Capítulo 09

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Emma

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Eu tinha ensaiado essa cena mil vezes na minha cabeça, mas agora, sentada à mesa de jantar com os pais de Ethan me observando atentamente, parecia que todas as respostas planejadas haviam fugido de mim. Estávamos todos com os pratos servidos, e o aroma delicioso da comida pairava no ar, tentando competir com a tensão que me envolvia como um cobertor pesado.

— Então, Ethan... — começou a mãe dele, com um sorriso curioso e gentil, os olhos brilhando de expectativa, como se estivesse prestes a descobrir um segredo bem guardado. — Como vocês dois se conheceram?

Senti meu coração disparar, e notei que Ethan também estava tenso. Ele soltou um sorriso nervoso e me olhou de lado, quase como se estivesse pedindo socorro. Sabendo que ele não tinha a menor ideia de como responder sem levantar suspeitas, resolvi entrar no jogo.

— Num cruzeiro! — comecei, lançando a resposta com o tom mais casual que consegui, como se essa história fosse apenas mais um episódio engraçado da nossa "vida juntos".

— Cruzeiro? — O pai de Ethan arqueou uma sobrancelha, parecendo se divertir. — E como é que isso aconteceu?

Olhei para Ethan, que parecia surpreso e um pouco aliviado por eu ter assumido a narrativa. Essa era a minha chance de criar uma história convincente, mas eu preferi a diversão.

— Sim! Eu estava passeando, mas acabei me confundindo e entrando no quarto errado — disse, com um sorriso travesso. — E, como obra do destino ou de um GPS muito falho, o quarto era o dele.

O pai de Ethan soltou uma risada enquanto sua mãe parecia encantada com essa história de amor “inesperado”. A tensão estava começando a se dissolver, e eu aproveitei.

— E aí ele, claro, fez o maior escândalo! Imagina, ele ali, com aquela cara de quem leva tudo a sério — brinquei, revirando os olhos. — Mas, pra ser justa, ele estava bem... relaxado na hora, então até foi engraçado. Se eu não soubesse que ele estava só de férias, teria achado que ele estava fazendo teste pra trabalhar de guia turístico perdido.

Ethan me lançou um olhar de advertência, com um sorriso escondido, enquanto os pais dele riam. Aproveitei a deixa e continuei:

— No final das contas, ele passou o sermão mais confuso da vida. Eu juro, se ele conseguisse ficar de pé, acho que teria até tentado me escoltar pra fora do quarto!

Ethan balançou a cabeça, contendo uma risada. Eu sorri, satisfeita.

Pisquei um pouco mais demorado, tentando forçar um sorriso que transmitisse uma mistura de carinho e atuação. Ethan precisava acreditar que isso era apenas uma história convincente, que eu estava apenas interpretando o papel de "noiva perfeita" para não levantar suspeitas. Mas lá no fundo, uma pequena parte de mim sabia que aquilo que acabara de dizer tinha um fundo de verdade que eu não estava preparada para encarar.

Ethan me olhou, confuso por um breve momento, e eu rapidamente desviei o olhar, mexendo na comida de maneira distraída. Ele não podia saber. Não podia desconfiar que aquele "erro de quarto" havia se tornado muito mais do que uma história engraçada para se contar em uma mesa de jantar.

Mal terminei de mexer na comida quando um trovão ensurdecedor ecoou pela casa, seguido por um relâmpago que iluminou toda a sala de jantar. Todos nós levantamos a cabeça, surpresos, e a mãe de Ethan rapidamente se levantou para fechar as janelas. A tempestade havia chegado com uma intensidade inesperada, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha.

Olhei para Ethan, que também parecia um pouco desconcertado, e não pude evitar recordar o que tinha dito a ele mais cedo.

— Acho que vocês devem ficar por aqui esta noite, então — comentou o pai de Ethan, olhando pela janela com uma expressão preocupada. — Com essa chuva, não tem como vocês irem embora.

Imprevisto a DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora