Capítulo 08

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O aroma do café fresco se espalhava pela cozinha, preenchendo o ambiente com uma calma temporária que contrastava com o caos que minha vida se tornara. Eu estava sentado à mesa, observando a fumaça subir lentamente da xícara, um breve momento de paz antes da tempestade inevitável. Mas então ouvi passos leves e suaves se aproximando. Emma apareceu na entrada, com os cabelos levemente bagunçados, o rosto ainda marcado pelo sono, e me ofereceu um pequeno sorriso.

— Bom dia — ela murmurou, a voz sonolenta, mas com um toque de charme.

— Bom dia — respondi, colocando a xícara de volta à mesa. — Deixe-me apresentar quem cuida da cozinha aqui em casa. Esta é Marta, que prepara as refeições durante a semana. Ela está disponível de segunda a sexta, exceto aos finais de semana.

Marta, ao lado da pia, organizava algumas coisas. Ela acenou com a cabeça e sorriu calorosamente.

— Prazer em conhecê-la — disse ela com um olhar gentil.

Emma retribuiu o sorriso, ainda um pouco tímida diante da formalidade inesperada. Ela se sentou à mesa, ajeitando a camisola, claramente desconfortável com a situação.

— Marta, pode preparar algo leve para minha noiva tomar café, por favor? — pedi de maneira casual, quase mecânica.

Foi somente quando a palavra "noiva" escapou dos meus lábios que percebi o peso que ela carregava. Era a primeira vez que eu a chamava assim em voz alta. Notei Emma corar, suas bochechas tingindo-se de um rosa suave enquanto evitava meu olhar.

— Ah, então é assim que vai ser? — ela perguntou, a voz um tanto irônica, quebrando o silêncio. — "Minha noiva", em público e tudo mais?

Eu sorri, um pouco desajeitado, mas sem perder a chance de alfinetar.

— Não fique tão nervosa, Emma. Não estamos exatamente em um reality show, embora você tenha toda a aura de estrela de TV.

Ela me lançou um olhar fulminante, mas algo me dizia que ela não estava totalmente incomodada. Talvez estivesse se acostumando à ideia de "noiva", ou talvez fosse apenas mais uma das nossas trocas irônicas.

Assim que Marta deixou a cozinha, inclinei-me ligeiramente à frente, captando o rubor em seu rosto. Ela estava desconcertada, e eu sabia que o som daquela palavra ecoava em sua mente tanto quanto na minha.

— Precisamos interpretar isso direito — comentei, em um tom baixo, tentando manter a conversa mais séria. — Não podemos deixar que as pessoas desconfiem que esse casamento é qualquer coisa menos real.

Emma deu uma leve risada, mas seu olhar era mais atento, e não tão distante quanto antes. Ela estava começando a entender que essa encenação, essa farsa, poderia ser mais difícil do que ambos imaginávamos.

— Ah, claro, porque eu sou uma excelente atriz, não é? — ela disse, com um sorriso sarcástico. — Posso fingir que estou completamente apaixonada por você enquanto tento lembrar como me comportar como "noiva" e não parecer uma completa impostora.

— Isso é, sem dúvida, um talento raro — rebati, rindo. — Talvez possamos até adicionar isso ao currículo.

Ela bufou, mas havia algo em seu olhar, algo quase imperceptível, que me fez sentir que ela não estava totalmente de acordo com a ideia de "fingir". Mas, por enquanto, ficaria.

Emma assentiu lentamente, ainda sem coragem de me encarar. Para ambos, esta situação era como andar sobre uma corda bamba. Havia um papel a desempenhar, uma fachada a manter. Mesmo que, no fundo, aquilo fosse apenas um contrato temporário, precisávamos fazer com que parecesse o oposto.

Imprevisto a DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora