CAPÍTULO 18

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Emma

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O relógio marcava seis horas da manhã quando abri os olhos, e o primeiro gesto instintivo foi olhar para o lado da cama. O espaço vazio ao meu lado era quase palpável, uma solidão inesperada que me envolvia. Ethan nunca esteve ali comigo, e talvez nunca estivesse. Nós nunca fomos reais. Apenas uma ilusão cuidadosamente construída com as regras de um contrato, e eu, presa a esse acordo, sempre me perguntava se seria possível existir algo mais entre nós. Mas hoje, no silêncio da manhã, percebi que não havia resposta.

Com um suspiro, peguei meu celular e, ao digitar a mensagem, tentei manter o tom indiferente, como se tudo estivesse bem, como se aquela rotina fosse natural:

"Tenho um compromisso de última hora, mas nos encontramos na casa dos seus pais. Vá na frente que eu chego em breve."

Apertei "enviar", e fiquei encarando a tela do celular por um momento. Algo dentro de mim parecia estar mudando, ou talvez fosse apenas a saudade do que nunca foi. Estar perto dele, mesmo com todos os limites que impunha a nosso relacionamento, às vezes me fazia questionar se seria possível algo mais, algo real. Mas logo espantei esses pensamentos. Sabia que para Ethan, aquilo tudo não passava de uma formalidade. Aquelas pequenas tentações de querer mais só trariam complicações.

Levantei-me devagar, sentindo o peso de uma escolha iminente. Não sabia bem o que procurava, mas decidi me arrumar com cuidado, como se estivesse indo a um encontro, como se, em algum lugar no fundo de mim, houvesse um desejo de agradar — não a Ethan, mas a mim mesma. Escolhi um vestido simples, mas que trazia uma sensação de elegância silenciosa, e finalizei a maquiagem com um toque suave. Olhei para o reflexo no espelho, e uma expressão determinada apareceu no meu rosto. Talvez eu estivesse me preparando para algo maior, algo inesperado.

Ao sair de casa, passei pela rua tranquila da cidade, onde a familiaridade das lojas me acolhia. As pequenas vitrines pareciam prometer algo simples e acolhedor. Uma delas, a que sempre visitava, chamava minha atenção. A loja, com prateleiras de madeira cuidadosamente arrumadas e o perfume suave do café fresco misturado a especiarias, trazia uma sensação de nostalgia que eu tanto desejava. Era o lugar perfeito para encontrar um presente para a família de Ethan — algo mais pessoal, mais significativo. Era a primeira vez que pensava em fazer esse gesto, como se, de alguma forma, pertencesse ao mundo dele.

Enquanto deslizava os dedos ao longo das bordas delicadas de um conjunto de xícaras de porcelana, um rapaz parou ao meu lado. Seu olhar era intrigante, e ao me perceber, ele sorriu de maneira leve, quase enigmática, antes de falar com uma voz suave e descontraída:

— Parece que temos o mesmo gosto — disse ele, com uma pitada de humor.

Sorri de volta, sem hesitar. A ironia de sua observação parecia quase natural, e eu, sem pensar muito, respondi com a mesma leveza:

— Devo dizer o mesmo de você.

Ele olhou para o conjunto de porcelanas com um interesse evidente e, para minha surpresa, segurava exatamente o mesmo conjunto que eu estava admirando. A coincidência me fez sorrir mais abertamente, e uma sensação estranha de empatia surgiu. Nunca pensei que algo tão simples, como a escolha de um conjunto de xícaras, pudesse nos conectar de maneira tão inesperada.

O rapaz parecia querer continuar a conversa, seu entusiasmo por porcelanas transformando a troca em uma série de informações detalhadas sobre a arte e a história por trás de cada peça. Ele falava com uma paixão genuína, explicando os padrões delicados, a origem dos designs, as diferenças entre as porcelanas de diversos países.

— Eu sempre me encanto com o cuidado que colocam nas peças antigas — disse ele, ainda com os olhos fixos na porcelana, como se estivesse compartilhando um segredo. — Não é todo dia que encontramos alguém com o mesmo apreço pela arte da porcelana, não é?

Imprevisto a DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora