Capítulo 16

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Emma

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Eu estava tão imersa no filme que quase não ouvi os passos que se aproximavam. A sala estava envolta em uma tranquilidade que contrastava com tudo o que acontecia ao meu redor, com o brilho da tela iluminando apenas meu rosto e o aconchego da manta envolvendo meu corpo. Por um momento, parecia que eu estava flutuando, desconectada do mundo e de tudo que estava por vir. Eu só queria aproveitar aquele respiro, aquele silêncio.

De repente, uma voz baixa cortou a paz.

— Eu seria muito babaca em pedir para me juntar a você?

Virei o rosto e encontrei Ethan na entrada, parado ali, hesitante, com um sorriso tímido, mas ao mesmo tempo, carregado de algo que eu não sabia identificar. Ele parecia... normal. Quase como um amigo qualquer. E isso me pegou de surpresa, porque, ao olhar para ele, eu só via a confusão, o caos que se formava entre nós, mas ali, naquele momento, ele estava apenas sendo ele mesmo. Eu quase não soube o que dizer, então sorri, incapaz de esconder a leveza que sua presença trazia naquele instante.

— Talvez. — Respondi com um tom brincalhão, fazendo um gesto com a mão para que ele se sentasse. — Fique à vontade.

Ele se acomodou no sofá ao meu lado, e nós assistimos ao filme em silêncio por um tempo. A cada cena, a cada piada, ríamos mais, como se as preocupações do mundo tivessem desaparecido. Era como um pequeno refúgio, onde eu e Ethan podíamos apenas ser duas pessoas se divertindo, sem o peso da realidade. Sua risada era contagiante, um som raro e que eu desejei que durasse mais tempo. Eu me permiti esquecer do que nos aguardava.

Mas, inevitavelmente, minha mente começou a voltar para a ligação desesperada de Elisa. E, como sempre, a curiosidade venceu.

— Ethan... — disse, a voz um pouco mais hesitante, quebrando o silêncio entre nós. — O que foi que a Elisa queria de tão importante? Ela parecia tão... ansiosa.

Ele fez uma pausa antes de responder, pensativo, com um sorriso disfarçado de leveza.

— Ah, era algo sobre uma surpresa pra mim... ou algo assim.

Não pude evitar rir. Só a ideia de uma surpresa me fazia pensar nas coisas mais absurdas.

— Só espero que a surpresa não seja ela voando sei lá quantos quilômetros só para vir até aqui — brinquei, dando uma risada suave.

— Sem chances. Se tem uma coisa que a Elisa faria, seria voar ainda mais pra longe só pra não ter que se arriscar em casar comigo. — Ele sorriu, e nós dois caímos numa risada descontraída. Era como se o tempo tivesse parado ali, e por um momento, eu esqueci de tudo o que estava pesando sobre mim.

Mas a campainha, como um alerta, quebrou nossa bolha de tranquilidade.

Ethan se levantou, e eu o observei deitado novamente no sofá, o calor da manta me abraçando enquanto ele atravessava a sala. Algo na mudança de seu comportamento me causou um aperto no peito. Meu coração começou a bater mais rápido, como se eu sentisse que algo estava prestes a acontecer. O ambiente pareceu se tornar mais denso, e o simples som dos seus passos ecoando no carpete parecia amplificar a tensão.

Ele foi até a porta, e tudo dentro de mim ficou em suspense. Eu queria ficar ali, invisível, mas uma parte de mim sabia que algo estava prestes a mudar. Eu não sabia o que, mas sentia que era algo grande. Ele se inclinou para abrir a porta, e no exato momento em que o som de sua voz preencheu o ambiente, eu congelei.

— Elisa?

Eu não sabia como reagir. A sensação de um frio percorrendo minha espinha foi instantânea. Meus pensamentos pararam. Meu estômago se revirou, e uma onda de desconforto tomou conta de mim, pesada e silenciosa. O filme, os risos, tudo desapareceu. Só existia aquele nome no ar, e eu sabia, sem precisar ver mais nada, que aquela era uma virada inesperada.

Imprevisto a DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora