Capítulo 12

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Emma

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— Oi, Gustavo. — respondi, tentando esconder a inquietação na minha voz.

Ele era um dos meus antigos colegas de trabalho, alguém com quem eu sempre mantive uma relação profissional cordial, mas ao mesmo tempo tinha uma amizade sincera. Não era raro ele me ligar para saber como eu estava, mesmo depois de eu ter saído da empresa.

— Emma, minha querida, quanto tempo! Como você está? — a voz de Gustavo, sempre calorosa e descontraída, fez meu estômago se apertar um pouco. Ele tinha uma maneira de fazer você se sentir em casa, e, de alguma forma, sua ligação trouxe um pouco de conforto.

— Estou bem, estou me adaptando. — menti, forçando uma leveza na minha resposta. A verdade é que as coisas estavam mais complicadas do que eu deixava transparecer.

Ele riu, claramente sem perceber o quanto minha palavra estava distante de ser verdadeira.

— Adaptando-se? Emma, não me venha com essa história. Já faz um tempo que você saiu e, cá entre nós, você está fazendo falta na empresa. Sei que você sempre foi a pessoa com as respostas, a calma, a visão clara das coisas. A galera lá sente sua falta, sabia?

Eu fechei os olhos por um instante, sentindo a saudade do ambiente de trabalho que eu havia deixado para trás. Eu não gostava de admitir, mas Gustavo estava certo. A ausência daquele lugar, da rotina, da sensação de estar no controle, estava começando a me atingir. E mesmo com tudo o que estava acontecendo agora, com Ethan, com minha vida em transformação, havia uma parte de mim que ainda não conseguia deixar o passado para trás.

— Eu sei... mas agora estou focada em outras coisas. — respondi, tentando desviar da conversa. O que eu queria mesmo era não pensar nisso.

Gustavo pareceu perceber a mudança no meu tom e a suavidade com que eu respondi. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, talvez processando o que estava acontecendo comigo.

— Tudo bem, Emma. Mas, se algum dia você sentir que precisa voltar, ou se qualquer coisa estiver te incomodando... não hesite em me chamar. Eu sei o quanto você é capaz, e eu realmente acho que seu lugar está lá. Você sabe onde está sua verdadeira força, certo?

Eu respirei fundo, sentindo as palavras dele me tocarem mais do que eu gostaria. Ele estava certo, eu sabia. Mas a questão era: o que eu realmente queria agora?

Quando a conversa com Gustavo continuou, percebi que ele, como sempre, sabia exatamente o que perguntar para me fazer sentir confortável — ou, pelo menos, desconfortável de um jeito familiar. Eu sabia que ele nunca perderia uma oportunidade de me provocar de forma sutil.

— Emma, já fez os primeiros exames de pré-natal? — perguntou ele, com aquele tom que mesclava preocupação e curiosidade. — E quanto ao... traste que é o pai do bebê? Ele está te cuidando direitinho ou vai ser mais um daqueles que desaparecem assim que o bebê nascer?

Eu ri, tentando esconder o constrangimento que se formava no meu peito. A forma como Gustavo falava sobre o pai do bebê sempre me fazia sorrir — ele sabia como me tirar do sério com uma risada, mesmo quando o assunto não era dos mais fáceis.

— Ele tem sido uma pessoa boa, na verdade. — respondi, com uma leveza forçada, olhando pela janela enquanto meu olhar vagava sem foco. — Mesmo que, às vezes, ele pareça uma pessoa... ruim.

Gustavo soltou uma risada baixa do outro lado da linha.

— Eu sabia que você diria isso! — ele disse, divertindo-se com a minha tentativa de não falar muito. — A verdade é que você sempre foi boa em ver o lado bom das pessoas, Emma. Não importa o que aconteça, sempre há algo em você que as faz querer ser melhores.

Imprevisto a DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora