🛟 Capítulo 38 🛟 Esperança

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Giovanna:

- Pronto. Tenta descansar. - Isaque falou ao terminar de medir minha pressão e me dar um calmante.

- Vai ser impossível. - murmurei.

Minha garganta doía pelo tanto que eu tinha chorado. Tudo à minha volta parecia um borrão porque minha atenção só estava voltada para o Renato.

Aquela sensação de pânico, medo e vazio me envolve mais uma vez. Foi assustador vê-lo daquele jeito. O homem forte, destemido, bem-humorado que sempre me fazia rir, estava lutando pra fazer algo simples: respirar.

Até agora não sei quem chamou o helicóptero, o avião e a equipe do comandante Santiago. Só sei que isso foi fundamental para o resgate dele.

Isaque tentou me explicar a situação e, ao que tudo indica, Renato foi levado para a UTI por causa da hipóxia, que é quando o oxigênio não chega aos pulmões. A inalação de fumaça provavelmente fez com que as vias áreas fossem corrompidas e podem desencadear uma série de problemas.

Tudo foi tão rápido e urgente que eu não pude ir com ele. Queria estar ao seu lado, segurando sua mão, dizendo que vai ficar tudo bem mesmo que estivesse inconsciente.

Guardo na memória nossa última interação; o beijo na testa, o sorriso e a forma carinhosa que ele me chamou de "linda"... Não. Não pode ser agora. As lágrimas empoçaram meus olhos novamente como demonstração do medo que me atormentava.

- Escuta, Giovanna. Pelo pouco que eu conheço do Renato, ele parece ser um cara muito forte, vai passar por isso.

- Ele é forte sim, mas... - passo a mão pelo rosto secando as lágrimas.

- Sem mais, ok? - Isaque chega perto da maca onde eu estava. - Você precisa manter o pensamento positivo, confiando que Deus vai fazer o melhor pra ele.

Enrijeci. Meus lábios se comprimiram numa expressão dura e incrédula.

- A última vez que Deus fez o "melhor", eu perdi meu irmão. - falei rápido e cheia de amargura.

Isaque ergueu as sobrancelhas, assustado com a minha sinceridade. Sua boca se abre por uns instantes e se fecha lentamente. Ele tira o jaleco, pendura-o num gancho e senta-se frente a mim, mantendo o olhar reflexivo.

- Quer desabafar?

Respirei fundo e assenti, querendo colocar pra fora o que eu sentia.

- Só é difícil entender, Isaque. Tantas coisas ficaram sem respostas desde que o Heitor se foi... Perdi o sentido, o rumo e minha confiança Nele se abalou. - fiz uma pausa, organizando os pensamentos. Minha voz era baixa e calma, mas minhas palavras eram ríspidas e dolorosas como os espinhos de uma rosa. - Parece que eu não sei mais quem é Deus e Ele parece ter se esquecido mim. E agora... Parece estar se esquecendo do Renato também.

Deixo os ombros caírem com o alívio da tensão. Por mais que meu coração estivesse palpitando rapidamente, me senti menos pior em ter colocado pra fora. Principalmente com alguém que não conhece a "antiga Giovanna", como é o caso da dona Célia ou do Cléber.

Talvez ele ache que eu seja uma pessoa horrível, talvez diga que entende ou apenas vai dizer: "Que Deus conforte seu coração".

Ergui o olhar para Isaque, que agora estava de braços cruzados olhando para o chão. Fiquei tão apreensiva esperando ouvi-lo que comecei a quebrar o copo de plástico que estava comigo.

A apreensão se transformou em irritação quando Isaque começou a cantarolar uma melodia que era bem familiar pra mim, ignorando meu desabafo. Mesmo com o calmante pesando minhas pálpebras, isso não foi suficiente pra mudar a expressão confusa e revoltada que se formou no meu rosto.

O Poder de um Resgate 🛟 - Romance cristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora