira peça desfilar e, por um instante, o controle retornou. O vestido fluía perfeitamente com o movimento da modelo, os detalhes sutis capturando a atenção de todos. Um murmúrio de aprovação correu pela plateia, e meu corpo relaxou um pouco, como se aquele primeiro passo fosse a confirmação de que tudo estava indo conforme o planejado.

Mas a inquietação persistia.

Conforme as outras peças eram apresentadas, eu continuei a supervisionar tudo. Cada detalhe, cada movimento das modelos, cada flash das câmeras. Meu olhar seguia as criações como um falcão, buscando qualquer imperfeição. No entanto, algo parecia diferente hoje. Como se, além de observar o desfile, eu estivesse sendo observada.

Me forcei a ignorar a sensação, focando nos bastidores, ajustando um detalhe aqui, orientando uma modelo ali. Tudo precisava ser perfeito, porque esse desfile não era apenas sobre mim. Era sobre tudo o que eu tinha construído, sobre a validação que eu ansiava. Paris era o cenário dos meus sonhos, e eu estava no centro dele, mas a cidade ainda não parecia completamente minha.

A última peça entrou na passarela, o ápice de toda a coleção. A modelo vestia o vestido que representava minha assinatura, minha ousadia. A sala inteira prendeu a respiração, e pela primeira vez naquela noite, eu me permiti parar e observar. Cada movimento era calculado, cada passo uma afirmação de quem eu era e do que eu tinha alcançado.

Quando a modelo deu sua última volta, o silêncio tomou conta do salão por um breve instante. Eu podia sentir a expectativa pairando no ar, como se todos esperassem algo mais, um momento de reconhecimento. E então, os aplausos começaram.

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