37

192 18 0
                                    

O tempo tem uma maneira curiosa de se arrastar quando as coisas estão fora do lugar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O tempo tem uma maneira curiosa de se arrastar quando as coisas estão fora do lugar.

Duas semanas. Quinze dias. Cada um deles pesando mais que o anterior.

De onde estou, a cidade continua sua rotina. As ruas estão tão agitadas quanto sempre, e os rostos ao meu redor passam rápidos, ignorando a presença de qualquer um além de si mesmos. Para o mundo, tudo está normal. Mas para mim, o que era habitual parece distorcido. Tudo fora do meu controle. E eu odeio isso.

Volto a me concentrar no que está diante de mim: papéis, contratos, decisões que precisariam ser tomadas. A empresa não para, os negócios seguem. Sempre há algo que requer atenção. Mas, estranhamente, nenhum desses problemas parece capaz de me distrair da única coisa que realmente me interessa, ou melhor, da única pessoa que ainda consegue me afetar de uma maneira que me deixa irritantemente vulnerável.

Aurora.

Há duas semanas ela foi embora, e desde então, tudo parece... errado. O vazio dela é insuportável, como um eco que se recusa a desaparecer. Eu me vejo constantemente checando o celular, esperando uma mensagem, uma ligação. Algo. 

Claro, houve mensagens, curtas, práticas, distantes. Ela está ocupada, focada no trabalho. Eu deveria admirar isso, deveria me orgulhar da ambição que ela demonstra, mas, na verdade, me irrita.

Levanto da cadeira e caminho até a janela do meu escritório. O horizonte de vidro e concreto se estende diante de mim, mas não oferece consolo. O silêncio dentro de mim é ensurdecedor. A presença dela era algo que eu controlava, algo que, mesmo sem perceber, me mantinha estável. Agora, sem ela, minha mente está constantemente em movimento, buscando formas de preencher o vazio, de reestabelecer o equilíbrio que eu perdi no momento em que ela entrou naquele maldito avião.

Olho para o relógio. Mais uma reunião em dez minutos. Normalmente, essas coisas me mantêm focado, mas ultimamente, tudo o que me ocorre é como a distância entre nós parece maior do que os oceanos que nos separam. Paris deveria ser temporário. Apenas algumas semanas de trabalho. Mas, conforme os dias se passaram, percebi que não era a distância física que me incomodava. Era a ideia de que, lá, Aurora estava em seu elemento, longe do meu alcance, sem o controle que eu tanto me esforço para manter.

Dois toques curtos na porta. É Jonathan, meu novo assistente.

— A reunião está pronta, senhor. — ele diz, a voz neutra, como sempre.

Eu apenas faço um gesto, indicando que já sei. Ele sai rapidamente, fechando a porta atrás de si. Mais papéis, mais decisões. Normalmente, eu domino essas reuniões. Gosto de estar no comando, de ver os outros se moldarem à minha vontade. Mas hoje... nada disso me satisfaz. Porque não é aqui que está o meu verdadeiro controle.

Caminho de volta até minha mesa, meus olhos vagando até o celular novamente. Eu poderia ligar para ela. Forçá-la a falar comigo. Mas não. Não é assim que funcionamos. Aurora sabe o que eu espero. E ela sabe que, eventualmente, eu vou esperar respostas que vão além das formalidades.

His AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora