Prológo

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Eu estava decidido. Hoje seria o dia. O anel de diamante, que eu guardava no bolso esquerdo da calça há semanas, logo adornaria a mão da mulher com quem compartilhei os últimos doze anos da minha vida. O jantar estava perfeito, o cruzeiro com seu cenário mágico, o céu brilhando como testemunha do momento que mudaria nossas vidas. Tudo tinha sido pensado nos mínimos detalhes. Seria a nossa noite — pelo menos, era o que eu imaginava.

No entanto, a perfeição planejada se desfez com uma única notificação no celular, cortando a realidade com uma frieza que eu jamais esperava.

"Não vou conseguir embarcar a tempo. Fui escalada de última hora para interpretar o Cisne Negro. Não era o que eu queria, mas vai me ajudar na carreira. Sinto muito."

Aquelas palavras me atingiram como um soco. Nada de explicações, nada de "eu te amo", nada que aliviasse o impacto. Doze anos juntos e o que eu recebo é uma mensagem fria e apressada, como se os planos que construímos a dois fossem apenas uma nota de rodapé em sua carreira. Hoje deveria ser o início de um novo capítulo. Agora, parecia que o futuro que imaginei evaporava diante dos meus olhos, deixando apenas um vazio esmagador.

A raiva se enroscava com a decepção em cada célula do meu corpo. "Que merda", foi tudo que consegui murmurar enquanto olhava ao redor. Casais felizes passeavam pelo convés, suas risadas e brindes se transformando em uma afronta cruel à minha solidão recém-descoberta.

Sem saber o que fazer, fui até o bar. Pedi um shot. Depois, outro. E mais um. Logo vieram os drinks, as cervejas, e eu mergulhei na embriaguez que prometia me entorpecer, me afastar da dor. Cada gole queimava, amargo, mas eu insistia. Queria esquecer, apagar tudo. Queria não sentir.

Quando voltei para o quarto, o álcool já tinha tomado conta. Meus passos eram desajeitados, e as vozes e risos ao redor eram apenas ecos distantes, risíveis, como se o mundo estivesse me zombando. Entrei no quarto e me joguei na cama, minha mente nublada, o corpo pesado. Joguei os sapatos contra a parede, arranquei a camisa sem cuidado. A calça ficou pelo chão. Fechei os olhos, esperando que o sono viesse rápido, me livrasse de tudo aquilo.

Então, ouvi a porta do quarto se abrir.

Meu coração disparou. Ela voltou

Tinha que ser ela. Talvez tivesse mudado de ideia. Talvez tivesse percebido o que realmente importava, que nosso futuro juntos valia mais do que qualquer papel no balé. Tinha que ser ela, disposta a deixar tudo para trás, disposta a ficar comigo.

Sem pensar, sem hesitar, eu a puxei para perto. O beijo foi feroz, desesperado, como se eu estivesse tentando me agarrar a algo que conhecia, como se o simples fato de tê-la ali pudesse consertar tudo. O gosto familiar dela invadiu meus sentidos, e eu murmurei que sentia sua falta, que tudo ficaria bem agora.

Mas quando abri os olhos, percebi que algo estava errado.

Quem estava ali, nos meus braços, não era ela.

E então, a escuridão tomou conta.

Imprevisto a DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora